Dulce é pop: 1ª missa para Santa Dulce dos Pobres tem exibição de relíquia

Caridade de Irmã Dulce, agora Santa Dulce dos Pobres, foi destacada pelo arcebispo primaz de Salvador e do Brasil

Publicado em 14 de outubro de 2019 às 12:16

- Atualizado há um ano

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Os olhos da Irmã Josinete Maria Costa estavam marejados. Colocou-se de joelhos diante do altar da Basílica de Sant’Andrea Della Valle, em Roma, na Itália. Diante do relicário franciscano com um fragmento do corpo de Irmã Dulce, o sorriso se abriu. Alisou o quadro com a imagem da fundadora da comunidade congregação Filhas de Maria Serva dos Pobres, que agora é Santa Dulce dos Pobres e pode ser venerada em altares de qualquer parte do mundo. Irmã Josinete se espremeu e disputou espaço com os devotos de Dulce que nesta segunda-feira (14) participaram da primeira missa do mundo em homenagem a freira baiana que neste domingo (13) foi oficializada como santa pelo Vaticano. Sorriu, posou para foto. Garantiu uma recordação.  Irmã Josinete Maria Costa (Foto: Jorge Gauthier/CORREIO) Assim com ela cerca de 900 pessoas estiveram na imponente basílica, fundada no século 17 para acompanhar a cerimônia presidida pelo arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil, dom Murilo Krieger.  “Esse é um momento único e ela é um exemplo de fé e caridade. Agora, é uma santa do mundo todo”, disse orgulhosa a religiosa, que foi seguida no gesto da fotografia com a relíquia de Dulce por dezenas de brasileiros, mas também de estrangeiros.

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"Eu estava na Praça de São Pedro ontem (domingo, 13) e senti uma emoção muito grande quando ouvi falar o nome dela. Soube da missa e vim. Agora, me considero devota de Irmã Dulce”, disse a britânica Lauren Shimidt, que também levou para casa foto com a relíquia de Dulce e também com Maria Rita Lopes Pontes, sobrinha da freira, que é a atual superintendente das Obras Sociais Irmã Dulce (Osid). Mourão, Maria Rita e Helio Vitor Ramos (Foto: Jorge Gauthier/CORREIO) O objetivo agora, segundo Maria Rita, é aproveitar toda visibilidade da canonização de Dulce para melhorar a situação das Osid - inclusive do santuário dedicado à Dulce dos Pobres.

“Temos que pensar agora nos devotos de Dulce. Vamos fazer um plano para ver como podemos melhorar. Já houve um aumento de cinco vezes no número de visitantes do memorial Irmã Dulce. Precisamos melhorar a infraestrutura que existe hoje para que o turista religioso venha conhecer a história de Santa Dulce de uma maneira mais confortável, tanto dentro das Osid, quanto no entorno e, que também, se reflita em benefícios para que a obra deixada por Santa Dulce continue”, pontuou Maria Rita. 

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A auxiliar de enfermagem Marina da Conceição Andrade Silva, que recebeu de Irmã Dulce o pedido para que ela desligasse seus aparelhos um mês antes da sua morte, se emocionou com cada momento desde que chegou na Itália. Ficou impressionada com o lugar onde Dulce foi colocada - no ‘olímpo’ dos santos católicos.

“Ela era muito simples, mas acho que ela ficaria muito emocionada com tanto carinho que ela está recebendo. Essa popularidade toda ia assustar ela, mas o amor que vem junto ia acalmar o coração dela que era uma pessoa muito boa”. Marina estava ao lado de Irmã Dulce na hora da sua morte (Foto: Jorge Gauthier/CORREIO) Caridade A caridade de Irmã Dulce, agora Santa Dulce dos Pobres, foi destacada pelo arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil. "Antes de tudo, ela procurou responder às necessidades imediatas das pessoas. Ela acolheu aquelas pessoas que buscavam necessidade. Ela não buscou desculpas para se omitir. Ela tinha consciência de que a causa mais profunda do sentimento humano é a presença de Deus. Precisamos ter a paz ao nosso redor", disse o arcebispo, que durante a missa escolheu o evangelho do livro de Tobias que fala de como se deve fazer o bem - a essência do trabalho de Dulce. 

