Em protesto, bancários denunciam abusos e ameaças: 'muitos não suportam mais'

Precarização dos serviços e abusos contra funcionários foram denunciados no ato

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  • Wendel de Novais

Publicado em 12 de janeiro de 2021 às 15:45

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Wendel de Novais/CORREIO

Programa de demissões voluntárias, estabelecimento de metas abusivas e a precarização dos serviços em agências têm preocupado os bancários da Bahia e do Brasil. Por isso, funcionários de  bancos realizaram, na manhã desta terça-feira (12), em frente à agência da Caixa Econômica Federal das Mercês, um protesto contra as demissões de funcionários e o que chamaram de um processo de enfraquecimento e desmonte das instituições bancárias ligadas ao governo para posterior privatização dos bancos. A ação também comemorou o aniversário da Caixa, que completa 160 anos hoje.

A manifestação fez críticas ao Governo Federal, indicando que as práticas da atual gestão são executadas com a intenção de precarizar os serviços prestados ao povo pela instituição e viabilizar a privatização. Os protestos não pararam na Caixa Econômica. O grupo também se dirigiu ao Banco do Brasil, outra instituição bancária estatal que anunciou reestruturação que determina mudanças em 870 pontos de atendimento através do fechamento de agências, postos de atendimento e escritórios. Segundo o sindicato dos bancários, as alterações e outras iniciativas como o Plano de Demissões Voluntárias (PDV) que, segundo os bancários, quer dispensar cinco mil funcionários em todo Brasil são amostras de uma futura privatização do BB. Manifestação fez críticas ao Governo Federal (Foto: Wendel de Novais/CORREIO Desmonte

Augusto Vasconcelos, presidente do sindicato dos bancários, alega que os bancários sofrem de um adoecimento causado pelos bancos através de forte pressão, feita com a intenção de obter demissões voluntárias. "Temos visto muitas demissões e esse número de desligamentos, infelizmente, deve aumentar. No Banco do Brasil, tem programa de demissão voluntária. Em outros bancos, as pressões e metas abusivas impostas aos funcionários forçam demissões. É um verdadeiro processo de desmonte que vemos em bancos como o BB, a Caixa e o Banco do Nordeste", conta Augusto, que afirma que as pressões também ocorrem em instituições privadas.

Em 2020, as instituições bancárias da Bahia demitiram 1198 funcionários e contrataram apenas 761, deixando um saldo negativo de 437 postos de trabalho. Outro número que preocupa é o de acidentes de trabalho. Em 2019, foram 45 no estado. Já em 2020, esse número parou em 683 segundo dados do sindicato. Vasconcelos afirma que essas duas questões têm ligação direta. "Quanto menos funcionários nas agências, mais os que permanecem lá são levados ao limite e isso adoece. Não é por acaso que o número cresceu justamente no momento em que os postos de trabalho são esvaziados de maneira massiva", explica.

Para Vasconcelos, esse cenário das instituições também prejudica os cidadãos. "No caso da Caixa, a diminuição do número de funcionários representa uma fila ainda maior de pessoas nas agências. O que se tem hoje não é capaz de suprir a demanda de todos e quem permanece trabalhando sofre e é levado a exaustão", disse.

Abusos e ameaças Aliado à precarização, o assédio moral é outra situação que preocupa os bancários. No dia a dia das instituições, o que se tem visto é o estabelecimento de metas abusivas e o sobrecarregamento da classe. Uma funcionária da Caixa, que não quis se revelar, afirma que a precarização existe e prejudica quem trabalha na instituição. "O número de colegas da Caixa vai diminuindo e os que ainda conseguem são levados para uma situação que praticamente faz com que se demitam. É muita carga sobre os nossos ombros. Tem gente que não aguenta e sai mesmo", relata. Bancários temem pelo futuro de instituições bancárias estatais (Foto: Wendel de Novais/CORREIO) Outro funcionário da instituição afirma que vive com medo de perder o emprego. "Tem muita gente saindo, muitos que não suportam mais. Eu, por enquanto,  estou aguentando. Mas tenho medo que a situação fique insustentável. Vários colegas estão precisando passar por assistência psicológica. A situação é das mais difíceis", conta o bancário, que vê a agência acumular funções em quantitativo insuficiente de funcionários.

Bancários de instituições privadas presentes na manifestação aproveitaram para se manifestar sobre os problemas no dia a dia das instituições. Uma funcionária do Bradesco e dois funcionários do Itaú denunciaram um estabelecimento de metas exageradas e as práticas de assédio e constrangimento promovidas por gerentes das instituições.

Caixa e BB negam desmonte

Procurados pela reportagem do CORREIO, Caixa e BB negaram acusações de precarização. O BB reafirmou que todas as mudanças promovida na instituição são feitas para melhorar os serviços. "O Banco do Brasil anunciou ontem um conjunto de ações com o objetivo de reforçar a competividade, buscando a perenidade dos negócios, a eficiência operacional e o fortalecimento do protagonismo histórico da Instituição frente ao segmento financeiro. As iniciativas buscam a melhoria da experiência e satisfação do cliente e consideram a transformação digital, o aumento da concorrência e o menor patamar histórico da taxa básica de juros como elementos de destaque", escreveu.

Aprovados à espera

Os manifestantes ainda afirmaram que não há motivo para que o número de funcionários esteja em constante diminuição. De acordo com a Comissão  de Aprovados do Concurso da Caixa, dos 2.236 aprovados no concurso da instituição de 2014, que ainda segue vigente, apenas 531 foram chamados para ocupar seus postos.

*Com orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo