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Da Redação
Publicado em 20 de abril de 2022 às 05:15
Recentemente, tomei conhecimento do caso de um paciente que recebeu de um médico de especialidade diferente da urologia a solicitação de uma ressonância magnética (RM) multiparamétrica da próstata, um exame bastante específico. O profissional que assinou o laudo registrou que o paciente apresentava uma lesão altamente suspeita, informação que surpreendeu o urologista que há mais de 17 anos acompanha o paciente e jamais identificou alterações no exame de toque retal ou nas dosagens de PSA que justificassem a realização da RM. Se o resultado tivesse sido apresentado a um urologista que não conhecesse o histórico do paciente, ele imediatamente indicaria uma biópsia de próstata, procedimento invasivo que pode originar desde pequenos sangramentos (retais e uretrais) e infecções urinárias até uma infecção generalizada, com risco de morte e que, por isso, só deve ser solicitado em caso de real suspeita de câncer.>
Este caso emblemático aponta para uma velha (mas sempre atual) polêmica: a solicitação exagerada de exames médicos, uma verdadeira epidemia da contemporaneidade! Muito além do desperdício de recursos financeiros, que acaba voltando para o paciente na forma de aumento das mensalidades dos planos de saúde, realizar exames preventivos desnecessários representa riscos. Um bom exemplo são os Raios-X e as Tomografias Computadorizadas, cujo efeito cumulativo no organismo pode danificar tecidos. Poucos pacientes na faixa dos 35 anos precisam fazer endoscopia ou colonoscopia, mas o que se vê é uma enxurrada de pedidos que não consideram protocolos. Isso sem falar nos infinitos exames de sangue prescritos de modo aleatório. >
Já está mais do que provado que cuidar da saúde vai além de procurar doenças, já que, além de efeitos adversos na saúde física, a realização exagerada de exames pode afetar a saúde psicológica do paciente, por gerar ansiedade e/ou estresse desnecessários. Para evitar essa pressão, algumas atitudes podem ser adotadas. A primeira é ter um médico de referência, que acompanha o histórico de saúde do paciente e considera faixa etária, morbidades, sintomas e outras particularidades na hora de solicitar exames. >
Outra atitude importante é levar exames anteriores para as consultas, a fim de não repeti-los sem motivo. Por fim, vale adotar uma postura proativa e investigar a real necessidade de realização de alguns exames. Perguntar ao médico a razão de cada pedido não significa que a pessoa duvida dos conhecimentos do profissional. Revela apenas que o autocuidado inclui o consumo consciente dos serviços de saúde. >
Augusto Modesto é chefe do serviço de Urologia do Hospital Aristides Maltez, preceptor de Urologia no Hospital São Rafael, urologista no Hospital Aliança e integrante do Robótica Bahia – Assistência Multidisciplinar em Cirurgia. >