Falta do trem do subúrbio doeu no bolso dos trabalhadores que usavam modal

Aumento no gasto diário com transporte foi de R$ 7,40

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  • Wendel de Novais

Publicado em 16 de fevereiro de 2021 às 01:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Arisson Marinho/CORREIO

É claro que teve a saudade do trem, porém, o que os moradores do Subúrbio Ferroviário de Salvador mais sentiram, nesta segunda-feira, 15, no primeiro dia útil sem o modal, foi o bolso doer. Acostumados a desembolsar R$ 1 pela viagem de ida e volta, os usuários agora são obrigados a pagar R$ 8,40 para se deslocar de ônibus, uma diferença de R$ 7,40.  No mês, para quem usava o transporte de segunda a sexta, isso vai representar R$ 148 a mais no orçamento.

Segundo o secretário estadual de Desenvolvimento Urbano Nelson Pelegrino, a tarifa de R$ 0,50 era simbólica, mantida por subsídios do estado, e não sofreu reajustes ao longo de 19 anos como forma de compensar a baixa qualidade do serviço prestado pelos trens. 

Outra queixa dos usuários é o tempo  do deslocamento de ônibus. Em alguns casos, o que era 25 minutos aumentou para uma hora por conta das paradas nos pontos e do trânsito. Mariana Santos, 23 anos, comerciante, saía de Escada para a Calçada diariamente de trem. Para ela, as diferenças consideráveis no gasto com transporte ficaram nítidas já no primeiro dia.

"Doeu no bolso, viu? Nosso quebra-galho era o trem, que deixava a gente vir trabalhar pagando pouco. Durante o mês, dependendo da quantidade de vezes que vinha, gastava R$ 20, no máximo. Só hoje (ontem), quase gastei metade disso".  Primeiro dia útil com trem desativado em Salvador (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Outra moradora do subúrbio que viu sua situação se complicar foi Maria Pereira, 59, que trabalha na região circulando para vender amendoim. "Piorou e muito para mim. Para quem pagava um preço tão baixo, ver, de um dia para o outro, o valor subir foi ruim demais. Eu vendia circulando, rodando o Subúrbio. Agora, o jeito vai ser arranjar um ponto aqui na Calçada", disse.

Espera 

Além do preço mais alto, os usuários  também reclamaram  do tempo gasto dentro dos ônibus. Quem pegava o trem, agora precisa de muito  mais tempo para cumprir seus compromissos. É o caso de Jurandir Gomes, 58, consultor, que mora em Periperi. "Hoje (ontem) eu passei, por causa do engarrafamentos que sempre tem na Suburbana, uma hora dentro do ônibus para conseguir chegar na Calçada. Com o trem, só gastava 25 minutos. É ruim demais porque a gente fica mais cansado e pode até perder cliente que fica esperando", afirmou. Para Mariana, mudança pesou demais no bolso (Foto: Wendel de Novais/CORREIO) Ana Maria Teixeira, 40, ambulante, que mora em Plataforma,  afirmou que o tempo gasto no caminho para as atividades que cumpre no dia a dia agora deve atrasar seus afazeres."No Subúrbio, a gente consegue fazer quase tudo. Tem um mundo aqui. Por isso, com o trem, a gente se deslocava rapidinho. Sem muita agonia, saia de Plataforma e chegava em Paripe ou então ia para a Calçada. A dinâmica era mais rápida", reclamou. O Ministério Público, que entrou com uma ação para impedir a suspensão do serviço,  foi procurado  e  disse que aguarda ainda uma resposta da Justiça para veicular informações sobre o caso. Ação foi ajuizada pelo MP porque o órgão entendeu que a paralisação deveria acontecer de maneira escalonada, com divulgação para a população com prazo mínimo de 30 dias. 

O projeto  

No atual traçado da ferrovia serão construídos os pilares do elevado do VLT.  De acordo com informações do governo do estado, para atender à população que depende do transporte, estarão disponíveis ônibus que estão integrados ao sistema metroviário (veja a lista no quadro).

Após a paralisação dos trens, a via será isolada, eccionada, colocados tapumes e então será iniciada  a retirada da parte aérea de eletrificação da ferrovia. Logo após será iniciada a prova de carga da via, considerada etapa fundamental para que no futuro sejam fincadas as estacas, depois os pilares e por fim a via por onde irá circular o VLT.

De forma quase simultânea, também estarão sendo construídas as estações do VLT. Já os vagões estão sendo construídos na China e a previsão é de que o primeiro deles seja embarcado no país asiático com destino a Bahia já no mês de abril deste ano. A Fase 1 do  VLT compreende 19,2 quilômetros, com 21 estações. Jurandir reclamou da lentidão para se locomover sem o trem (Foto: Wendel de Novais/CORREIO) Realocação de funcionários

O fim da operação dos trens também significa a interrupção do trabalho dos funcionários que faziam com que o sistema estivesse disponível. O governo do estado está realocando os profissionais para outras áreas. Isso foi o que afirmou o titular da Sedur, Nelson Pelegrino.

"Da CTB, são 91 funcionários, que passaram a desenvolver outras funções no período das obras. Temos 119 terceirizados. Destes, são 70 vigilantes e 63 já foram realocados para fazer a segurança da via do VLT. Tínhamos ainda 22 trabalhadores na limpeza que estamos sugerindo para ser absolvidos pela Skyrail, 4 na manutenção e 23 de bilheteria que também estão sendo sugeridos para Skyrail", afirmou. Trabalhadores do trem devem ser realocados para outras funções (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Pelegrino também falou do processo de desapropriação de residências para que as obras do VLT aconteçam. De acordo com ele, neste momento, cerca de 330 casas serão desapropriadas.

"As obras têm fases diferentes. E, ao passo que ela for progredindo, vamos desapropriando as casas e indenizando as famílias após negociação. Hoje, são cerca de 330, mas pode acontecer desse número diminuir ou aumentar", disse. 

Veja quais linhas de ônibus são alternativas aos trens

• 1614 - Itaigara X Mirantes de Periperi Via Brotas; • 1607 - Barra X Paripe Cocisa; • 1550 - Vista Alegre/Alto de Coutos/Estação Pirajá; • 1633 - Ondina X Mirantes de Periperi; • 1606-01 – Base Naval Barroquinha; • 1606-00 – Paripe X Barroquinha; • 1651 - Lapa X Base Naval Via Estrada Velha; • 1637 - Mirantes de Periperi - Imbuí/Boca do Rio; • 0706-00 - Nordeste - Joanes / Lobato; • 1642 - Lapa X Boa v. Lobato; • 1615 - Lapa X Plataforma; • 1568 - Barra X Faz. Coutos/vista Alegre; • L111 - Baixa Do Fiscal / Lobato – Brasilgás.  • 1567 - Vista Alegre - Barra  • 1608 – Paripe X Ribeira  • 1635 – Joanes X Lobato X Rodoviária

*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro