Fahrenheith 2018?

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  • Aninha Franco

Publicado em 8 de setembro de 2018 às 15:25

- Atualizado há um ano

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Fahrenheith 451 é um romance de Ray Bradbury (1920-2012, USA) e filme de Truffaut (1932-1984, França) dos Anos 1950/1960 e foi a primeira definição que eu li sobre o incêndio que destruiu o Museu Nacional, segunda-feira, postada no Facebook. Assustei com o comentário e respondi, pouco convicta: Montag vencerá! Nos dias seguintes, um outro incêndio destruiu três casarões do Centro Histórico, na Baixa dos Sapateiros, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de 2017, que reúne taxas de aprovação, reprovação e evasão mostrou um Brasil com índices ruins e uma Bahia com  índices péssimos e, na quinta-feira, Adelio esfaqueou Bolsonaro.Montag vencerá?  A ficção me contou em Fahrenheith 451 que num futuro que pode ser agora os livros e toda forma de escrita seriam proibidos pelo governo, com o argumento de que eles fazem as pessoas infelizes. Que se alguém fosse flagrado lendo seria preso e enviado à reeducação. Quando uma casa com muitos livros fosse denunciada pelos vizinhos, ela seria incendiada pelos bombeiros. Mas o personagem Montag, um desses bombeiros, começa a furtar livros das casas condenadas, ler e mudar seu comportamento. Sua mulher, Linda, desconfia de Montag e o denuncia ao governo, mas Clarisse, uma amiga, leva-o à Terra dos homens-livro, um lugar habitado por humanos que memorizam seus livros para publicá-los quando fosse possível. Fahrenheith 451 foi escrita e filmada por artistas que assistiram e viveram os totalitarismos de direita e esquerda na Europa, nazismo e fascismo na Alemanha e Itália, e stalinismo na União Soviética. Não sei se Bradbury, em 1953, quando publicou Fahrenheith 451 e, antes, quando o escreveu, conhecia o desespero dos escritores russos com Stálin, o alucinado, mas o romance O Mestre e a Margarida, de Bulgákov, ficou na Terra dos homens-livro até 1966, quando foi publicado, memorizado nos neurônios da esposa de Bulgákov.  Stálin morreu em 1953, a desestalinização começou em 1956, mas 10 anos são insignificantes para a história, e o que está acontecendo na Venezuela, com Maduro, demonstra que os totalitarismos, de direita e de esquerda, exatamente iguais, continuam vivíssimos depois de todas as mortes e sofrimento que provocaram. E na América Latina estão fortíssimos. Que diferença há entre Maduro e Somoza, afinal?  Voltando ao Brasil, lembro que o Museu Nacional destruído pelo fogo, quarta-feira, foi uma das primeiras manifestações do colonizador português de que a Colônia do Brasil poderia ser, um dia, um Estado independente, inteligente,  capaz de pensar e de proteger sua memória. Porque até 1808, a chegada do rei fugitivo no Rio de Janeiro, a Colônia devia, apenas, mandar açúcar, ouro, fumo e algodão para enriquecer a Europa, como era obrigação de toda a América Latina.  A partir de 1808 e até 1828, ano de inauguração do museu, foi permitido imprimir livros e jornais, possuir um banco e ter um museu. Reduziu-se a cinzas, portanto, um marco de independência e civilidade, pondo em cheque a vitória de Montag.        

Aninha Franco é escritora e pensadora