Em 2022, passaporte de imunidade será obrigatório para as aulas presenciais? 

Sinceramente, não imagino meu filho sentado ao lado de um pequeno negacionista antivax, num futuro próximo

  • Foto do(a) author(a) Flavia Azevedo
  • Flavia Azevedo

Publicado em 28 de agosto de 2021 às 05:10

- Atualizado há um ano

. Crédito: .

Eventualmente, eu e Leo saímos a pé, na minúscula cidade onde estamos morando, em horário no qual é mais fácil encontrar uma convenção de extraterrestres do que aglomeração humana. Mesmo assim, ambos com PFF2, sem tocar em nada e com o alquingél no bolso, pra qualquer eventualidade. Numa dessas, passamos na frente da casa de uma querida ex-professora dele e ficamos conversando: ela na porta dela, nós do outro lado da rua e dane-se se os moradores da vizinhança estavam ouvindo, melhor a fofoca do povo do que a contaminação pelo vírus. 

Conversa vai, conversa vem, e lá, da porta dela, a professora perguntou "quando liberar a vacinação para a idade dele, você vai deixar?". Imagine o impacto dessa pergunta para uma dupla de mãe e filho que, desde antes de existir vacina contra covid, sonha com o dia em que o menino, agora com dez anos, poderá, vacinadíssimo, retomar atividades triviais como bater um baba com as amizades, lá na Vila, e entrar em um avião pra visitar a família paterna. "Clarooooo que ele será vacinado", respondi, ao mesmo tempo em que caiu a ficha de que será opcional. Será? Se sim, as aulas presenciais ainda serão, também, opcionais? A pessoa sai pra desanuviar a mente e volta toda problematizada. Fato é que nisso, eu ainda não tinha pensado.

Passei a pensar e tô cheia de perguntas pro pessoal da administração pública e, também, para o empresariado do setor educação. A primeira delas é: depois de meses de reivindicação, a comunidade escolar está completamente vacinada? Ou seja, agora que todos/as já tiveram acesso aos imunizantes - seja por categoria ou por idade - cada um/a apresentou seu Certificado Nacional de Vacinação COVID-19 (não é o papelzinho preenchido à mão pela galera do postinho, é documento nacional que você consegue no Conecte SUS Cidadão) nas instituições onde trabalham? Ou seja, as famílias que optaram por mandar seus filhos e filhas para as aulas presenciais podem ter certeza de que toda a equipe do colégio está vacinada? Se já passaram a cobrar o passaporte de imunidade para atividades recreativas, me parece mais do que justo que seja cobrado para o exercício profissional.

Imagino que, quanto a isso, não teremos problemas e, talvez, eu mesma exija a assinatura do colégio em documento garantindo que todos/as os profissionais estão vacinados, antes de autorizar o retorno do meu filho às aulas presenciais. A gente vive assinando papel de responsabilidade, acho normal que, só pra variar, sejamos proponentes de responsabilidades em relação a instituições. Aí vem a outra pergunta: e os/as coleguinhas? Em 2022, estarão todos/as com o protocolo de imunização completinho?

(Tome-lhe outro documento para a escola assinar.) 

Faço parte da turma que optou por manter filhos/as em ensino on-line até a vacinação das crianças e só deus pode nos julgar. Se por medo justificado, pânico ou cuidado natural, é questão íntima, familiar, pessoal e, sim, exercício de privilégio. Também direito e dever de proteção da prole, previsto em lei. Quem está em casa não faz mal a ninguém, mas precisamos falar sobre quem opta por não fazer parte do esforço coletivo de contenção desse vírus dos infernos. Sinceramente, não imagino meu filho sentado ao lado de um pequeno negacionista antivax, num futuro próximo. Não vou jogar dois anos de cuidados no lixo. 

Todas as vacinas têm um percentual de falha, um ambiente começa a ficar seguro com todas as pessoas vacinadas, os imunizantes funcionam, mesmo, é na coletividade. É a vacinação em massa que diminui a circulação do vírus e proporciona a volta, gradativa, a algo que chamaremos de "normalidade". Isso é consenso mundial, talvez refutado apenas pelo talibã e outras aberrações, inclusive em território brasileiro. Não acredito em papai noel, coelhinho da páscoa nem em escola "dentro de todos os protocolos de segurança", a única maneira de qualquer escola garantir segurança é exigindo que todas as pessoas, dentro das suas dependências, estejam vacinadas. 

Parece que o jogo virou e, em muitos lugares do mundo, as pessoas que se negam a tomar vacina, estão cada vez mais isoladas. Um movimento crescente, assim espero. Não podem viajar, não podem entrar em restaurantes, não podem trabalhar em determinados setores. Maravilha. Talvez, em 2022, crianças não vacinadas contra a covid não possam frequentar as aulas presenciais. Justíssimo e nenhuma novidade já que todas as famílias precisam apresentar caderneta de vacinação completa, no momento da matrícula das crianças. Uma regra bastante flexibilizada, ou não teríamos, de volta, surtos de diversas doenças das quais quase não ouvíamos mais falar. Há amparo legal, portanto. Basta incluir a covid-19 entre as mais de 20 doenças contra as quais crianças e adolescentes precisam estar vacinados/as, para o convívio escolar. Vamos cobrar firmeza dos gestores públicos e observar se o empresariado do setor privado terá seriedade suficiente para cobrar. Quem está em casa, afinal, quer saber: em 2022, passaporte de imunidade será obrigatório para as aulas presenciais?