Ao contrário da missa de canonização, que foi rezada prioritariamente em latim, a celebração desta segunda foi quase completamente em português. “Assim fica mais fácil acompanhar, mas sabemos que Irmã Dulce é agora do mundo. Ela representa muito para a vida de nós baianos. Ela é fé, caridade, amor e fraternidade”, disse Maria de Fátima Conceição Nunes, aposentada.  Aposentada Maria de Fátima marcou presença na missa (Foto: Jorge Gauthier/CORREIO)

Frei Giovanni Messias, reitor do santuário de Dulce, reforçou que os baianos não precisam ter ciúmes por Dulce não ser mais só da Bahia. “Agora Santa Dulce é uma santa universal. É uma santa do mundo inteiro, assim como os grandes santos. Dulce sendo de todos, ela intercederá por todos nós sobretudo a Bahia”. Frei Giovanni Messias é reitor do santuário de Dulce e está no Vaticano (Foto: Jorge Gauthier/CORREIO) O padre Luís Simões, pároco da igreja da Vitória, em Salvador, acredita que agora haverá um estímulo a mais para viver a fé cristã. “A partir de agora, ela começa a ser mais exaltada e conhecida. Temos que usar isso como exemplo a seguir”, afirmou o padre, que foi para Roma acompanhado de grupo de fiéis da paróquia.  Luís Simões, pároco da igreja da Vitória, em Salvador (Foto: Jorge Gauthier/CORREIO) Ritos  A missa seguiu a ritualística normal das celebrações católicas. No altar foi colocada uma relíquia de primeiro grau de Dulce - um fragmento do seu corpo - em uma estrutura que simboliza os franciscanos, assim como Dulce. A mesa onde foi colocado virou espaço de manifestações de fé. “É uma raridade poder tocar em algo de uma santa”, sinalizou o frade indiano Josh Wathernr, que assistiu a missa. 

A relíquia colocada na Basílica de Sant’Andrea pertence à igreja Santa Maria Della Luce. “Recebemos a relíquia ontem e fizemos a entronização com missa celebrada por dom Mário da Silva Bispo, que é da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil. A relíquia ficará na igreja que integra a comunidade de Nossa Senhora Aparecida em Roma, que fica junto com a missão latino-americana”, explica Hamilton Gomes de Araújo, coordenador da comunidade que teve trabalho para segurar o público - e proteger a relíquia - após o encerramento da missa. “Todo mundo quer tocar”, ressalta. 

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Freira que conviveu com Santa Dulce até sua morte, Irmã Olívia se preocupa com a popularidade excessiva para que não se perca o sentido real da fé . “Eu tenho receio dessa agonia toda porque as pessoas precisam lembrar do principal que é seguir o exemplo dela.Temos que servir muito a Deus, ajudar os nossos irmãos mais necessitados. As pessoas devem procurar mais Deus e não o lado do prazer humano. Temos que procurar Deus em primeiro lugar e caminhar no caminho da santidade”, pondera Irmã Olívia, que esperou pacientemente quase 30 minutos para conseguir fazer uma foto ao lado da relíquia.    Irmã Olívia conviveu com Santa Dulce até sua morte (Foto: Jorge Gauthier/CORREIO) Durante a homilia, onde o celebrante passa sua mensagem para os ouvintes da missa, dom Murilo ressaltou as virtudes de Dulce e também agradeceu ao frei Hildebrando Kruthaup, que foi tutor de Dulce, e também Paolo Lombardo, postulador da causa de irmã Dulce no Vaticano - um espécie de advogado que defendeu a santidade de Dulce. O frei, conforme o especial Pelos Olhos de Dulce do CORREIO, apesar da ajuda a Dulce chegou a pedir a transferência dela da Bahia. Divergiram, mas fizeram as pazes em 1975.  Dom Murilo comandou a missa (Foto: Jorge Gauthier/CORREIO) Cantos, homenagens e gravação  A história do maestro José Maurício, que ficou cego e voltou a enxergar após rezar para Irmã Dulce, vai virar filme-documentário em 2020. A cura de Maurício foi o segundo milagre reconhecido pela Igreja de Irmã Dulce que a credenciou a ser Santa Dulce.

