Em live, ACM Neto e Mandetta criticam Bolsonaro e fazem alerta sobre covid

“Os números apresentam uma tendência de piora”, lamenta Mandetta; Neto critica apostas erradas do Governo Federal

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  • Carolina Cerqueira

Publicado em 2 de março de 2021 às 21:47

- Atualizado há um ano

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O presidente nacional do Democratas e ex-prefeito de Salvador, ACM Neto, participou, junto com o médico e ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS), de uma live transmitida nas redes sociais dos dois nesta terça-feira (02). Na ocasião, os políticos trocaram elogios e debateram o tema “Um ano de covid: Por que o Brasil vive o pior momento da pandemia?”, discutindo sobre o cenário atual do país e apontando culpados. 

Mandetta e ACM Neto fizeram duras críticas à postura do governo federal em meio à pandemia e, de forma indireta, ao presidente da República Jair Bolsonaro (sem partido), alegando que falta "liderança" da parte dele e que a situação ideal seria de união do governo central com estados e municípios. “A gente perdeu muito tempo e alguns colaboraram pra isso, discutindo ciência versus economia”, disse Neto.

O ex-prefeito lembrou do atraso da vacinação no Brasil em relação a outros países e culpou a inércia do governo federal e a burocracia. Segundo ele, o plano nacional de vacinação “não passa de ficção” e o país ficou para trás por se preocupar demais com a origem da vacina. “O Brasil parou no tempo em relação a vacina, ficou esperando a coisa acontecer, fez apostas erradas”, opinou o presidente do DEM. 

Ministro da Saúde no começo da pandemida, Mandetta deu seguimento às críticas que passou a tecer ao governo federal após deixar o governo Bolsonaro em abril de 2020, depois de um mês de atritos com o presidente da República sobre como enfrentar o coronavírus. Depois de sua saída, Mandetta chegou a dizer que o comportamento de Bolsonaro durante a pandemia contribuiu para elevar o número de mortes no país. Durante a live, Mandetta criticou a ausência de testagem em massa e a desativação de leitos, além da defesa da cloroquina e do descrédito na ciência estimulado, segundo ele, pelo “negacionismo de Bolsonaro”. Mandetta ainda atacou o Ministério da Saúde e disse que falta uma campanha por parte da pasta para conscientizar a população. “Estamos sem ministro da saúde, há uma ausência hoje”, criticou. O ex-ministro também condenou a disputa política feita a partir do cenário de pandemia e disse que as divergêncis devem ser deixadas para 2022. “O vírus não quer saber se você é radical, se é de direita ou de esquerda, ele quer saber se você vai dar carona para ele”, pontua o médico. 

Vacinação

De acordo com a análise de Mandetta, para que a vacina tenha efeito coletivo, seria preciso vacinar ao menos cerca de 60% da população e projetou que, a partir de abril, o Butantan e a Fiocruz vão acelerar a produção. Ele ponderou que o Brasil é dependente da China em relação aos insumos para as duas vacinas aplicadas hoje (CoronaVac e Oxford) e, por isso, precisa manter boas relações exteriores.

Os dois políticos defenderam a autorização de compra de vacinas por prefeitos e governadores, concedida pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no último dia 23 e declararam torcida pela aquisição da vacina da Johnson & Johnson, que é aplicada em dose única e de fácil armazenagem: “Seria o nosso sonho”, disse Mandetta. 

O ex-ministro da saúde defendeu ainda que educação deve ser prioridade na vacinação e que, depois dos profissionais da saúde, os próximos da fila devem ser os profissionais da educação. Neto complementou, lamentando o fechamento das escolas, mas reforçando que o cenário atual não permite qualquer movimento de retorno presencial. “Acreditei que em fevereiro e março já seria possível voltar, mas aí veio essa onda tão agressiva e agora não há segurança”, afirmou ele.

Pode ficar pior? 

Mandetta e Neto reforçaram a preocupação com a situação atual do vírus no país, ressaltando as altas taxas de ocupação nas UTIs, o aumento de casos graves e o maior acometimento de pessoas cada vez mais jovens. “Os números apresentam uma tendência de piora”, alerta Mandetta, que também fez um apelo para que os jovens tenham consciência e não se aglomerem. 

O ex-ministro mostrou preocupação também com o estoque de oxigênio dos estados, devido à falta do insumo em Manaus, disse que não descarta possibilidade de escassez e afirmou já ter alertado o atual prefeito de Salvador, Bruno Reis. 

Segundo ele, os cenários mais críticos no momento podem ser vistos no Nordeste e no sul do país, e que a próxima região é a sudeste. “São Paulo vem mostrando que o final de março será ainda mais crítico”, ressaltou Mandetta.

Por esse cenário, Mandetta ressaltou a importância e defendeu a continuidade do pagamento do auxílio emergencial até que a vacinação estivesse avançada, o que projeta que aconteça entre setembro e outubro. O ex-ministro se despediu da live alertando que ainda é preciso ter paciência. “Se a gente voltar para nossas vidas normais, vai acontecer uma Manaus generalizada no Brasil”, disse. Mandetta relembrou e criticou a sugestão dada por muitos de que a população se infectasse e aguardasse pela chamada imunidade de rebanho. “Se todo mundo pegar, vai ser uma tragédia monumental ainda maior”, destacou. 

Para finalizar, Mandetta afirmou que “a receita é seguir a ciência” e defendeu as medidas de restrição adotadas por governadores e prefeitos. “Temos que ser mais duros com o vírus do que ele está sendo com a gente”, completou.

Nem ACM Neto nem Mandetta mencionaram planos para as eleições de 2022, mas, ao encerrar a live, o ex-ministro da saúde disparou:  “Nos seus próximos projetos e caminhos, pode ter certeza que eu vou estar junto. Nós vamos caminhar um bom trecho dessa Bahia para conversar com esse povo baiano”, finalizou. 

*Com orientação da subeditora Fernanda Varela