Empresários dizem como fugir das zonas de conforto

Mudança de carreira ajuda a ganhar novo fôlego profissional

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  • Carmen Vasconcelos

Publicado em 2 de março de 2020 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Divulgação

Durante 17 anos, o engenheiro mecânico Rogério Augusto trabalhou para uma grande empresa de eletrodomésticos. O salário era interessante, as promoções chegavam de acordo com as entregas e os benefícios justificavam   sua permanência. 

Com a carreira estabelecida, vida familiar equilibrada, ele percebeu sinais de estagnação e desmotivação. “No meu caso, não houve uma razão específica para desejar uma mudança de profissão, na verdade, tudo teve um início bem despretensioso”, conta. 

Em setembro de 2015, com 40 anos de idade, ele se desligou da Electrolux e, em dezembro do mesmo ano, a Phosfato, clube de assinatura de revelação surpresa de fotos, entrava no ar oficialmente. “A partir daí, comecei uma jornada maluca e arriscada, junto com um dos sócios, Raphael Mendonça, que conheci ainda estava na antiga empresa, descobrimos um interesse comum em realizar algo, empreender e sair da desconfortável zona de conforto”, conta.

A mudança de profissão depois que carreiras estão estabelecidas não é uma novidade e tão pouco algo raro no mundo corporativo. 

Novos cenários  Para o especialista em Recursos Humanos e empresário Wladimir Martins, essas transformações estão diretamente relacionadas ao novo momento vivido na sociedade e na economia, onde há uma tendência para a quebra de antigos modelos. 

“Estamos vivendo uma revolução tecnológica e novos desafios começam a ser apresentados no mundo do trabalho. Quando isso se une ao perfil comportamental de profissionais inquietos ou inconformados, esse movimento de abandono do consolidado por outros desafios torna-se algo natural”, defende.

Martins ainda salienta que outros profissionais também se sentem frustrados por não alcançar um sentimento de felicidade nas funções desenvolvidas e a perspectiva de uma nova carreira é a motivação necessária para buscar essa felicidade. 

“O fato é que sem propósito, dificilmente um ambiente corporativo consegue manter seu quadro de funcionários”, diz.  Quando o assunto é motivação e felicidade no ambiente corporativo, o consultor de carreiras e escritor Victoriano Garrido é enfático em afirmar que os seres humanos são movidos por desafios, e que nada é tão determinante como a infelicidade para essa guinada na carreira. 

“Organização Mundial de Saúde aponta que a depressão no mundo corporativo será a segunda principal causa de afastamento de profissionais desse ambiente, por isso, estar feliz no que se faz é tão importante”, diz. 

Planejamento  Rogério reconhece que mudar de carreira significa dar alguns bons passos atrás para criar a oportunidade de dar um grande passo para frente. “Mas esse processo é doloroso e pesado emocionalmente”, pontua, ressaltando que planejamento financeiro e resiliência são fundamentais para atravessar a fase de mudança com saúde emocional. “A zona de conforto é um lugar perigoso. É  lá que o tempo passa e que as oportunidades são negligenciadas. O medo da mudança faz parte do processo, mas é preciso enfrentá-lo de forma racional, com planejamento e com uma pequena dose de loucura também”, garante.

Wladimir Martins defende que antes de definir quaisquer mudanças, é fundamental que os profissionais mergulhem num exercício de auto conhecimento e identifique quais as áreas ele gostaria e poderia atuar. 

“Construir uma segunda carreira será um grande desafio profissional, por isto é importante realizar esta construção de maneira sólida e consistente, evitando assim possíveis frustrações. Aposte em algo que você goste muito e que lhe dará muito prazer. A felicidade no ambiente de trabalho é fundamental”, reforça Martins.

O especialista em RH lembra ainda que a atuação dos analistas de carreira podem ajudar no processo de transição. “O planejamento é imprescindível, sempre respeitando uma cronologia, nada de atitudes ansiosas que podem levar a transição ao fracasso, uma boa construção para a mudança é fundamental. Não se precipite, tenha sempre foco no objetivo e no propósito”, finaliza.  Acúmulo de experiências e habilidades Apesar dos analistas de carreiras apostarem que o profissional 4.0 será um indivíduo com múltiplas habilidades e competências e formações diversas, os especialistas em gestão de carreira são enfáticos em salientar que cada formação profissional precisa acontecer dentro de um tempo específico e de acordo com as maturidades pessoais. 

