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Da Redação
Publicado em 1 de julho de 2022 às 06:30
- Atualizado há 2 anos
A história do Brasil é recontada através do ponto de vista dos povos indígenas e africanos na 6ª edição do projeto Era Uma Vez… Brasil, que leva adolescentes de escolas da rede municipal de Salvador e Mata de São João para vivências em quilombo e aldeia indígena. A iniciativa é dividida em quatro fases e cerca de 100 alunos estão na segunda, chamada Campus, que é uma imersão, onde os participantes ficam acampados em uma escola por sete dias e conhecem a cultura dos povos originários. Desde a primeira edição do projeto, em 2016, mais de 5 mil estudantes baianos já participaram da primeira etapa. >
Em cinco anos consecutivos de projeto, foram beneficiados quase 11 mil adolescentes de 414 escolas públicas localizadas em 27 municípios nos estados da Bahia, Pernambuco, São Paulo e Rio de Janeiro. Segundo o coordenador pedagógico do Era Uma Vez… Brasil, Guilherme Parreira, o grande objetivo da iniciativa é ressignificar a história e a cultura do Brasil, trabalhando com a história dos povos originários que já estavam no Brasil antes da chegada dos portugueses e também dos povos africanos que foram escravizados. >
“São quatro etapas, a primeira é chamada de “Fatos Históricos”, em que 30 professores de história de 27 escolas de Salvador e Mata de São João, que dão aula para alunos do 8° ano, que são o nosso público-alvo, são chamados para encontros mais teóricos e práticos, uma formação e capacitação, incluindo vivências culturais de temática indígena e afro-brasileira, para enriquecer ainda mais as aulas de história. A partir daí, esses docentes propuseram atividades em sala de aula para os mais de 300 alunos inscritos, que produziram histórias em quadrinhos (HQs) ”, detalha Parreira. >
Após passarem pela primeira etapa, os alunos seguem para o Campus, onde ficam acampados em um colégio de Mata de São João por uma semana. Lá eles interagem com outros estudantes, professores e também têm a oportunidade de conhecer quilombos e comunidades indígenas para trocarem conhecimento e cultura. Rejane Rodrigues, do Quilombo Quingoma, localizado em Lauro de Freitas, que foi visitado pelos estudantes do projeto, contou dá continuidade a luta dos seus ancestrais e por isso é tão importante a troca de informações.“Nós contamos a história real do Brasil, tirando a história fantasiosa que contam nos livros de “descoberta”. É fantástico fazer essa troca de informação, porque o objetivo das comunidades tradicionais está na oralidade, na transmissão do saber através da comunicação, em manter viva a nossa cultura”, comentou. O estudante João Vitor Souza, de 13 anos, que mora em Mata de São João, afirmou que o desejo de saber mais sobre a cultura do Brasil o levou ao quilombo e a comunidade indígena. “Quero saber sobre os povos que foram e ainda são historicamente excluídos, quero abrir minha mente para aprofundar mais nessa temática. Eu aprendi sobre as história dos afro brasileiros, fui para quilombos e comunidades indígenas, foi importante conversar com eles, ter outra perspectiva sobre como é a vivência deles, as histórias e as culturas, que são muito ricas”, destacou o aluno. A vivência promove a interação e a troca de afetividades entre os jovens e as comunidades (Foto: Arisson Marinho) Em uma das atividades no quilombo, sobre resgate da afetividade, foi quando Pérola Santos, 16, de Salvador, se sentiu mais acolhida e, segundo ela, o sentimento é inexplicável. Era um corredor onde as pessoas ficavam enfileiradas, cada estudante passava de olhos fechados e, a cada tropeço, alguém o abraçava e o guiava. "Foi uma sensação muito boa para mim, não consigo nem dizer como me senti, foi muito lindo. Estou aprendendo muitas coisas que eu nunca pensei que pudesse ter a chance de conhecer e vivenciar. Mesmo que eu não passe por todas as fases, já está sendo incrível e muito divertido", disse a participante. >
"Toda a experiência tem sido incrível, principalmente porque eu sempre gostei muito de história. O que mais me chamou a atenção nas comunidades foi a dança, as músicas, a comida e a religião. Eu fiquei realmente encantado e muito feliz em poder conversar e conhecer um pouco mais da cultura deles", destacou o Pedro de Jesus, 13. Na penúltima fase, os adolescentes selecionados, um total de 100 espelhamos por todo o Brasil, seguem para Lisboa, em Portugal. “Todos os alunos selecionados se encontram para levar essa discussão histórica sobre o nosso país. Lá a gente busca entender: quando eles falam da colonização e do Brasil, quais termos eles utilizam? Como eles ensinam essa temática hoje? Então temos esse intercâmbio educativo e cultural. Também visitamos tudo que tem a ver com o Brasil lá, castelos, palácios, locais onde a família real morou", explica o coordenador pedagógico. >
“Nosso foco é valorizar a perspectiva dos povos indígenas e africanos na formação identitária histórica e cultural do Brasil, exaltando a ancestralidade, diversidade, pluralidade, multiplicidade e trabalhando conceitos importantíssimos como antirracismo, afrocentricidade, indigenismo e ecossocialismo em todas as etapas do projeto”, destaca Marici Vila, diretora executiva da Origem Produções, empresa idealizadora do Era Uma Vez…Brasil. >