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Da Redação
Publicado em 29 de julho de 2022 às 09:30
Duas estudantes que foram alvos de intolerância relgiosa na escola, por serem de religião de matriz africana, foram acolhidas na última quinta-feira (28) por representantes da Secretaria Municipal de Educação de Lauro de Freitas. As adolescentes foram acusadas, na última sexta-feira (22) de terem provocado um surto de mal estar coletivo na Escola Municipal 2 de Julho, em Itinga, por conta da religião.>
O mal estar teve início quando as irmãs foram ao banheiro para uma delas lavar o rosto porque sentia dor de cabeça, momento que deu origem aos boatos sobre uma suposta manifestação de entidades cultuadas pelo candomblé, o que levou à histeria coletiva na escola.>
Acompanhadas do pai, o vigilante Kleber Ferreira, as alunas da Escola Municipal 2 de Julho foram ouvidas pela secretária Vânia Galvão, pelo coordenador-executivo da pasta, Vitor Veiga, e pela coordenadora de qualidade do ensino da SEMED, Nadjena Miranda. Participaram também do encontro a superintendente da Secretaria da Promoção da Igualdade Racial (SEPADHIR), Aline Santos, o coordenador de Direitos Humanos da pasta, Gabriel Sodré, e a assessora do órgão, Luciana Nascimento.Acompanhamento psicológico Diante do dano aos estudantes adeptos às religiões de matriz africana, a SEMED se comprometeu com o pai a prestar acompanhamento psicológico às alunas, que, até antes do episódio, relataram nunca terem sofrido racismo religioso por parte dos colegas de escola.>
“A visita foi importante para esclarecer os fatos, que foram aumentados no fim de semana, de uma forma que fugiu ao controle”, disse o pai das meninas. “Quero que elas continuem na escola mais próxima de casa, com segurança, pois é um direito delas”, continuou.>
A secretária Vânia Galvão também se comprometeu a convocar uma nova reunião com a direção, além dos funcionários da escola, para alinhar a necessidade do respeito à diversidade previsto no livre direito de manifestação religiosa garantido pela Constituição Federal.>
“Nesse primeiro momento, o mais importante é que as meninas retornem às aulas com tranquilidade”, disse Galvão. “Vamos fazer os acompanhamentos necessários para que isso não volte a se repetir. A escola é laica, sem lugar para qualquer discriminação”, completou.>
Nesta quarta-feira (27), representantes das duas pastas discutiram ações para conscientização, na escola, da aplicabilidade da Lei 10.639/2003 (alterada para 11645/08), que define as diretrizes sobre o ensino da História e Cultura Afro-brasileira e Indígena.>
Além da intervenção pedagógica, as ações também visam abordar temas como as implicações legais às quais estão sujeitos quem comete crimes relacionados ao bullying, à disseminação de notícias falsas, ao racismo religioso e institucional.>
A coordenadora Nadjena Miranda, lembrou que, no início deste ano, foi publicada portaria municipal que garante aos estudantes adeptos das religiões de matriz africana o direito de usarem adereços às sextas-feiras, dia em que se reverencia a entidade Oxalá no candomblé.>
“A exemplo da roupa branca, das guias, dos torços, muitos dos quais são adereços utilizados durante o cumprimento de uma obrigação religiosa”, explica. “Mas sabemos que este é um processo de desconstrução dos preconceitos motivados pelo racismo”, conclui.>