Diretor do Hospital Espanhol nega contabilização indevida de mortes por covid-19

Mortes ficam como suspeita até exame ficar pronto; elas não entram em conta

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  • Da Redação

Publicado em 12 de junho de 2020 às 14:13

- Atualizado há um ano

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Diretor médico do Hospital Espanhol, Roberto Badaró publicou uma carta na noite da quinta-feira (11) negando que a unidade médica classifique indevidamente os óbitos de pacientes como sendo por covid-19. Uma fala dele nesse sentido viralizou nos últimos dias e tem sido usada até por políticos que minimizam o tamanho da pandemia no estado. A fala foi usada pelo ex-deputado Roberto Jefferson, um dos investigados da operação contra fake news do Supremo Tribunal Federal (STF), para questionar dados sobre a covid-19.

Segundo Badaró, todas as mortes que acontecem no hospital são avaliadas pela coordenação médica. Ele explica que alguns pacientes recebem atestado com suspeita de covid-19 porque os exames ainda não ficaram prontos. A confirmação só é incluída nos dados após o resultado laboratorial.

"Se o óbito ocorre é obrigação da unidade hospitalar que emite a Declaração de Óbito (DO) colocar a causa corrigida e não continuar com a suspeita diagnóstica da chegada. Na eventualidade de um óbito ocorrer antes do resultado laboratorial, a DO sairá como “suspeita de Covid-19” e pode ser corrigida postmortem pela autoridade sanitária estadual", explica.

Ele destaca ainda que as mortes suspeitas não são contabilizadas como certas. "Neste cenário, cabe registrar que a Vigilância Epidemiológica, de modo assertivo, só contabiliza as declarações de óbito classificadas como casos suspeitos de coronavírus após investigação e/ou resultado laboratorial confirmatório”, escreve.

O diretor explica ainda que durante a pandemia o diagnóstico clínico - aquele é feito pelos médicos antes da confirmação laboratorial - é importante para não deixar casos graves sem atendimento adequado. "Não fosse assim, centenas de pessoas permaneceriam nas UPAs por vários dias, em condições inadequadas de tratamento", diz, explicando porque não se aguarda a confirmação do diagnóstico da covid-19 para admissão no Hospital Espanhol.

Badaró detalha que cabe ao hospital de referência receber e encaminhar bem os pacientes, mesmo os sem diagnósticos confirmados, enquanto se aguardam os resultados do Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen-BA). "Todos os pacientes que recebem diagnóstico negativo para coronavírus são contra-referenciados para outras unidades públicas de saúde e serão transferidos”, diz.

Clique e leia a carta na íntegra

Processo Essa semana, o médico infectologista ó afirmou que teve sua imagem utilizada indevidamente pelo vereador Cezar Leite após uma entrevista concedida para a rádio Metrópole. Em ofício enviado ao vereador pedindo a retirada de sua imagem, Badaró diz que já acionou sua equipe jurídica e que irá tomar providências imediatas. Na entrevista, o especialista afirmou que 40% dos doentes atendidos no Hospital Espanhol não têm covid-19 e, se morre, é colocado no atestado de óbito como suspeita de infecção por coronavírus.   A declaração foi usada pelo vereador nas redes sociais com uma imagem do médico. Badaró pediu que seja excluída "qualquer divulgação panfletária e de conotação política, em que conste minha fotografia". "Advirto-lhe, por fim, que já acionei minha assessoria jurídica, para que adote imediatas providências, inclusive judiciais, a fim de que o ilícito praticado por vossa excelência seja alvo de investigação, estancamento imediato e reparação proporcional, na forma da lei", afirmou.

Já nesta sexta-feira (12), o ex-deputado Roberto Jefferson tuitou: "O diretor do maior centro de referência em tratamento de coronavírus na Bahia, o infectologista Roberto Badaró afirmou que 40% dos óbitos registrados no Hospital Espanhol como covid-19 são decorrentes de outras enfermidades. E assim acontece Brasil afora".