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Carol Aquino
Publicado em 7 de abril de 2017 às 05:30
- Atualizado há 2 anos
Uma alfabetização em menos tempo, um ensino infantil e fundamental sem aulas de Religião. Somado a isso, outros detalhes, como o ensino de História num padrão cronológico e a obrigatoriedade de que o Inglês seja a língua estrangeira ensinada nas aulas.>
Os itens acima são alguns dos que figuram na terceira versão da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), entregue ontem pelo Ministério da Educação (MEC) ao Conselho Nacional de Educação (CNE). O documento contém as diretrizes norteadoras para os currículos do ensino infantil e fundamental nos próximos anos. A apresentação da terceira versão da Base para o Ensino Médio ocorrerá somente no segundo semestre.>
O documento entregue ontem ao CNE ainda será avaliado pelos conselheiros e, se aprovado, será homologado pelo ministro da Educação, Mendonça Filho. Só depois disso é que as redes estadual e municipal deverão alterar seus currículos.>
O que pode mudar As mudanças mais significativas estão no Ensino Fundamental. O texto determina que as crianças devem ser alfabetizadas até o 2º ano - a versão anterior aceitava a alfabetização até o 3º ano. Esta meta é ainda mais ousada do que o Plano Nacional de Educação, que estipula que, até 2022, 100% das crianças estejam alfabetizadas até o 3º ano.>
A última Avaliação Nacional de Alfabetização do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), de 2014, mostrava que 77,8% das crianças tinham nível adequado de proficiência em leitura e apenas 65,5% o tinham em escrita. No índice de aprendizagem, os números são mais baixos.>
Na Bahia, a porcentagem é mais baixa ainda. Em 2014, 62,6% das crianças tinham nível adequado de proficiência em leitura e 45,3% em escrita. Em Salvador, 69% tinham o nível adequado em leitura e 51,3% em escrita.>
A alteração dividiu opiniões. O gerente de conteúdo do Todos pela Educação, Ricardo Falzetta, vê a mudança como positiva: “Na rede particular, a alfabetização já acontece mais cedo. Ao final do segundo ano, as crianças já sabem ler e escrever. Essas delimitações são necessárias mas é preciso sempre contextualizar. Que tipo de alfabetização estamos considerando? A simples decodificação de letras e palavras ou alfabetização num sentido mais amplo?”.>
Já a subsecretário de Educação do estado da Bahia, Nildon Pitombo, pensa diferente. “Eu sou contra a redução de três para dois anos para o período da alfabetização. O período que está determinado para o Conselho Nacional de Educação é de três anos para alfabetização plena”, diz.PolêmicasAlguns temas polêmico foram retirados. A abordagem de questões de gênero foi substituída por menções ao respeito às diferenças e à diversidade. O ensino de História passará a ser cronológica - a primeira versão excluía história antiga, medieval e moderna.Já o ensino religioso, que fazia parte de áreas como linguagens, ciências humanas, da natureza e matemática, na segunda versão, também foi excluído. A coordenadora de currículo da Secretaria Municipal de Educação de Salvador, Gilmara Cunha, avalia a mudança como positiva.>
“O conteúdo era um tema muito controverso. E o conteúdo não era explícito. Não dizia qual o profissional que era apto a ministrar a disciplina. Era o professor de História, de Filosofia, o formado em Teologia?”, questiona.>
O ensino de língua estrangeira passa a ser obrigatoriamente da Língua Inglesa e apenas nos anos finais do ensino fundamental - ou seja, do 6º ao 9º ano. Educação InfantilAs creches e pré-escolas também deverão ser afetadas quando a BNCC entrar em vigor. Surgiu o conceito de direito de aprendizagem e desenvolvimento: conviver, explorar, brincar, expressar, participar e conhecer-se.>
Entre os objetivos de aprendizagem no BNCC, crianças de 1 ano e 7 meses a 3 anos e 11 meses devem ser capazes de desenvolver progressivamente as habilidades manuais, como desenhar, pintar, rasgar, folhear, e usar conceitos de tempo, hora, minutos.>
Crianças de 4 a 5 anos e 11 meses já devem ser capazes de manifestar oposição a qualquer forma de discriminação, coordenar com precisão e eficiência habilidades motoras para seus interesses e necessidades de representação gráfica.>
Segundo o subsecretário de educação da Bahia, Nildon Pitombo, o principal benefício da BNCC é o estabelecimento de critérios para acompanhamento e medição do progresso de crianças e adolescentes no ensino básico.>
“A notícia gera uma expectativa boa porque o Brasil precisava de uma base definida. Ela direciona os currículos de todas as escolas do sistema público e da rede privada, faz com que toda ação da escola tenha um mínimo de conteúdo, os objetivos de educação que deseja alcançar, o patamar de aprendizagem para cada uma das séries”, diz.>
Outro benefício que ele cita é a modernização no ensino, no sentido de uma educação que não considera só o aspecto cognitivo, mas também os sociais. A BNCC determina as Dez Competências Gerais do Ensino Básico, como a valorização de diversidade de saberes e vivências culturais. Após homologada, servirá como base também para a formação de professores e elaboração de material didático.>
Veja o que muda:>
Alfabetização Deve ser completa até o final do 2º ano>
Religião O ensino religioso foi suprimido da terceira versão, já que o tema é optativo>
História Conteúdo das aulas passa a ser organizado de forma cronológica>
Língua Estrangeira O Inglês passa a ser a língua padrão obrigatória>
Gênero O conceito foi excluído, enquanto texto defende “respeito à pluralidade”>
Competências Os alunos devem desenvolver competências, como uso de tecnologias >
Direitos Aprendizagem e desenvolvimento assegurado para os menores de 6 anos>
Bahia pode adotar mudanças a partir do ano que vem>
Para se adaptar às mudanças estabelecidas pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC), as secretarias municipais e estaduais de educação terão que reelaborar os currículos. O ministro da Educação, Mendonça Filho, assegurou apoio do governo federal nesse sentido.>
As secretarias têm o prazo de dois anos para se adequar às novas regras. É importante ressaltar que, apesar da Base estabelecer algumas obrigações, as gestões estaduais e municipais têm liberdade de adicionar conteúdo e objetivos, bem como de escolher a metodologia a ser usada.>
Para o subsecretário de Educação da Bahia, Nildon Pitombo, esse será um dos grandes desafios para o estado, junto com a reelaboração dos livros didáticos e formação dos professores novos e dos já em atuação para que atendam as exigências.>
Porém, ele ressalta que, como a Bahia participou ativamente das discussões a respeito do documento e as diretrizes da educação do estado terem semelhanças em vários pontos da Base, será possível que, já em 2018, a rede estadual de ensino esteja de acordo com as novas determinações.>
A gerente de currículo da Secretaria Municipal de Educação de Salvador, Gilmária Cunha, ressalta que o Município fez uma reformulação do sistema de ensino e material didático do ensino infantil e o mesmo processo está em curso com o ensino fundamental e já tem experiência nessa construção.>
“Pra a gente não vai ser difícil se adaptar, a gente tem muito mais pontos comuns que diversos. Vamos trabalhar para fazer essas mudanças, sempre dialogando com os nossos professores, gestores e coordenadores pedagógicos”, apontou.>