Empresários discutem saídas para aliviar prejuízos gerados pela insegurança

Representantes de diversas entidades debateram o tema em audiência pública em Salvador

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  • Gil Santos

Publicado em 26 de maio de 2022 às 05:45

- Atualizado há 10 meses

. Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

Foram 14 boletins de ocorrências por arrombamentos em menos de dois anos, até que o empresário Carlos Moraes, 68 anos, não suportou mais a situação, agravada pela pandemia, e fechou de vez as portas da loja no Comércio, há quatro meses. Ele estima prejuízo de R$ 500 mil com os furtos. O empresário transferiu o negócio para Itapuã e foi um dos participantes de uma audiência pública realizada pela Associação Comercial da Bahia (ACB), na quarta-feira (25), para discutir a insegurança no estado.

Carlos ainda tem dois prédios comerciais no bairro do Comércio. Nas 14 ocorrências foram furtados fios de cobre e peças de alumínio, latão e aço. Ele contou que outra loja, na mesma região, foi arrombada seis dias seguidos, mas frisou que esse não é um problema exclusivo dessa região da cidade.

“Eles [ladrões] derretem o fio e vendem o quilo do cobre a R$ 30. Minha loja é de ferragens e tenho no meu estoque material do tempo do meu avô, há 60 anos. É um prédio de 800 metros quadrados que teve alumínio, latão, cobre e aço roubados para vender no ferro velho. São quase 100 anos de empresa, mas não tive outra solução”, diz.

Ele faz parte do Conselho de Segurança do bairro e acompanhou a audiência pública de quarta. O presidente da ACB, Mário Dantas, contou que o objetivo do encontro foi pensar soluções práticas em conjunto que possam ser adotadas para mitigar os efeitos da criminalidade. Participaram integrantes de diversas entidades.

“Fizemos uma discussão muito produtiva na qual a Associação Comercial da Bahia e o conselho das entidades empresariais se colocaram de uma forma proativa e propositiva, em que ao invés de perguntar o que o estado pode fazer por nós, perguntamos o que nós podemos fazer pelo estado para criar um melhor ambiente na questão da segurança pública, para que possamos vivermos em paz com nossas famílias e ao mesmo tempo desenvolvermos nossas atividades empresariais”, explica.

Um grupo de trabalho foi criado para dar continuidade a discussão e pensar estratégias. Dantas diz que não é possível mensurar o tamanho do estrago que a violência provoca no setor, mas revela que os números são altos: “O prejuízo é muito significativo, mas é absolutamente impossível de quantificar. Sem dúvida é de uma dimensão elevada, mas precisamos entender que a sociedade civil tem que fazer a sua parte”.

Discussão  As policiais Civil e Militar enviaram representantes para o debate e apontaram a fragilidade das leis e a sensação de impunidade como fatores que facilitam e estimulam a criminalidade. O delegado Jorge Figueiredo deu um testemunho particular. “Eu já tive o prazer e o desprazer de prender as mesmas pessoas diversas vezes”, declara.

O presidente da Associação Brasileira de Shoppings Centers (Abrasce), Edson Piaggio, contou que cerca de 450 mil pessoas circulam pelos shoppings de Salvador, diariamente, e lembrou que existe um projeto para que câmeras de reconhecimento facial sejam instaladas nesses estabelecimentos, como já acontece na Rodoviária. O presidente da ACB disse que essa medida está sendo discuta com a Secretaria de Segurança Pública.

Outra ideia debatida foi a elaboração de campanhas publicitárias para divulgação do programa Alerta Celular, através do qual aparelhos celulares roubados, furtados ou extraviados podem ser bloqueados pelas vítimas e inutilizados. O presidente da comissão especial de Sistema Prisional e Segurança Pública da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-BA), Vinicius Dantas, destacou que a questão da segurança pública é atravessada também por problemas educacionais e sociais.

“É preciso pensar em atitudes de curto, médio e longo prazo. É preciso retirar do seio da sociedade aquele que está delinquindo, mas também pensar em como ressocializá-lo. É necessário também traçar um plano para que as nossas crianças não adentrem esse caminho. Só assim teremos um futuro com mais paz. Se pensarmos só no hoje não teremos um futuro promissor”, diz.

O Ministério Público e o Tribunal de Justiça da Bahia também foram convidados para a audiência pública, mas não enviaram representantes.

Prejuízos  Durante a audiência pública, alguns empresários lembraram que além dos prejuízos com assaltos, furtos e arrombamentos existem despesas extras com a compra de novos portões, mais cadeados e sistemas de proteção. Em Paripe, no Subúrbio Ferroviário, o dono de uma loja de roupas, que pediu para não ser identificado, conta que investiu quase R$ 5 mil em sistema de vigilância.

“Foram três assaltos em um intervalo de dois meses, além de pequenos furtos. Tive que contratar um sistema para ver se conseguia inibir os criminosos. Sei que isso sozinho não resolve, mas desde que foi instalado não tive mais problemas”, garante.

Em Valéria, outra comerciante se queixou que os constantes tiroteios têm impedido o funcionamento pleno do comércio, o que impacta no faturamento. O presidente do Conselho de Segurança do bairro do Comércio, Nelson Tupiniquim, contou que, na região, os crimes mais frequentes são roubos de correntes e outros objetos de pedestres e arrombamento de lojas. Os empresários se reuniram e instalaram cinco câmeras no bairro.

“Podemos acompanhar as imagens em tempo real através do celular e vinculamos as nossas câmeras ao sistema da polícia. Nossa intenção é ampliar o serviço para outras áreas do bairro, mas isso precisa de tempo e de investimento”, afirma.