Estudantes criam dispositivo para fazer doações a moradores de rua

“Bag To Rise” foi o projeto que venceu neste domingo (25) o Desafio Fórum Agenda Bahia

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  • Alexandre Lyrio

Publicado em 26 de agosto de 2019 às 06:05

- Atualizado há um ano

. Crédito: Tiago Caldas

Antes de qualquer algoritmo, circuito elétrico ou sistema androide, existia a vontade de ajudar os necessitados. Três alunas do Centro Juvenil de Ciência e Cultura buscavam uma forma de fazer doações para moradores de rua quando foram pegas de surpresa: descobriram que a solução estava na robótica. Assim nasceu o “Bag To Rise”, algo como “mochila para se reerguer”, projeto que venceu neste domingo (25) o Desafio Fórum Agenda Bahia/Olimpíada Brasileira de Robótica (OBR), parceria entre o jornal CORREIO, o Sesi e a Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb). 

O Bag To Rise é um dispositivo adicional para aplicativos de transportes (como Uber ou 99 Pop) que pode ser usado para fazer doações aos sem-teto que vivem nas ruas da cidade. A ideia é usar a rede logística, o meio de transporte e os motoristas dos apps para distribuir mantimentos, roupas e material de higiene pessoal. Tudo seria colocado dentro de uma mochila, que pode se transformar também em um saco de dormir. Daí o nome do projeto. Vencedores do Desafio Fórum Agenda Bahia, membros do Centro Juvenil de Ciência e Cultura comemoram (Foto: Valter Pontes/Coperphoto/Sistema FIEB) A ideia nasceu de uma conversa entre as estudantes Vitória Souza Santos, 17 anos, Ana Clara Souza Santos, 16, e Leila de Jesus Nascimento, 18, com o professor de robótica da escola, Elton Barreto. Elas nunca haviam trabalhado com plug-ins ou robótica. O professor então chamou outros alunos para, junto com as meninas, desenvolver o aplicativo. No total, oito jovens entre 14 e 19 anos desenvolveram o dispositivo.“A gente queria ajudar moradores de rua e até fizemos um Instagram para arrecadar donativos. Mas aí o professor  chegou e disse: ‘Por que a gente não leva essa ideia para meus alunos de robótica’. Pronto. Com esse dispositivo teremos como distribuir as doações”, acredita Leila.O professor Elton Barreto explicou que, além de servir para carregar mantimentos e cobrir os sem-teto, a mochila funciona como uma espécie de marketing para as empresas e como identificação dos moradores. “A mochila ‘credencia’ a pessoa a receber as doações e ainda divulga a marca da empresa”.     

Inovadora O Desafio Fórum Agenda Bahia, que aconteceu dentro da OBR, teve a participação de cinco equipes, formadas por estudantes dos ensinos fundamental, médio e técnico. Elas foram desafiadas a pensar soluções inovadoras capazes de melhorar a qualidade de vida em Salvador. A equipe vencedora do desafio vai receber uma webserie produzida pelo Correio, com imagens da trajetória do time. 

Além disso, os ganhadores vão apresentar sua ideia no Fórum Agenda Bahia, que vai acontecer em 3 de outubro. Os vencedores, que criaram o projeto Bag To Rise, agora convocam as empresas de aplicativo de transportes e o poder público para tornar o dispositivo uma realidade. “Agora precisamos das empresas ou do governo para viabilizar”, disse o professor de Robótica.

Além do Centro Juvenil de Ciência e Cultura, as equipes participantes foram formadas por estudantes do Colégio Estadual Mestre Paulo dos Anjos (Bairro da Paz), do Instituto Federal da Bahia (Ifba), Escola SESI Candeias e Escola SESI Reitor Miguel Calmon (SESI Retiro). Confira nos perfis de cada equipe qual foi o projeto desenvolvido por cada uma delas.  O Centro Juvenil de Ciência e Cultura criou o dispositivo Bag To Rise, para aplicativos de transportes distribuírem doações para moradores de rua  (Foto: Tiago Caldas) O Programa Olhando para o futuro, do Sesi Candeias, criou um projeto de reciclagem do óleo de cozinha para transformá-lo em sabão (Foto: Roberta Rocha/Sesi/Sistema FIEB) Os estudantes do Colégio Estadual Mestre Paulo dos Anjos, no Bairro da Paz, criaram o aplicativo Localiza Fácil, baseado no Google Maps. O Localiza Fácil apresenta diversas ferramentas para quem tem dificuldade de leitura ou não sabe lidar com tecnologia (Foto: Roberta Rocha/Sesi/Sistema FIEB) Os estudantes do Ifba criaram um aplicativo de realidade aumentada com informações turísticas sobre igrejas e estruturas de prédios históricos de Salvador (Foto: Roberta Rocha/Sesi/Sistema FIEB) A Escola SESI Reitor Miguel Calmon criou um aplicativo que reconstrói casarões antigos de Salvador. O aplicativo funcionará como um guia-turístico  (Foto: Roberta Rocha/Sesi/Sistema FIEB) Todos os estudantes trabalharam com uma das temáticas do Agenda Bahia deste ano: Cidades CrI.A.tivas. O tema principal do Fórum é  [A.R.] evolução. “Este ano, uma das novidades do Agenda Bahia é o projeto ‘Tecnologia para o Bem de Todos’, uma parceria com a Fieb e o Sistema S. Ampliamos nosso desafio para os estudantes dos ensinos Fundamental e Médio. Eles combinaram criatividade e tecnologia com impacto social. Além do legado para as cidades baianas, os estudantes descobriram que podem ser agentes de transformação ”, acredita Rachel Vita, curadora do Fórum Agenda Bahia. O seminário [A.R.] vai mostrar as inovações que pautam os novos investimentos e avançar no debate de como o homem pode se apropriar das tecnologias para se inserir nos novos tempos. 

