Despencou: cobertura vacinal de crianças cai 47% na Bahia

Doses protegem contra poliomielite, meningite e tuberculose; saiba como atualizar o esquema vacinal

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  • Da Redação

Publicado em 30 de março de 2022 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Marina Silva/CORREIO

Desde os primeiros meses de vida, bebês devem cumprir o calendário vacinal tomando os imunizantes recomendados. Apesar da informação não ser novidade, a cobertura vacinal na Bahia está em queda, um dado que causa espanto nos especialistas em saúde. Pelo menos nove das 14 vacinas de rotina até os 4 anos estão em redução do número de doses aplicadas quando se observa os números desde 2015 - primeiro ano da série histórica – até 2021. As doses atrasadas representam 64% do total que deveria ser aplicado. A BCG, que protege contra a tuberculose, é a que mais teve diminuição na adesão, com um declínio de 47%.

A BCG é de aplicação única e é recomendada a partir do nascimento até os 5 anos de idade. Enquanto que em 2015 a cobertura vacinal era de 102%, ou seja, maior do que a quantidade de crianças que deveriam ser imunizadas no estado, nos últimos seis anos vem ocorrendo uma queda progressiva. Em 2021, a cobertura estava em 55%, segundo dados da Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab).  

O pediatra e imunologista Celso Sant’Anna explica que o risco da baixa adesão às vacinas é que doenças até então controladas no país podem voltar a ser preocupações sanitárias. No caso da BCG, apesar da vacina não proteger contra a infecção pela tuberculose, impede que casos graves se desenvolvam.

A segunda vacina com maior queda na adesão no estado é a hepatite A. Sua diminuição foi de 41% em seis anos, chegando à cobertura vacinal de 53% do público-alvo no ano passado. “Quando o esquema vacinal não é obedecido, as doenças passam a ocorrer com reflexos dramáticos para as crianças. A coqueluche, por exemplo, tem casos gravíssimos com sequelas, quando não óbito de crianças não vacinadas. A poliomielite já foi uma tragédia, mas pode voltar a ressurgir em função dos baixos índices”, diz o médico. O fantasma da paralisia

No caso da poliomielite, a recomendação das autoridades sanitárias é que o esquema vacinal inicie nas crianças a partir dos dois meses de vida. A doença é grave e, após a entrada do vírus no organismo, ele ataca o sistema nervoso, onde degrada os neurônios motores. O contágio pode causar paralisia e óbito. No estado, a cobertura vacinal caiu de 95% para 57% em seis anos, o que corresponde a uma redução de 28 pontos percentuais.  

Uma jovem que preferiu não se identificar, conta que travou uma batalha contra o pai e a então madrasta, quando a mãe do seu irmão mais novo, de apenas 7 anos, não quis completar o esquema vacinal do filho. Até outubro de 2021, o menino não tinha tomado vacinas contra a meningite, poliomielite e pneumonia. A jovem acredita que um conjunto de fatores fizeram com que a ex-madrasta cedesse à vacinação.  

“A pandemia mudou o pensamento dela sobre vacina porque ela viu como as vacinas são importantes e salvam vidas. Da mesma forma que você corre risco com a covi-19 se não se vacinar, também corre risco com a poliomielite”, afirma.

Os outros imunizantes em queda na cobertura vacinal são: meningocócica C (-35%), febre amarela (-33%), pentavalente (-32%), rotavírus (-31%), pneumocócica (-30%) e tríplice viral (-29%). A vacina penta é indicada para prevenção de difteria, tétano e coqueluche, enquanto a tríplice protege da caxumba [a popular papeira], sarampo e rubéola.   

Para Vânia Rebouças, coordenadora de Imunizações e Vigilância Epidemiológica das Doenças Imunopreveníveis da Bahia, as vacinas estão sendo vítimas do próprio sucesso. “Existe uma falsa percepção de parte da população de que não teria risco em relação a essas doenças por elas estarem controladas no território. Mas elas estão controladas por conta do êxito que tivemos das coberturas vacinais anteriores”, explica. 

Segundo a coordenadora, a Sesab tem apostado em uma maior comunicação com os pais e responsáveis, através de campanhas de divulgação, para evitar falsas informações sobre as vacinas. A pediatra Verônica Esteves Reis reforça que a imunização é um ato de importância coletiva: “As vacinas têm importância na prevenção individual, assim como ajudam toda a comunidade a reduzir riscos de doenças, hospitalizações e gastos com medicamentos”.  

Victória Emili Lopes, 21, não perdeu tempo para vacinar a filha Maria Alice, 3. Segundo a operadora de caixa, levar as crianças para se imunizarem é essencial, uma vez que elas não possuem plano de saúde e dependem do Sistema Único de Saúde (SUS).“Acho falta de responsabilidade quem não vacina os filhos, porque mesmo se a pessoa não puder ir, pode mandar algum outro parente levar a crianças”, afirma Victória.  Victória Emili vacinou a filha Maria Alice com todas as doses necessárias até 3 anos de idade (Foto: Acervo Pessoal) Calendário em atraso

Quem estiver com déficit no esquema de vacinação deve ser levado o mais rápido possível para uma unidade de saúde. Como cada caso possui características específicas, o profissional do posto irá avaliar a melhor forma de prossegui com o calendário.  

O médico Renato Kfouri, presidente do Departamento Científico de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria, alerta que algumas vacinas possuem idade máxima para serem aplicadas, por isso é importante regularizar o esquema vacinal o mais rápido possível. 

“É muito importante recuperar, principalmente neste momento de pandemia, quando muitas dessas coberturas ficaram aquém do desejado. Quem perceber que há atraso, deve regularizar o mais rápido possível”, afirma.  

A vacina do rotavírus, por exemplo, deve ser aplicada pela primeira vez até os três meses e 15 dias de vida, obrigatoriamente. Enquanto que a última dose deve ser até os sete meses e 29 dias, como explica a pediatra Verônica Reis. “Essa vacina é contra indicada após essa faixa etária e os atrasos podem comprometer a eficácia das vacinas”, diz.

*Com a orientação da subeditora Fernanda Varela.