Em janeiro, volume de serviços turísticos na Bahia tem maior retração para o mês desde 2011

Segundo a Pesquisa Mensal de Serviços, do IBGE, em janeiro, a Bahia registrou uma queda de 14% no volume de serviços ligados ao turismo na comparação com o mesmo mês de 2020

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  • Da Redação

Publicado em 10 de março de 2021 às 05:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Divulgação

Em janeiro, o Gran Hotel Stella Maris costuma ter uma taxa de ocupação dos leitos entre 95% e 98%, mas a pandemia do coronavírus fez com que o empreendimento de Salvador ficasse apenas 50% ocupado no primeiro mês de 2021. A Covid-19 não impactou apenas este estabelecimento, mas as atividades de serviços ligadas ao turismo na Bahia como um todo. Segundo dados da Pesquisa Mensal de Serviços (PMS), divulgada nesta terça-feira (9) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em janeiro, o estado registrou uma queda de 14% no volume de serviços ligados ao turismo na comparação com o mesmo mês de 2020. Essa foi a maior retração para um mês de janeiro no estado, desde o início da série histórica da PMS, em 2011.

Apesar do resultado negativo, a Bahia teve a menor retração entre os estados ante janeiro de 2020 porque todas as 12 unidades federativas onde o agregado de atividades turísticas é pesquisado apresentaram recuos nessa comparação. Nos 12 meses encerrados em janeiro, os serviços turísticos baianos apresentaram recuo acumulado de 38,8% - superior à queda de 39,5% verificada no Brasil.

Segundo o gerente da Pesquisa Mensal de Serviços do IBGE, Rodrigo Lobo, a retração registrada pela Bahia na comparação entre os meses de janeiro teve influência importante na queda de 29,1% que ocorreu no Brasil na mesma comparação devido à importância do estado para o turismo nacional.

“O impacto do recuo do turismo da Bahia nesse resultado foi maior que os do Distrito Federal (-22,2%), Goiás (-18,6%) e Espírito Santo (-17,7%). O principal fator que levou o estado a ter uma queda ‘menor’ no turismo que os demais, nessa comparação, é que o mês de janeiro de 2020 na Bahia não foi tão bom quanto em outros locais. Há uma base de comparação mais baixa que as dos demais estados”, ressalta Lobo, que pontua que a queda registrada pelo estado é bastante significativa e não sinaliza um viés positivo para o turismo frente ao período pré-pandemia.

O setor de turismo sentiu a retração. Salvador recebeu 43% menos turistas em janeiro de 2021 na comparação com o mesmo mês de 2020, segundo o secretário municipal de Cultura e Turismo, Fábio Mota.

“A redução no fluxo de turistas se deve a vários fatores, como a proibição dos cruzeiros que tirou mais de 150 mil pessoas de Salvador no período do verão”, afirma Mota.

De acordo com o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis da Bahia (ABIH-BA), Luciano Lopes, os dados da entidade corroboram com o cenário evidenciado pelo IBGE. O mês de janeiro registrou uma taxa de ocupação hoteleira de 54,25% em Salvador, segundo a associação.

“Foi o pior janeiro. Com a pandemia era inevitável que a gente tivesse um desempenho porque o fluxo de turistas caiu. Normalmente, o período que vai de janeiro até o Carnaval é o mais procurado pelos turistas de lazer em Salvador”, afirma Lopes. 

Segundo a Federação Baiana de Turismo e Hospitalidade do Estado da Bahia (Fetur), a taxa de ocupação dos hotéis ficou em 50,95% em janeiro. Um levantamento da entidade aponta que essa é a menor ocupação para o mês em 20 anos.

“Trabalho com turismo há 34 anos e nunca tinha visto um janeiro desse jeito. Diversas crises ocorreram, mas esse é o pior ano de todos", afirma o presidente da Fetur, Silvio Pessoa.

Hotéis Janeiro é o mês de ouro no Gran Hotel Stella Maria. Por isso, a diretora de vendas e marketing do estabelecimento, Viviane Pessoa, sabe que as perdas do período só devem ser recuperadas com um começo de ano sem pandemia. 

No Extremo-sul do estado, as perdas foram menores para os empreendimentos do Grupo Porto Seguro (GPS) de Hotéis & Resorts. Localizados na cidade de mesmo nome, o Porto Seguro Praia Resort e o Porto Seguro Eco Bahia Hotel conseguiram atingir uma ocupação de 85% em janeiro e fevereiro. 

Segundo o gerente comercial do grupo, Guto Jones, janeiro coroou uma fase de crescimento na ocupação dos estabelecimentos desde que eles foram reabertos em setembro do ano passado. 

“Janeiro de 2021 não atingiu a mesma lotação do mesmo mês de 2020, mas ficou muito perto do que era registrado antes da pandemia", afirma Jones.

Esse movimento de crescimento no setor também foi comprovado pela pesquisa do IBGE. Segundo os dados, em janeiro, as atividades de serviços ligadas ao turismo na Bahia apresentaram crescimento de 3,2% frente a dezembro com ajuste sazonal. O resultado também foi maior do que o registrado no país (0,7%).

