Em entrevista, Ricardo David faz balanço da sua gestão no Vitória

Presidente vê avanços, mas reconhece fracasso no futebol

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  • Vitor Villar

Publicado em 23 de abril de 2019 às 05:50

- Atualizado há um ano

. Crédito: Evandro Veiga / CORREIO

Ricardo David deve viver nesta terça-feira (23) o seu último dia inteiro como presidente. Na noite de quarta-feira (24) o seu substituto deve ser eleito e imediatamente empossado. Nesta entrevista ao CORREIO, o mandatário avaliou os 16 meses em que esteve à frente do rubro-negro:

Por que decidiu aceitar a antecipação das eleições? Entrei no clube sem um devido respaldo das outras instâncias de poder, sem apoio. Como os resultados não vieram, a pressão aumentou bastante. Depois que você cai para a Série B e sai na primeira fase da Copa do Brasil o que você precisa é de apoio. E eu percebi que isso ficaria muito difícil em torno de mim. O clube precisa de união, de um maior comprometimento de todos, principalmente da torcida, porque a situação financeira não é nada favorável. E eu tenho a consciência de que não conseguiria isso. Então aceitei que o Vitória tenha outro presidente para buscar esse cenário.

Financeiramente, como você entrega o Vitória? O clube tem salários atrasados? Estamos numa situação financeira nada confortável. Desde dezembro não recebemos os direitos televisivos, o que nos tirou R$ 40 milhões do orçamento. Temos feito um esforço gigantesco para manter em dia as principais despesas, como salários de jogadores e funcionários, obrigações com o Profut, impostos. Vamos entregar o clube com tudo isso em dia, mas exigiu muito sacrifício. Posso dizer que o próximo presidente precisará de muito apoio para manter regularidade nesses pagamentos.

Qual balanço faz da sua gestão? Teve algo positivo? Recebi o clube com um déficit de R$ 56 milhões em 2017. Agora, vou entregá-lo com um déficit em 2018 de R$ 4 milhões. Então nessa área nós progredimos muito, em organização financeira e jurídica. Tivemos arrecadação recorde no Sou Mais Vitória, apesar da campanha ruim. Realizamos a primeira Copa 13 de Maio (torneio entre sócios no Barradão), que foi muito festejada. Resgatamos os ingressos a preços populares, porque moramos numa cidade com problemas sociais muito grandes e a torcida do Vitória passa por todas as camadas sociais. E o futebol feminino foi outro ponto alto, com o título baiano e o acesso invicto à primeira divisão.

E os erros, presidente? Fica o sentimento de frustração pelo futebol profissional não ter alcançado o sucesso que tivemos em outras áreas. O início de 2018 foi determinante: não tivemos condições financeiras para montar um elenco competitivo e isso se agravou porque tínhamos um dirigente sem experiência necessária para conviver com a limitação financeira. Se você perguntar ‘então foi responsabilidade de (Erasmo) Damiani?’ Não, foi nossa que, como dirigentes, não demos a ele recursos financeiros. A partir daí tentamos consertar o avião com ele voando, e não tivemos sucesso. Esse ano vem como extensão. Com a redução financeira iniciamos o ano com praticamente o mesmo elenco que caiu para a Série B. Isso influenciou muito na queda precoce na Copa do Brasil, o que aprofundou os problemas financeiros.

Entrega o Vitória pior do que encontrou? Em algumas áreas pior, já que encontrei o clube na Série A com orçamento de R$ 100 milhões e agora o orçamento oficial é de  R$ 45 milhões, com o clube na Série B. Nesse aspecto, sem dúvida, está pior.

Como foi a venda de Lucas Ribeiro? O Vitória vai receber quanto ao final? Foram vendidos 80% dos direitos econômicos (o Vitória tinha 100%). Os 20% restantes o Hoffenheim terá a preferência para adquirir até novembro, mas podem exercer até antes disso. Pelas informações que tivemos, eles vão exercer a compra. O valor final será de 3,7 milhões de euros pelos 100%.

Numa autoanálise, o que faltou a Ricardo David para ter uma gestão melhor? Eu diria que mais experiência para lidar com algumas questões. Mas acredito que o exercício da presidência de futebol é um aprendizado diário, por isso peço paciência e tolerância com quem chegar, porque ninguém vai conseguir  resolver os problemas do Vitória de um dia para o outro. Hoje, conheço muito mais do que conhecia quando aqui cheguei, mas no futebol a tolerância aos trabalhos mais longevos é mínima. Se não obtém resultados o presidente tem que sair, e com isso perde-se a experiência adquirida por ele.

Como encara as críticas feitas à sua pessoa? Você acha que foi o pior presidente da história do clube, como alguns estão dizendo? Veja, eu sou engenheiro e, como engenheiro, trabalho com dados concretos. Para dizer ‘pior ou melhor’ é preciso dizer que base de referência você está usando. Mas eu não quero entrar nesse debate, não. As críticas foram naturais para um clube de futebol que não alcançou os resultados em campo. Eu não preciso estar aqui me justificando, tivemos resultados ruins e num clube de futebol o maior responsável por isso é o presidente.

Você apoia algum dos candidatos à presidência? Não, não tenho nenhum apoio declarado. Estou dizendo de antemão que vou apoiar aquele que for eleito. Pretendo estar aqui no dia seguinte à eleição, se assim quiserem, para passar ao eleito tudo o que for necessário, independentemente de quem seja.

Vai se afastar do Vitória? Vai frequentar o estádio? O torcedor Ricardo David vai se afastar das coisas ligadas à gestão e à política do Vitória. Pretendo retornar às minhas empresas, das quais me afastei totalmente nesse período. Mas sou torcedor do Vitória, e não de presidente. Eu diria que nos primeiros meses vou me manter afastado do estádio, inclusive a pedido da minha família, que quer mais atenção minha. Neste período serei o que nunca fui na vida: um torcedor de sofá. Vou ficar assistindo na televisão, para dar atenção à minha família.