O documentário "A Luz da Escuridão: a História de um Milagre" está sendo produzido desde 2015 pela Mandacaru Filmes. "Filmamos em São Paulo, Recife, Salvador e no Vaticano. Sou amigo de Maurício e quando soube do milagre sugeri que fizéssemos o documentário que vamos lançar em 2020", afirmou Toni Couto, diretor e roteirista do filme.

Maurício, nesta segunda-feira, se apresentaria na Igreja de Sant'Andrea Della Valle na primeira missa do mundo em homenagem a Irmã Dulce, mas por questões técnicas acabou não cantando, mas ficou no altar ao lado da sua esposa, Marise Mendonça. Na igreja, foram gravadas imagens para o documentário. "Tenho a missão de divulgar esse milagre pelo mundo e junto com ele a fé em Irmã Dulce, a Santa Dulce dos Pobres", comemora Maurício.

Coube a um coral formado por cantores líricos brasileiros que vivem na Itália durante toda missa entoar os cânticos religiosos. Ao final da celebração, o padre Antônio Maria cantou a música Amor Sem Palavras, que escreveu para Dulce em 1990, dois anos antes da sua morte. No teclado, ele foi acompanhado pelo cantor Waldonys, que em seguida cantou Doce Luz, feita por ele para o Anjo Bom da Bahia. A cantora Margareth Menezes, por sua vez, cantou a canção Bem Mereceste [Hino à Santo Antônio] para o ‘tesoureiro das Osid’, como Irmã Dulce carinhosamente chamava seu agora colega de santidade, Santo Antônio. Margareth fez sua homenagem para Dulce (Foto: Jorge Gauthier/CORREIO) Participaram da missa o vice-presidente da república Hamilton Mourão; Augusto Aras, Procurador Geral da República e o embaixador do Brasil em Roma, Helio Vitor Ramos. Ambos saíram da igreja sem falar com a imprensa.

Também estiveram presentes o prefeito ACM Neto ao lado do vice-prefeito Bruno Reis, além do presidente da Câmara de Salvador Geraldo Júnior, os deputados federais João Roma e Nelson Pelegrino além de outras autoridades.

O governador Rui Costa, que está em Roma, afirmou pelo Twitter que iria para a missa, mas não pôde comparecer pois estava em reunião com empresários italianos. João Roma, Bruno Reis e ACM Neto (Foto: Jorge Gauthier/CORREIO) Congregação que afastou Dulce faz homenagem à Santa durante missa Em latim, 40 freiras de diversas partes do mundo cantaram a canção Tota Pulchra, em homenagem à Irmã Dulce. Integrantes da Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, da qual Dulce foi membro, elas vieram do Brasil, Alemanha, Namíbia, EUA, Taiwan e China para participar das celebrações da santificação da santa. 

Quando Dulce estava no auge do seu trabalho social, de 1964 até 1975, a Congregação oficialmente afastou a freira baiana. Nesse período, conhecido com exclaustração, Dulce continuou sendo freira, mas esteve afastada do cumprimento das regras da congregação. 

Irmã Livramento, madre geral da congregação, ressalta que apesar das exclaustração as freiras nunca deixaram Dulce sozinha. “Ela nunca deixou definitivamente a Congregação. Para nós, ela nunca esteve fora. Essa homenagem de hoje é um reconhecimento pelo que ela fez parte dessa congregação.  É uma grande alegria para nós a canonização dela. O exemplo de Irmã Dulce, que ela tinha para o serviço da vida religiosa, é o que queremos motivar”, afirmou a religiosa.  Irmã Livramento (Foto: Jorge Gauthier/CORREIO) Sobrinha de Dulce, Maria Rita sinalizou que esse período causou muita tristeza para a tia. “A Congregação nunca esteve completamente afastada. Foi por um momento. Talvez por um ruído de comunicação, se assim podemos dizer, mas elas sempre admiraram o trabalho de Irmã Dulce e a presença delas hoje aqui demonstra que há uma vontade muito grande de representar o carisma de Irmã Dulce como uma pessoa que dedicou sua vida para fazer o bem”, disse. 

