Do Bonfim aos cultos: domingo de fé tem até fiel ‘fura fila’ e espera para entrar nos templos

Na Basílica do Senhor do Bonfim fiéis assistiam à missa do lado de fora

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  • Marcela Vilar

Publicado em 2 de agosto de 2020 às 14:22

- Atualizado há um ano

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. por Foto: Nara Gentil/CORREIO

Janela e porta abertas, máscara obrigatória, sem Bíblia na mão e, para entrar, só depois de medir a temperatura e higienizar as mãos. Esse foi o segundo domingo de missa presencial na capital baiana após o início da primeira fase da retomada, que começou na sexta-feira da semana passada (24) e permitiu que templos religiosos voltassem às atividades. Mas, claro, tudo com rígidos protocolos. O CORREIO esteve na Basílica do Senhor do Bonfim e na Igreja Mundial do Poder de Deus, na avenida ACM.   Teve de tudo: frequentadores assíduos, gente que nunca tinha ido à igreja, gente que não conseguiu entrar por conta do limite de espaço e assistiu à missa do lado de fora e até uns espertinhos furando fila, como foi visto na do Senhor do Bonfim. Sandra Helena, que frequenta a igreja desde criança com a mãe e a avó, aproveitou para comemorar, dessa vez sozinha, seu aniversário de 53 anos. “Pedi saúde, paz e que essa doença vá logo embora para gente voltar nossas atividades”, disse. Ela não conseguiu entrar para a missa de 7h30 - pois só 50 pessoas  podem entrar por vez na basílica, além de 60 que podem ficar nas cadeiras espalhadas na varanda - mas assistiu tudo do lado de fora.   

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Para assistir à missa de 9h, Ana Cláudia da Silva chegou no Bonfim às 7h30. Moradora de Valença, ela veio à igreja pela primeira vez, acompanhada da irmã, Ana Alice, e da sobrinha, Rafaela. Como são da mesma família, elas sentam no mesmo banco, afastadas, como orientou o funcionário Wladmir Sobreira, que media a temperatura na entrada. “Vim agradecer, porque nessa vida a gente tem que agradecer mais do que pedir”, explicou Ana Cláudia, que também tem o hábito de frequentar espaços religiosos desde criança.    A autônoma Cátia Menezes, que vem sempre com a mãe Luciana às missas, reclamava dos que queriam passar na sua frente na fila. Ela veio do bairro de São Caetano e chegou ali 7h30. “Tem que ter respeito. O pessoal chegou nestante e já tá lá frente”, queixou-se. Depois da aporrinhação, ela contou que sentiu falta da igreja, pois vinha assistindo pelo Youtube, e concorda com todos os protocolos. “O distanciamento é para o nosso próprio bem. Se encher demais, como a gente não sabe quem tá infectado, porque às vezes a pessoa não tem sintoma, contamina quem tá do lado”, observou Cátia.

A atendente de telemarketing Cristiane Ramos esperou ansiosa o dia que pudesse voltar ao Bonfim, que frequenta há dois anos, por causa da promessa que ela fez pelo neto. "Fiz uma promessa que não deu certo ainda para o meu neto. Já pedi várias vezes ao Senhor do Bonfim e ele me ajudou", esclarece Cristiane, que assistia do lado de fora, por não ter conseguido entrar. Durante esses meses, ela acompanhava missas pelo rádio.    Na avenida ACM, os devotos da igreja Mundial do Poder de Deus tinham que manter distância de pelo menos duas cadeiras, que estavam bloqueadas por fita adesiva. As portas e janelas estavam todas abertas para ventilar o espaço, que chega a abrigar 1500 pessoas em tempos normais. O limite máximo agora, de acordo com o pastor Natan, é de 270 cadeiras. Eles permitem ainda que cada um traga sua própria Bíblia, mas não dão nenhum folheto. “A gente não entrega nada e ninguém manuseia nada entre eles”, disse o pastor. Se algum fiel precisar de máscara, elas são disponibilizadas gratuitamente, pois nada é comercializado na igreja. Aos domingos, único dia em que os templos podem ficar abertos o dia inteiro, são feitas quatro reuniões: às 7h, 10h, 15h e 18h. 

Missa pelo Facebook   Apesar de algumas missas voltarem a ser presenciais, a orientação ainda é ficar em casa. “O melhor para vocês é ficar em casa, acompanhar às missas pelo Facebook, Webtv e TVs católicas. A pandemia continua e temos que ter cuidado pra não ter a segunda onda”, eram as palavras do padre ouvidas da área externa da igreja Senhor do Bonfim. Segundo o reitor da basílica, padre Edson Menezes, a mensagem é proferida ao final de todas as missas. “Estamos aconselhando todos os dias. Pedimos que as pessoas, principalmente idosas, acompanhem pelas redes sociais ou procurem vir durante a semana, que tem menos movimento”, explicou Padre Edson.    As transmissões acontecem há mais de cinco anos, mas nunca com tanto público: a média, antes de 100 a 150, é de 600 a 700 visualizações agora com a pandemia. “Acredito que daqui para frente o virtual vai ganhar mais adesão”, avaliou padre Edson. Até vela virtual de sete dias tem como acender pelo site, com nome e tudo. 

