Delegado agonizou por 20 minutos até ser socorrido por PMs, diz testemunha

CORREIO teve acesso ao depoimento do investigador que estava com a vítima

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  • Da Redação

Publicado em 1 de maio de 2019 às 19:47

- Atualizado há um ano

. Crédito: Reprodução

Antes de ser socorrido para o Hospital Base de Itabuna, o delegado José Carlos Mastique agonizou durante vinte minutos no chão. Essa é a versão contada em depoimento pelo investigador da Polícia Civil José Jorge Figueiredo dos Santos, que estava com o delegado quando ele foi morto por policiais militares que estavam fora de serviço no último domingo (28) em Itabuna, no Sul da Bahia.

Os PMs foram identificados como soldado Sérgio Rocha Moreira e cabo Cleomario de Jesus Figueiredo, ambos lotados no 15º Batalhão de Polícia Militar (15º BPM/Itabuna), e foram presos nessa terça-feira (30). Delegado foi morto com um tiro no peito (Foto: Reprodução) José Jorge, que é lotado na 13ª Delegacia (Cajazeiras), foi convocado para ir a Itabuna pelo delegado Mastique, também de Cajazeiras, porque ele estava operado e não poderia dirigir até a cidade.

O CORREIO teve acesso a informações do Termo de Depoimento de Testemunha de José Jorge, registrado na 6ª Coordenadoria de Polícia do Interior (6ª Coorpin/Itabuna), que investiga o caso. No documento, o policial conta que ele e o delegado morto foram a um posto de gasolina para comprar cigarros.

José Jorge deu a mesma versão do Sindicato dos Policiais Civis (Sindipoc) de que uma mulher estava sendo agredida por um homem que, depois, eles descobriram ser policial militar.

O investigador afirmou que ele e Mastique tentaram intervir na briga e chamaram uma viatura da PM que, ao chegar no local, apoiou os policiais militares. "Chegou uma viatura com dois policiais e doutor Mastique, ao perceber a chegada da viatura, se identificou como delegado, mostrando a carteira funcional em uma das mãos. Eu acredito que, ao identificar que a outra parte se tratava de um policial militar, os policiais que ali chegaram passaram a ter uma postura diferente, mandando que tanto eu quanto o doutor Mastique deitássemos ao chão, mas nós recusamos", contou José Jorge durante o depoimento.

Ainda segundo o policial civil de Cajazeiras, Mastique dizia diversas vezes que era delegado e, mesmo assim, um dos policiais militares retirou da cintura uma das armas e disparou contra ele, que foi atingido do lado esquerdo do peito.

"Fui até onde ele estava e vi que ele estava ferido. Olhei a pulsação e solicitei que dessem socorro a ele e lhes disse: 'Olha a merda que vocês fizeram, atiraram em um delegado' e eles mandaram que eu me deitasse ao chão. Eu, sem alternativa, me deitei", afirmou o investigador. 

Após o tiro, ainda segundo o depoimento, o delegado ficou no chão, sem socorro. Durante esse tempo, os policiais mandaram José Carlos entregar a arma. "Eu não entreguei a arma para eles porque tive medo que eles atirassem em mim também. Eu solicitava que eles dessem socorro ao delegado e eles me deram voz de prisão. Eles não trouxeram para a delegacia nenhuma pessoa que estava no local e que presenciaram tudo", relatou.

O socorro só foi prestado quando um tenente da PM chegou ao local do crime. Ele colocou o corpo do delegado na parte de trás da viatura e levou ao hospital, onde foi constatada a morte.

Versão da PM Já a versão do 15º BPM diz que, antes do crime, o delegado estava com o carro estacionado no Posto Jequitibá. Um morador que passou pelo local, por volta das 4h, estranhou o carro parado e viu que havia um homem armado no veículo.

A testemunha teria entrado em contato com a PM informando que suspeitava de que ocorreria um assalto no posto. A PM informou que esteve no local, notou que o suspeito estava “alterado” e que sacou a arma, sem se identificar como delegado. Foi quando ele teria levado o tiro no peito.

O caso é investigado pela 6ª Coorpin, com apoio da Corregedoria-geral da Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA). 

O corpo de José Carlos foi enterrado nesta segunda-feira (29). O enterro ocorreu no Cemitério do Campo Santo, no bairro do Pontalzinho, na própria cidade itabunense. O delegado, que estava há 15 anos na Polícia Civil, era casado e deixa um filho.