“Temos oportunidade de intensificar o turismo religioso”, diz ACM Neto  Presente na primeira missa dedicada a Santa Dulce, o prefeito ACM Neto destacou que a canonização da freira baiana é um mais importante momento dos últimos tempos para Salvador e para a Bahia. “Não há dúvida que a canonização de Irmã Dulce é também o mais importante momento para uma cidade marcada profundamente pela religiosidade e pela fé em seu povo. Agora, é claro, temos uma oportunidade, ainda mais a questão do turismo religioso”, afirmou o prefeito, destacando os investimentos que o executivo municipal está realizando no projeto Caminho da Fé que vai integrar a Basílica do Bonfim - que teve requalificação recente no entorno -  à Conceição da Praia integrando com o Santuário de Irmã Dulce. 

A ideia, segundo o prefeito, é que o Caminho da Fé seja entregue em janeiro - antes da próxima lavagem do Bonfim. “Estamos conversando com a igreja Católica para intensificarmos os aspectos voltados para o turismo religioso. Não tenho dúvidas que com a canonização de Irmã Dulce, nós vamos ter uma quantidade de romeiros do mundo inteiro interessados em conhecer o que viveu a Santa Dulce”, afirmou o prefeito, destacando ainda que seu avó, ACM, que foi governador da Bahia por três mandatos, estaria muito feliz com esse momento histórico para o estado. 

“Meu avô tinha um carinho enorme por Irmã Dulce. Ele esteve ao lado dela durante toda a vida e pôde contribuir de maneira significativa para a consolidação de sua obra social. Quis o destino que eu hoje fosse prefeito e hoje desse continuidade a isso com Maria Rita, sobrinha de Irmã Dulce, para ajudar a manter as obras”, completou Neto. 

Vice-prefeito de Salvador, Bruno Reis destaca que a canonização é uma oportunidade para a cidade fazer o que Irmã Dulce gostaria: desenvolver a região da Cidade Baixa. “O fortalecimento do turismo naquela região com foco na religião é uma oportunidade para o desenvolvimento da cidade”. 

A festa não acabou! Dia 20 tem missa para Irmã Dulce na Fonte Nova  As celebrações para Irmã Dulce na Europa já finalizaram. Agora, no domingo (20), haverá um evento na Fonte Nova, em Salvador,  dedicado à nova santa, com missas e apresentações culturais.

O ato acontece exatamente uma semana após a canonização da Dulce dos Pobres. Além da missa presidida por dom Murilo Krieger, haverá a apresentação do espetáculo “Império de Amor”, que faz parte da celebração, do Centro Educacional Santo Antônio (Cesa), núcleo de educação das Obras Sociais Irmã Dulce (Osid), em Simões Filho, na Região Metropolitana de Salvador.

Diretor do espetáculo, que terá 1h30 de duração e começará às 15h, Léo Passos conta que, ao todo, serão 600 atores, sendo 550 crianças e adolescentes das obras, além de voluntários, idosos e funcionários. Segundo ele, a peça abordará o legado deixado pela religiosa.

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Os ingressos para participar da festa serão gratuitos e distribuídos através das paróquias da Arquidiocese de Salvador. Já para o público de outras cidades e estados brasileiros, a distribuição ficará a cargo da Secretaria da Canonização das Obras Sociais Irmã Dulce.

Os interessados devem solicitar o bilhete através do e-mail [email protected]. Nestes casos, a retirada será no Santuário de Irmã Dulce até o sábado (19) ou na Arena Fonte Nova, no próprio dia do evento. Crianças de até 2 anos não precisam de ingresso para ter acesso ao estádio.

“Pedimos que as pessoas cheguem cedo a partir de 12h. A missa será às 15h, mas antes terá a apresentação do espetáculo que será lindo”, convida Maria Rita Lopes Pontes. 

*Jorge Gauthier é chefe de reportagem do CORREIO e está em Roma para fazer a cobertura da canonização de Irmã Dulce *O projeto Pelos Olhos de Dulce tem o oferecimento do Jornal CORREIO e patrocínio do Hapvida.