O primeiro mês de 2021 também foi o 6º avanço consecutivo para o estado nas atividades de serviços ligadas ao turismo, ou seja, os resultados são positivos na comparação mensal desde agosto de 2020.

A nível estadual, o secretário do Turismo do Estado da Bahia, Fausto Franco, afirma que os ganhos no setor de turismo registrados no último mês também são resultado da promoção do destino. O gestor da pasta ressalta que 80% da malha aérea estadual foi recuperada antes da chegada da 2ª onda da pandemia. 

"Atuamos em campanhas bem-sucedidas de conscientização dos turistas pedindo a remarcação das viagens em vez de cancelamento. Opções de destino não nos faltam. Temos 13 zonas turísticas e 133 municípios incluídos no Mapa do Turismo Brasileiro. Todas as zonas turísticas da Bahia possuem rede hoteleira estruturada e opções de lazer ao ar livre. Ainda temos um rico patrimônio histórico e cultural”, pontua Franco

O gestor da Secult corrobora que janeiro de 2021 foi o melhor mês para o turismo em Salvador desde o começo da pandemia. Para ele, o trabalho de atração do turista interno foi fundamental para esse crescimento da procura por Salvador no período.

A Fetur e a ABIH perceberam a melhora progressiva no setor hoteleiro a partir do segundo semestre de 2020. Segundo a Federação, os hotéis saíram de uma taxa de ocupação de 23% em agosto para os 50% registrados em janeiro. “É simples exemplificar que está crescendo. Quando se sai de quase zero, os números são crescentes”, pontua Silvio Pessoa.

O próprio IBGE faz a ressalva de que o avanço consecutivo nas atividades de serviços baianos ligadas ao turismo não é sinal de uma grande melhora no setor, mas ocorre porque os meses anteriores tiveram resultados ainda piores devido ao auge da pandemia em 2020.

“Provavelmente, a Bahia seguiu o movimento nacional de uma forma geral, que mostrou uma melhora nas atividades de transportes de passageiros, inclusive aéreo, e dos hotéis”, explica Lobo.

Novas dificuldades O movimento de crescimento estagnou em fevereiro com o novo aumento dos casos e das mortes por coronavírus na Bahia, o que resultou no toque de recolher e o lockdown no estado.

O Pisa Plaza Hotel tem registrado cancelamentos devido ao medo dos turistas com a piora do cenário da pandemia. Segundo o diretor do estabelecimento, Marcos Pondé, os funcionários do hotel tentam negociar uma remarcação da estadia, mas alguns reembolsos têm sido feitos. 

“Com lockdown é difícil porque o hóspede não tem o que fazer com restaurante fechado e lojas fechadas, então, reduz a demanda. Poucas pessoas ainda vêm a negócios ou para fazer um tratamento médico”, explica Pondé.

Após o período de melhora, as agências de viagem também voltaram a registrar cancelamentos, segundo a presidente da seccional baiana da Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav-BA),   ngela Carvalho. 

“Temos tido bastante cancelamento desde o final de fevereiro. A melhora no turismo só perdurou até meados do mês passado porque o índice de contágio cresceu muito, o que, junto com as medidas restritivas, afasta os turistas”, afirma a presidente da entidade.

O Gran Hotel Stella Maris também sentiu os impactos da falta do Carnaval. Normalmente, a ocupação do estabelecimento é de 100% na festa, mas o hotel amargou 75% de ocupação no período neste ano e ainda com diárias de baixa temporada. 

Segundo o presidente da ABIH, a não realização do Carnaval trouxe diversos impactos para o setor hoteleiro e o turismo em geral. Apenas para os hotéis, o período das festas eleva em quase 6 vezes o valor da diária média praticada no ano e ainda faz com os empreendimentos possuam uma taxa de ocupação média de 95% durante a folia. 

“O período do Carnaval produz cerca de 11% do faturamento anual dos hotéis. Com esse faturamento, cobrimos os custos da baixa estação”, pontua Lopes. 

A ABIH calcula que os hotéis da capital tiveram ocupação média de 42,51% em fevereiro e de 30% na primeira semana de março. Já a Fetur aponta uma taxa de 39,43% para o segundo mês do ano.

Em março, a perspectiva do Gran Hotel Stella Maris é uma taxa de ocupação de apenas 35%, bem distante dos 65% comuns para o mês. “Diferente do começo da pandemia, muita gente não quer remarcar a hospedagem. Além disso, quase não há novas vendas”, afirma Viviane Pessoa.

Em Porto Seguro, nos hotéis da rede GPS, 5% das reservas para março foram canceladas e as vendas estagnaram com o lockdown no estado da Bahia. Mesmo assim, Guto Jones afirma que os clientes pararam de desmarcar a estadia e já voltaram a fazer as reservas.

Mesmo amargando perdas, os hotéis ainda não devem fechar como ocorreu em 2020. Entretanto, uma suspensão das atividades provisoriamente pode ser uma alternativa caso a situação continue ruim. Para pagar seus custos, um estabelecimento de hospedagem deve ter, pelo menos, 60% de ocupação, segundo cálculos da ABIH. 