A gerente de educação e cultura do Sesi, Cléssia Lobo, disse que os estudantes são estimulados a utilizar a robótica para pensar soluções de problemas reais. A gente tem a robótica como um ambiente de aprendizagem e metodologia, que deve favorecer o estudante a pensar sobre o que está aprendendo, a propor soluções para problemas reais e com isso ver significado no que aprende. Só que mais do que capacidades cognitivas, buscamos também desenvolver o empreendedorismo e conhecimento tecnológico, afirmou Cléssia.

Vencedores disputam etapa nacional Pode ter sido um desabamento, uma explosão ou qualquer coisa capaz de destruir um prédio. O cenário imaginado é de tragédia, com mortos e feridos. A função dos robôs? Fazer o resgate dessas vítimas sem que fosse necessário colocar em risco outras vidas humanas.   Robôs foram construídos por jovens baianos para resgatar vítimas sem colocar em risco outras vidas (Foto: Tiago Caldas) O circuito realizado pelas máquinas criadas por 115 equipes de robótica formadas por jovens do ensino fundamental, médio e técnico simulava um desastre. As equipes se reuniram sábado e domingo no estacionamento I do Shopping da Bahia e tentavam garantir uma das duas vagas para a fase nacional da Olimpíada Brasileira de Robótica (OBR).

Os vencedores foram anunciados em uma tarde de domingo empolgante, com o estacionamento lotado de estudantes, professores e familiares. Os ganhadores da categoria N1 vieram do Colégio Nossa Senhora de Fátima, de Vitória da Conquista. A equipe Robotic Masters, fomada por Danilo Sobrinho, 13 anos, Caio Chaves, 12, e Artur Amorim, 13, fizeram o robô Molecão MK3 cumprir bem a tarefa. “Não dá pra trabalhar sozinho na robótica. Esperamos agora ganhar a competição nacional. É complicado, tem muita gente boa, mas temos chances”, disse Arthur Amorim.“O diferencial dessa equipe é a divisão de trabalho. Cada um é responsável por uma coisa. Temos um exímio montador, um excelente programador e um cara que junta os dois e tem muita serenidade para trabalhar e competir”, explicou o professor de robótica, Matheus Lima Viana.

A equipe vencedora da categoria N2 veio de Feira de Santana. A New Horizons, da Escola Sesi José Carvalho levou três meses para construir o robô Scorpions, que conseguiu resgatar uma boa quantidade de vítimas. “Muita dedicação, muito esforço”, disse Gabriel Costa Batista, 17 anos. “O engajamento e o treinamento que eles tiveram, além da inteligência para resolver os problemas fazem deles diferenciados. Eles se completam”, afirmou o professor .

“Agora é se recompor, estudar e verificar quais foram as falhas de Scorpions para a competição nacional”, disse Matheus Campos Ribeiro, 17 anos. O Coordenador de Robótica do SESI Bahia, Fernando Didier, explica que apenas duas das três pontuações são somadas para chegar ao campeão de cada nível - o 1º formado por estudantes do ensino médio e o 2º com alunos do ensino médio e técnico.

Com o tempo entre os rounds, os jovens não paravam descansar. Eles continuam trabalhando para fazer melhorias nos seus robôs e conseguir vencer os obstáculos da pista, que ficavam cada vez mais complexos. “No primeiro round, a gente teve problemas que não podíamos ter no segundo. Mas aí surgiram novos problemas”, disse Mateus Salmeraon, que fez parte da equipe EVINNICIUS3.

Robótica  atrai cada vez mais jovens A OBR que ocorreu nesse final de semana no Shopping da Bahia mostrou que robótica é um assunto que atrai cada vez mais interessados e empolga cada vez mais estudantes. Só para se ter uma ideia, nesta edição de 2019, foram 800 estudantes inscritos na OBR da Bahia. 

Há 10 anos, a participação era muito mais modesta. Em 2009, apenas quatro  equipes competiram para uma vaga na etapa nacional, informou o Coordenador de Robótica do SESI Bahia, Fernando Didier. “A robótica vem crescendo de forma exponencial. Essa empolgação toda que você viu é cada vez maior”, garante.   

O processo de construção do robô é um compromisso de até seis meses e que inclui muitas horas de trabalho. A equipe Midas, da Escola SESI João Ubaldo Ribeiro, em Luís Eduardo Magalhães, tirou a máquina do papel em cerca de dois meses. “Nosso robô teve diversas modificações”, relatou Nádson Kauã Oliveira, 16, membro do time. 

O curioso é que a robótica interage com as mais diversas áreas. Enquanto muita gente acredita que os robôs podem substituir o ser humano para roubar os seus empregos, quem trabalha com robótica diz que na verdade é o contrário. “A gente pensa no emprego, mas não pensa na qualidade do trabalho. Vou usar o exemplo mais extremo. É melhor usar uma vida humana para salvar uma bomba ou usar um robô? Assim pode ser com diversas áreas. Os robôs estão aí para nos ajudar”, disse o professor de robótica, Matheus Lima Viana.