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Flavia Azevedo
Publicado em 9 de junho de 2018 às 16:04
- Atualizado há 2 anos
(Bora brincar de clichê? Bora escrever igual a post de Facebook? Bora chover no molhado porque ainda não parece estar claro? Bora.)>
Feliz dia do "você vai sair com essa roupa?", do "batom vermelho é coisa de puta", do "deleta essa foto" e do "tá olhando pra quem?". Feliz dia do "pra quê senha no seu celular?", do "me passa a senha do Insta" e do "tá se exibindo demais".>
Feliz dia do "você é maluca", do "eu tô só te protegendo" e do "você não entendeu o que eu falei'. Feliz dia do medo de abraçar um amigo e, por causa disso, passar uma semana com namorado de cara amarrada.>
Feliz dia do pavor de ser paquerada na festa e ter "problemas" quando chegar em casa. Feliz dia do "é você que provoca", do "você gosta de chamar atenção" e de parecer que ser desejada é pecado.>
Feliz dia do "todo homem é assim, que bobagem!". Feliz dia de mudar o seu jeito pra caber no gosto dele, de se afastar das amizades e de escutar "seus(as) amigos(as) não gostam de mim porque estão enciumados".>
Feliz dia de ser quem "imagina coisas", mas sempre confirmar suas suspeitas, porque ninguém é tão otária. E de se sentir péssima ao quadrado. Feliz dia de ouvir que a culpada é "aquela vaca", que quem não presta é ela e não o seu namorado que trai.>
Feliz dia do ciúme disfarçado de "amor", do controle travestido de "cuidado", da agressividade interpretada como "coisa de macho". Feliz dia da traição dele naturalizada, mas de a sua fidelidade ser absolutamente necessária.>
Feliz dia do "se você terminar eu me mato", de homem chorando e você com pena acreditando no "eu estava descontrolado" e no "nunca mais eu faço". Feliz dia de ouvir "eu te amo" mil vezes porque o amor dele é muita palavra, mas não está claro nos atos. Feliz dia do, se quiser viver como gente, escutar "você é uma mulher problemática" .>
Feliz dia do... (Escreva, você mesma, esse parágrafo)>
Quando uma relação é assim, acredite, não há nada de especial. É tudo bem ordinário. Você é apenas "a mulher" genérica, que se lasca o tempo todo. E ele "o macho tradicional", um qualquer, que repete incessantemente "quem manda nessa poha sou eu". Não há "ele", nem "você". Não há um "nós" único e original. É só a repetição de um modelo, você não tem uma história de amor e é bom procurar saber aonde isso pode te levar.>
Mesmo assim, claro, você pode trocar presentes, jantar num bom restaurante e dormir com ele no motel. Cada uma tem seu tempo e eu não estou aqui pra julgar. Mas esse padrão é abusivo, uma hora você precisa entender. E quando você descobrir que é pessoa e não uma coisa, talvez ganhe uma nova data comemorativa, pessoal e instransferível, gostosa pra brindar de verdade.>
Feliz é o dia do "chega!", do "já foi!", do "quem manda em mim sou eu". Feliz é o dia em que você passa a jogar no seu time. Felicidade é quando você entende que não é qualquer merda e, finalmente, irreversivelmente e cheia de orgulho, passa a viver de um jeito que deixa claro: nem vem que não tem, eu sou dona de mim e escolhi estar do meu próprio lado.>
(Se você não tem nada disso na sua relação, se seu amor lhe traz leveza e felicidade, aí sim, binha: feliz Dia dos Namorados!)>