“Acredito que estar preparado para mais de uma carreira sempre será um grande diferencial no mercado, porém, cada uma a seu tempo, duas ou mais formações de uma única vez poderá acarretar a perda do foco e assim não se completar nenhuma delas”, defende Wladimir Martins, ressaltando que a diferença é ter experiência e vivência em duas carreiras diferentes, mas não desenvolver duas carreiras ao mesmo tempo.

Martins salienta a importância de construir um planejamento estratégico pessoal, avaliando os cenários e, em seguida, estabelecer um bom plano de, principalmente colocar o mesmo em execução. “Para realizar uma transição de carreira de forma consistente e sustentável, não se deve ter correrias e atropelos, a ansiedade pode ser um grande fantasma no processo de mudança de carreira”, complementa Martins.

Com posicionamentos próximos, o advogado e fundador da Suprevida, Rodrigo Correia, diz que desistiu das faculdades de Administração ou de Propaganda e Marketing por saber que não daria conta de tudo ao mesmo tempo e que, a invés de dispersar energia, preferiu focar tudo no Direito.

“Acredito mais em uma sequência em que você começa em um lugar e depois pode ir caminhando em outra direção sem rupturas abruptas. Tenho muita realização e amor por minhas carreiras anteriores: Direito, Consultoria e Acadêmica, ou seja, não tenho insatisfação, por isso esse novo amor não substitui os anteriores”, defende Rodrigo.

Para ele, é importante que o  profissional não abandone completamente os ativos que já construiu em sua vida, conhecimentos, capacidades, relacionamentos, mas que os use como uma plataforma para construir seus próximos passos. " Faltaria a vivência para a pessoa realmente se realizar e brilhar em duas carreiras simultâneas", diz.  A experiência familiar possibilitou que o advogado Rodrigo Correia investisse num negócio próprio voltado para a oferta de serviços de saúde (foto: Divulgação) Rodrigo Correia da Silva"Entre 2017 e 2019, minha família vivenciou com o meu pai a dificuldade para encontrar cuidados e materiais pós-cirúrgicos após a retirada de um câncer de intestino e isso me inspirou e impulsionou para assumir a linha de frente da construção de um projeto para solucionar essa dor. Além do que eu intelectualmente sabia, vi na minha família que a nossa saúde tem momentos e nessa correria do dia a dia, nessa avalanche de informações e de possibilidades, há situações em que ficamos desamparados e sem saber muito o que fazer. Por isso, senti uma vontade irresistível de ajudar pessoas na mesma situação. Como penso que os negócios e o empreendedorismo são fatores poderosos para a mudança social por meio de negócios que sejam ao mesmo tempo sustentáveis e tenham impacto social positivo, a Suprevida acaba sendo a concretização desse impulso. 

Eu tenho uma vivência de 20 anos atendendo empresas de diversos setores como advogado e consultor com uma ênfase no setor de saúde, além disso sempre mantive atividades acadêmicas e de liderança em Câmaras de Comércio. Já fundei outras empresas e junto com o direito, por um ano, cursei administração e por outro propaganda e marketing. Sempre fui inquieto e muito curioso. Estudar o setor de saúde brasileiro me fascina pela sua complexidade e impacto social. Pensando em carreira como a minha trajetória profissional, não sinto muito como caminho que apague o que já foi trilhado. Vejo mais como uma continuidade da minha trajetória em que vou acrescentar um conjunto novo de atividades e desafios que vão ao mesmo tempo enriquecer e se apoiar no que foi vivido até aqui. 

Eu já conhecia as deficiências de suprimento domiciliar pelas minhas atividades e estudos, mas vivenciar isso é que me sensibilizou para essa dor específica a ponto de querer contribuir para a democratização da saúde domiciliar,  com todos os riscos que isso embute".