A quarta-feira de cinzas não teve cara de final de Carnaval para As Ganhadeiras de Itapuã e muito menos para os carnavalescos Tarcísio Zanon e Marcus Ferreira, autores do enredo campeão do Grupo Especial do Carnaval do Rio de Janeiro.
O enredo "De Alma Lavada", que homenageia o grupo musical baiano, já havia vencido o Estandarte de Ouro, premiação do jornal O Globo, e nesta quarta fechou conseguiu o principal prêmio da folia carioca.
Os carnavalescos, que são casados há quatro anos e já tinham conquistado títulos no Grupo de Acesso do carnaval carioca, conversaram com repórter Daniel Aloísio, do CORREIO, direto dos bastidores na festa da Viradouro na quadra da escola, e aproveitaram para mandar um recado para as baianas mostradas na Sapucaí como um exemplo do protagonismo feminino na História do Brasil.
Zanon falou ainda sobre a felicidade de levar para Niterói o segundo título da história da escola, que só tinha vencido em 1997, ainda com o lendário carnavalesco Joãosinho Trinta.
"Estamos muito felizes. É uma realização para a Viradouro de Niterói. O sonho realizado: trazer o segundo campeonato pra essa escola (...) e trazer a força e a garra da mulher brasileira, da mulher baiana, que lutaram muito para alforriar suas parceiras e hoje são artistas que cantam a história de suas ancestrais. Essa vitória não é só nossa. Essa vitória é da Bahia, essa vitória é de Itapuã, essa vitória é de todas as mulheres brasileiras", comentou Zanon.
Ferreira também exaltou o papel das musicistas baianas e falou da expectativa para o Desfile das Campeãs, no final de semana. "Meninas, ganhadeiras, sábado estaremos aqui com a graça de fechar o Carnaval sendo campeão, e essa vitória a gente dedica a vocês. Fomos agraciados com o Estandarte de Ouro de melhor enredo do Carnaval, então, é tudo por vocês, pelo povo baiano, pelo povo brasileiro que ergue a história do país e que são desconhecidas pela grande massa, só que agora vocês estão sendo vistas pelo mundo".
Veja o vídeo com os recados.
Festa em Itapuã
Se a festa na quadra da Viradouro não tinha hora pra acabar, em Itapuã o esquema também não parecia muito diferente no Bar da Tina, onde o CORREIO também esteve na noite desta quarta.
Com o samba enredo na ponta da língua, e um carro de som na rua para ajudar, a galera se juntou no local desde cedo, para acompanhar a apuração, no início da tarde. Apesar do nevorsismo, a esperança da vitória era grande, ainda mais depois do Prêmio Estardarte de Ouro, do jornal O Globo, considerado um ótimo termômetro do desfile. "Nós merecíamos esse presente, Itapuã merecia", disse Dona Lucinha ao microfone, que participou do desfile no Rio, e no Carnaval de Salvador se apresentou nos bairros de Itapuã e da Liberdade junto ao grupo.
Dona Mariinha, 85 anos, outro patrimônio do grupo, disse que só não chorou com a vitória porque não é de chorar. Mas não parava de agradecer. Ela, que também esteve no desfile no domingo, vai voltar com um grupo para o Desfile das Campeãs. A expectativa é que a comitiva supere as 30 pessoas que viajaram na semana passada. "Está todo mundo emocionado, não tem como ir menos", aposta Salviano Filho, diretor administrativo e artísitico do grupo.
Mariinha contou que perdeu a filha Solange há oito meses, quando os carnavalescos da Viradouro anunciaram a homenagem. Mesmo desanimada, a comunidade manteve o desfile à pedido de Solange, como uma maneira de levar a história de luta das baianas para o mundo.
"Isso é por ela, e para ela. Depois que ela faleceu, perdemos o brilho, não queríamos nem mais desfilar. Mas foi ela mesmo quem nos incentivou a todo tempo, e nos disse que íriamos ganhar", lembra Ana Lúcia, amiga pessoal de Solange e ex-moradora do bairro. Clique aqui para ler a reportagem completa de Marília Moreira e imagens do repórter fotográfico Tiago Caldas.
Foto: Daniel Aloísio/CORREIO |
Veja a letra do samba:
Ora yê yê o oxum! Seu dourado tem axé
Fiz o meu quilombo no Abaeté
Quem lava a alma desta gente veste ouro
É Viradouro! É Viradouro!
Levanta preta que o Sol tá na janela
Leva a gamela pro xaréu do pescador
A alforria se conquista com o ganho
E o balaio é do tamanho do suor do seu amor
Mainha, esses velhos areais
Onde nossos ancestrais
Sempre acordam a manhã
Pra luta
Sentem cheiro de angelim
E a doçura de quindim
Na bica de Itapuã
Camará ganhou a cidade
O erê herdou liberdade
Canto das Marias, baixa do dendê
Chama a freguesia pro batuquejê
São elas dos anjos e das marés
Caboclas do balangandã, ô iaiá
Ciranda de roda na beira do mar
Aguadeira que benze e vai pro terreiro sambar
Ganhadeira de fé!
É a voz da mulher
Xangô ilumina a caminhada
A falange está formada
Um coral cheio de amor
Kaô! O axé vem da Bahia
Esta negra cantoria
Que Maria ensinou
Oh mãe ensaboa
Mãe ensaboa pra depois quarar