O movimento, assim como as doações, reduziu. Segundo o reitor, são poucos turistas que visitam a basílica e os fiéis não estão vindo na proporção de antes, que chegava a ser de mil pessoas por missa. A máscara, que é obrigatória para entrar, é vendida por 7 e 15 reais, a depender da personalização. Todos os dez funcionários que trabalham na igreja foram treinados para aplicar os protocolos, além dos três voluntários que organizam as filas. O museu permanece fechado para visitação e a sala dos milagres, que passa por uma requalificação, deve abrir na próxima semana. 

Regras da Prefeitura para igrejas e templos religiosos: poderão funcionar sempre de segunda a sábado, das 10h às 20h, e domingo sem restrição de horário; com até 20% da capacidade do salão ou 50 pessoas, o que for maior; proibição de aulas e reuniões; e fechamento de espaços para crianças. Além disso, o uso de máscaras nesses espaços, que antes era uma recomendação, agora é obrigatório.

Confira abaixo o protocolo completo da igreja do Senhor do Bonfim: - O acesso dos fiéis, turistas, voluntários e prestadores de serviços para o interior da Basílica e para suas dependências será por locais diferenciados, controlado e com o uso obrigatório de máscaras, a higienização das mãos e a medição da temperatura; - Para participação nas missas, rezar diante da imagem do Senhor do Bonfim ou visitar a nave central, o acesso será pela porta principal da frente e a saída pelas duas portas que estão ao lado da porta principal, seguindo os dois portões à direita e à esquerda do adro; - Para visitar a sala das promessas e para fazer confissões, o acesso será pela porta do lado direito; - Para marcar missas, batizados, obter informações no atendimento, prestar serviços voluntários, adquirir água para benzer, entregar mercadorias ou doações e contribuições, o acesso será pela porta do lado esquerdo; - Todos os acessos à igreja estarão sinalizados, indicando entradas e saídas para os diversos espaços internos. Em todas as áreas de circulação e no piso terão sinalizações para delimitar a distância entre as pessoas e para evitar aglomeração. Os espaços internos estarão delimitados com balizadores para evitar que as pessoas passem de um espaço para outro ou se cruzem; - No horário de funcionamento da igreja, todas as portas e janelas ficarão abertas para favorecer a ventilação; - Na entrada da Basílica e em vários outros locais, serão colocados recipientes de álcool em gel com pedal e tapetes higienizadores nas portas de todas as entradas; - No intervalo de uma missa para outra, os bancos e cadeiras serão higienizados para que outras pessoas possam sentar; - Em cada celebração, só poderão participar em torno de 50 pessoas, distribuídas nos locais demarcados e o acesso dos fiéis para a celebração será por ordem de chegada, tendo prioridade os portadores de necessidades especiais e os idosos; - Havendo missas campais, todos poderão participar livremente, mantendo a distância exigida. Tanto no interior da igreja como na praça pública, “a regra do distanciamento não se aplica a pessoas da mesma família ou que vivam na mesma casa” (CNBB); - Nas portas de entrada da Basílica, ficarão funcionários e/ou voluntários para acolher, orientar e controlar o acesso dos fiéis, dos turistas e do povo em geral; - A visitação de grupos de turistas à sala das promessas será limitada a 5 pessoas por vez e o acesso à nave central só será permitido nos horários determinados, conforme o funcionamento da igreja; - A bênção dos objetos de devoção de segunda a quinta-feira e sábado será dada no adro da Basílica ou em outro local que seja conveniente. Nos dias de domingo, na primeira sexta-feira e na última de cada mês, em frente à Capela das Velas. A bênção dos veículos deve ser solicitada ao diácono de plantão; - Para evitar acidente, devido ao uso constante de álcool em gel, ficará proibido acender velas na capela das velas. As velas deverão ser deixadas no local para que sejam acesas depois por um funcionário responsável pela capela; - Para as coletas nas missas, os fiéis depositarão a oferta nos cofres que estarão distribuídos no corredor central; - A entrada da imagem do Senhor do Bonfim, no final das missas de sexta-feira e de domingo, continuará acontecendo e os fiéis, antecipadamente, serão orientados pelo padre a não tocar na imagem e a pessoa responsável por conduzi-la deverá usar luvas e máscaras; - O abraço da paz, o aperto de mãos, o ato de levantar as criancinhas após a missa, de chamar os aniversariantes para a frente do altar ou para o presbitério, abençoar fazendo uma cruz na testa das pessoas ou tocar na cabeça e outros gestos de contatos e proximidade entre as pessoas ficarão proibidos; - Serão proibidos o uso e a distribuição de quaisquer impressos e do Jornalzinho “O Domingo”; - A Comunhão será distribuída exclusivamente nas mãos, devendo todos comungar na frente dos ministros; - Os Batizados deverão ser agendados e realizados nos dias e horários determinados (veja horário de funcionamento da igreja); - As confissões acontecerão nos horários determinados e os penitentes serão atendidos por ordem de chegada e aguardarão, mantendo o distanciamento determinado e o uso de máscaras; - As doações de gêneros alimentícios deverão ser entregues diretamente na sede do Projeto Bom Samaritano. Ficará suspenso o recebimento de doações de roupas usadas; - Para entrega de fotos e ex-votos, deverá ser feita diretamente no recipiente próprio; - Por enquanto, ficará suspenso o funcionamento do museu, o serviço de escuta, a novena de N. Sra. do Perpétuo Socorro, a catequese e a oração das 16h.

*Sob orientação do chefe de reportagem Jorge Gauthier