“Se o quadro não reverter, é problemático ficar com equipe trabalhando com menos de 20% de ocupação, assim, o hotel deve fechar”, afirma Silvio Pessoa. O presidente da Fetur estima ainda que até 50% dos bares e restaurantes de salvador devem fechar ao final do semestre se não ocorrer uma recuperação no setor.

O secretário Fábio Mota acredita que o setor do turismo deve sofrer ainda mais com a nova redução da procura pela queda ocorrer em meio ao começo da retomada das atividades turísticas. 

“As empresas de turismo de forma geral estão em uma situação financeira complicada com 1 ano de pandemia. Pensávamos que 2021 fosse ser melhor, mas teve essa segunda onda e voltamos ao patamar de março de 2020”, lamenta a presidente da Abav.

Para melhorar o cenário, o setor depende da vacinação, da redução dos casos de coronavírus e da queda na lotação das UTIs. Além disso, os empreendedores pedem novos pacotes de apoio governamental, como linhas de crédito e a volta da possibilidade de suspensão ou do corte de salário dos funcionários.

O secretário estadual de Turismo ressalta que a cadeia produtiva do turismo envolve mais de 50 setores da economia e que as atividades características do turismo na Bahia equivalem a 4,3% do Produto Interno Bruto baiano. Apesar dos impactos da pandemia no setor, Franco ressalta que as atividades turísticas têm características que permitem uma rápida recuperação na retomada. 

“Nos últimos meses conseguimos ter ganhos graduais num momento que ainda inspira muitos cuidados de saúde pública. Vamos continuar a desenvolver o trabalho de promoção do destino Bahia e de atração de voos e de investidores do setor turístico para que as perdas acumuladas sejam mitigadas”, afirma o gestor da Setur, que ressalta que o Governador Rui Costa anunciou a intenção de adquirir vacinas.

Segundo o secretário municipal de Cultura e Turismo, a capital está se preparando para a retomada do turismo a partir do 2º semestre, inclusive, com obras na orla e a abertura de novos pontos turísticos, como o museu da música.

“Tudo depende da vacina. Como apoio ao setor, acompanhamos o projeto de lei do setor de entretenimento na Câmara Federal e trabalhamos para prorrogar a Lei Aldir Blanc. A nível municipal, o prefeito engrena um projeto para a área da cultura e turismo nos moldes do Salvador por todos”, afirma o secretário.

Queda nos serviços O volume do setor de serviços na Bahia caiu 6,3% em janeiro, frente a dezembro de 2020, na série com ajuste sazonal. Segundo a Pesquisa Mensal de Serviços (PMS), esse foi o 2º resultado negativo consecutivo na comparação com o mês imediatamente anterior, já que um recuo de 1,6% ocorreu de novembro para dezembro. O mês foi ainda o pior janeiro para o estado nesse tipo de comparação, desde 2015, quando ocorreu uma queda de 8,9%.

A queda dos serviços na Bahia entre dezembro e janeiro foi a  3ª mais intensa entre os estados, ficando acima apenas de Rondônia (-15,6%) e Alagoas (-8,5%). Além disso, o resultado é pior que o verificado no país como um todo, que registrou um avanço de 0,6%. 

Como reflexo dos impactos da pandemia, o setor de serviços baiano acumulou queda de 10,4% entre março de 2020 e janeiro de 2021. 

Os resultados negativos ainda ocorrem na comparação com janeiro de 2020, na qual o volume dos serviços prestados na Bahia teve queda de 10,1% no pior janeiro para o setor no estado em dez anos, desde o início da série histórica da Pesquisa, em 2011.

No confronto entre os meses de janeiro de 2020 e 2021, os serviços recuaram em 4,8% no Brasil, com resultados negativos em 18 das 27 unidades da Federação.  Nos 12 meses encerrados em janeiro deste ano, os serviços acumularam resultado negativo de 15,3% na Bahia. O cenário é pior que o do país, com uma queda de 8,3%, e o quarto pior resultado entre os estados.

Maioria das atividades de serviços recuaram na Bahia na comparação com a janeiro de 2020

O recuo no volume do setor de serviços baiano em janeiro frente ao mesmo mês de 2020 foi resultado de quedas ocorridas em quatro dos cinco grupos de atividades investigados pelo IBGE.

O maior recuo, de 14,8%, veio dos serviços prestados às famílias, que mostram resultados negativos a cada mês desde março de 2020. Entretanto, foram os transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio, com a terceira queda mais profunda (-12,4%), que mais contribuíram para o resultado negativo do setor em geral. Isso porque essa é a atividade de maior peso na estrutura dos serviços baianos. 

Os transportes voltaram a recuar na Bahia, em janeiro, após três crescimentos seguidos, entre outubro e dezembro do ano passado. 

Outros grupos de atividades que tiveram baixas em janeiro na Bahia, os serviços de informação e comunicação, com queda de 3,2%, e os serviços profissionais administrativos e complementares, com redução de 13%, vêm com desempenhos negativos seguidos pelo menos desde novembro de 2019.

Por outro lado, com o único resultado positivo na comparação, os outros serviços fecharam o mês com um aumento de 10,9% e o segundo crescimento consecutivo na Bahia.

*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro