Família acusa motorista de ônibus por morte de doméstica atropelada

Polícia já identificou rodoviário, que teria parado o coletivo fora do ponto

  • Foto do(a) author(a) Tailane Muniz
  • Tailane Muniz

Publicado em 31 de agosto de 2017 às 15:17

- Atualizado há um ano

. Crédito: Mauro Akin Nassor/CORREIO

Natural do município de Castro Alves, no Recôncavo Baiano, a doméstica Maria Cleuza Conceição, 57 anos, acreditava que poderia melhorar de vida em Salvador, onde veio viver há mais de 25 anos. 

Moradora da região do Bate-coração, em Paripe, ela morreu atropelada por um carro após descer de um ônibus, na manhã de terça-feira (29), no bairro do Comércio, na capital baiana. O motorista do ônibus teria parado fora do ponto.

O corpo da doméstica, que estava a caminho do trabalho no momento do acidente - flagrado por uma equipe do CORREIO -, foi enterrado na manhã desta quinta-feira (31), no Cemitério Municipal de Plataforma, no Subúrbio Ferroviário. Cerca de 60 pessoas prestaram as últimas homenagens a Cleuza.

Em conversa com o CORREIO, a família da vítima defendeu o motorista do carro, um automóvel GM Celta (JRT 2183), cor cinza, que atropelou a doméstica. Parentes atribuem a culpa do acidente ao rodoviário que conduzia o ônibus do qual Cleuza havia acabado de desembarcar.   Cleuza foi atropelada após descer de ônibus (Foto: Reprodução) "O rapaz [motorista do carro] está tão triste quanto a gente. Ele deu apoio, ficou no local até o socorro chegar. Mas o motorista do ônibus, ele tem culpa, não podia ter parado fora do ponto. [O acidente] podia ter sido evitado", disse o ex-marido da vítima, o porteiro José Pereira, 56.Pai do único filho de Maria, o ex-marido contou que o rodoviário não parou e sequer procurou a família. "Não fomos procurados por ninguém. Apenas o motorista do carro que a atropelou nos procurou e foi sincero, está muito sentido", pontuou. 

Titular da 3ª Delegacia, o delegado Victor Spinola informou ao CORREIO que o rodoviário foi identificado e ouvido nesta quinta-feira (31). "Ele está bastante consternado com a situação. Vamos investigar. Se ficar comprovada a culpa, o motorista do ônibus pode responder por homicídio culposo em decorrência da direção de um veículo automotor, que é um crime previsto no código de trânsito", explica. A pena para este crime varia de dois a três anos de prisão, conforme Spinola. O motorista do carro que atropelou a doméstica deve ser ouvido até esta sexta-feira (1º).

Dor Separados há 17 anos, José e Cleuza se casaram de papel passado e permaneceram juntos por 12. Filho único da doméstica, o comerciante Edmilson Alencar, 34, demonstrou força e confortou o restante da família durante o enterro.

Em silêncio, ele abraçava a cada uma das quatro tias presentes no sepultamento da mãe. Bastante abalada, a dona de casa Maria das Graças, irmã de Cleuza, chorou durante toda cerimônia.

Inconformada, ela gritava e pedia para que a irmã levantasse do caixão. "Levanta daí, minha irmãzinha", dizia ela, apontada pela família com a irmã mais próxima da doméstica. 

A cada condolência prestada, Edmilson respondia com um aperto de mão e balançava a cabeça em forma de agradecimento.

A aparente serenidade do filho, para José, escondia uma tristeza profunda. "Meu filho está destruído por dentro. Desde o ocorrido eu tô colado com ele, é de fazer dó", disse ele, acrescentando que continuava tendo um bom relacionamento com a ex-esposa.

Por volta de 11h, a minutos de enterrar o corpo da mãe, o comerciante chamou o pai e organizou uma roda de oração e louvores. Cuisadosamente, ele observou o corpo pela última vez e, em seguida, fechou a tampa do caixão.

Cleuza, que era evangélica, morava sozinha em uma casa alugada. Além do filho, ela deixa três netos, sendo dois meninos e uma menina.

A alegria da doméstica foi lembrada pela sobrinha, a pequena Samara de Jesus, 13. Espontaneamente, a menina se aproximou da equipe de reportagem e falou sobre a saudade da tia. "Eu vou sentir muito a falta dela, principalmente das nossas brincadeiras. Ela era muito legal", disse.   (Foto: Gil Santos/CORREIO) Não parou no ponto Por telefone, o vice-presidente do Sindicato dos Rodoviários, Fábio Primo, disse que o motorista ainda não foi identificado. "Estamos fazendo um levantamento para descobrir quem foi esse colega para ouvir a versão dele", afirmou.

Ainda conforme Primo, o motorista não procurou o setor jurídico do sindicato, como geralmente acontece em casos de acidentes que envolvem a categoria. Fábio também comentou a possibilidade do rapaz não ter parado no lugar adequado para que a passageira pudesse descer em segurança. 

"A maioria das vezes, tem transportes clandestinos parados no ponto. E aí somos obrigados a parar fora da parada, o que põe em risco não só as vidas dos passageiros, mas também as nossas", completou.

Ex-marido, o porteiro José Pereira disse que a família prestou queixa na 6ª Delegacia (Brotas), mas foi orientado a comparecer na 3ª Delegacia (Bonfim). "A prioridade era resolver a liberação do corpo. Ainda não prestamos depoimento na polícia, vamos aguardar para ver o que vão resolver do caso".

Atropelo O acidente aconteceu em frente ao Terminal Marítimo de Salvador, por volta de 7h40. A vítima desceu de um ônibus e atravessou correndo a Avenida da França, quando foi atingida pelo Celta.

Maria Cleuza foi arremessada para cima antes de se chocar contra o asfalto. O impacto da batida amassou o para-choque e o capô do veículo. O para-brisa também foi quebrado. Ela foi socorrida pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) para o Hospital Geral do Estado (HGE).

Conforme registrado na unidade de saúde, a vítima morreu cerca de dez horas após dar entrada hospital.