Desfile do Instituto Oyá celebra a moda produzida por alunos de comunidades periféricas

A coleção "Transformação" mostrou diversidade de cores, estampas e elementos voltados para cultura afro

Publicado em 19 de dezembro de 2021 às 11:25

- Atualizado há 10 meses

. Crédito: Foto: Lucas Assis @assislucas /Divulgação

Iluminados pelo sol do fim de tarde, caminhando pela passarela com vista para Baía de Todos os Santos, cerca de 30 modelos desfilaram, neste sábado (18), apresentando peças que traziam em si a essência das águas da Bahia e das vivências e raízes ancestrais dos seus criadores, alunos do curso de Moda, Modelagem e Corte & Costura, do Instituto Oyá, localizado no bairro de Pirajá. 

O Cortejo Afro abriu o evento com uma apresentação e logo depois as peças foram apresentadas ao público. A coleção "Transformação" mostrou uma diversidade de cores, estampas e elementos voltados para cultura afro e que fazem referência à sua ligação com as águas dos rios e mares que entrecruzam a Bahia, como redes de pesca e búzios e chapéu de palha. Orientados por um time de professores e mentores, os alunos criaram desde os desenhos, até a modelagem, costura, bordado e estamparia. Entre os espectadores, presenças ilustres como as de Marcelo Rosenbaum e Maitê Proença.

Todo o processo criativo foi construído por uma turma de 70 alunos, composta por diversas faixas etárias - de 17 a 70 anos – e diferentes formações e vivências. "Tivemos uma turma bastante heterogênea, mas que entrou em sintonia. Esse é um momento de celebração da vida, de organização periférica, de mostrar para sociedade que muitas vezes nos invisibiliza, a nossa criação e ocupar o protagonismo em espaços como esse", afirma a Ialorixá e gestora do Instituto Oyá, Nívia Luz.

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Nívia ressalta ainda o papel do Instituto Oyá em transformar vidas, contribuir para inserção no mercado de trabalho e fomento da economia criativa em comunidades periféricas. "É também um momento de valorizar as mulheres pretas que normalmente estão por trás na confecção e costura dos grandes estilistas e produtores de moda, de legitimar profissões que não são reconhecidas e de ressaltar esses corpos negros e suas histórias na passarela", destaca Níva. 

Para Giovanni Bianco que fez a curadoria do desfile, colaborar com o processo foi também um aprendizado em ouvir tantas histórias e presenciar a capacidade criativa desses jovens e adultos. "Todo o projeto Transformação foi muito lindo e emocionante, mesmo em 34 anos de experiência aprendi com gestos e lições de cada um ali. O trabalho do Insittuto Oyá é extraordinário e mostra como precisamos nos ajudar e não ficar só esperando por ações do governo".

A coleção "Transformação" foi desenvolvida por oito meses com orientação de quatro professoras especialistas: Ana Paula Tadeu e Leila Saron, mentoras no processo de modelagem e corte e costura; e dos estilistas Carolina Gold e Cid Brito. O curso contou ainda com palestrantes convidados, entre eles, o artista da beleza Ricardo dos Anjos; o diretor criativo do Oyá, Alberto Pitta, considerado um dos mais importantes artistas plásticos na criação do que hoje se conhece por estampas afro-baianas e a curadoria de Bianco.