Deus é mulher

Por Aninha Franco

  • D
  • Da Redação

Publicado em 28 de julho de 2018 às 05:00

- Atualizado há um ano

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A Aldeia Global está a todo vapor. É ela. E ponto. Durmo no Brasil e acordo na Aldeia podendo saber, se quiser, o que minha amiga degustou na primeira colacione na Itália, ou se o meu amigo de NY já descobriu que a ditadura cubana aboliu o vocábulo “comunismo” de sua Constituição e devolveu a propriedade privada ao cotidiano da ilha. “Toda propriedade privada é roubo”, os anarquistas sabem e repetem, mas não por acaso existem poucos anarquistas na Aldeia onde poucos sabem o que é um anarquista. Contudo, eles persistem. É lógico que cada território da grande Aldeia que é, hoje, o Planeta Terra prioriza as notícias de sua própria aldeia, e aí começa o trabalho insano dos brasileiros interessados no Brasil, que devem separar o joio do trigo, as fake news das reality news, porque elas se assemelham tanto quanto “os esquerdas” e “os direitas” do país que acham que Bolsonaro e Alckmin são direita e Lula e Ciro são esquerda. A idiotia é confusa. E messiânica. Na prisão por corrupção ou ensinando crianças a atirar, Lula, Bolsonaro e seus seguidores, como Antônio Conselheiro que prometia montanhas de pão e rios de leite ao seu séquito de 20 mil, prometem fazer do Brasil uma república democrática. Os seguidores de Bolsonaro ignoram sua atuação legislativa e acreditam que ele pode deslanchar na Presidência. E os seguidores de Lula creem que ele ignorava o que acontecia na Petrobras, que ele foi ingênuo e se deixou enganar quando se cercou do que há de mais execrável na política brasileira, que elegeu Dilma e que, com o Ministério do Marketing, montou um país que a Lava Jato só faz desmontar. Passadas as horas difíceis de entendimento e separação das fakes news e realitys news, horas realmente difíceis, porque é complicado acreditar que o “pensador” do Centrão é Valdemar Costa Neto, o condenado no Mensalão, o personagem do Petrolão, que, dizem, tem como guia Lula da Silva, ainda que as fontes sejam seguras, porque essa notícia não parece fake ou reality, parece policial fiction, um gênero em que políticos brasileiros são tão originais e criativos que, se quisessem usá-los em prol do Brasil, fariam dele uma potência em pouco tempo.Somos nós que estamos nessa guerra civil oral, gastando litros de saliva para defender canalhicesMas eles não sabem e, sobretudo, não querem, e somos nós que estamos nessa guerra civil oral, gastando litros de saliva para defender canalhices, que podemos alterar as regras do jogo, como propõe a poesia de Douglas Germano na Voz, cada dia mais jovem, de Elza Soares: “Mil nações moldaram minha cara, Minha voz uso pra dizer o que se cala. Ser feliz no vão, no triz, é força que me embala, O meu país é meu lugar de fala. Pra que explorar? Pra que destruir? Por que obrigar? Por que coagir? Pra que abusar? Pra que iludir? E violentar, pra nos oprimir? Pra que sujar o chão da própria sala? (…) O meu país é meu lugar de fala”. Sim, este país sedutor e imundo que tantos estão abandonando porque não acreditam mais em limpeza é o meu lugar de fala! Deus é mulher e eu sou brasileira! Viva o Brasil!

Aninha Franco é escritora e pensadora