Família acusa PM de matar jovens em Fazenda Coutos; polícia diz que houve confronto

Três jovens foram mortos; Corregedoria da PM investiga o caso

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  • Milena Hildete

Publicado em 21 de fevereiro de 2018 às 05:10

- Atualizado há um ano

Foto: Reprodução Familiares de três jovens mortos no bairro de Fazenda Coutos 3, em Salvador, acusam a polícia de ter assassinado e torturado os rapazes durante uma abordagem violenta, na última sexta-feira (16). Alisson Caíque, 21 anos, Tiago Souza, 19, e Vitor de Campos 23, estavam em uma casa na Rua Maderite, localizada no bairro, quando os policiais chegaram.   De acordo com familiares, os jovens estavam consumindo maconha quando a polícia, que fazia a ronda na região, entrou na residência atirando. “Foi uma crueldade o que eles [policiais] fizeram. Eu cheguei  a ouvir os tiroteios, mas não achei que eram os meninos que estivessem lá, porque na hora todo mundo saiu assustado, até mãe de família ”, contou uma parente de Alisson, sem se identificar.  Ela ainda diz que além dos tiros, os policiais cometeram torturas. Em uma delas, um dos jovens mortos chegou a ser arremessado pela janela do primeiro andar da casa. “Eles [policiais] bateram, xingaram e depois que os meninos estavam mortos cobriram os corpos com sacos plásticos e levaram para o Hospital do Subúrbio”, afirmou a testemunha. As vítimas já chegaram ao hospital sem vida.    Uma outra testemunha disse ao CORREIO que os policiais estão nas ruas impedindo que os moradores façam um protesto. “Os policias  estão tomando o celulares na mão dos moradores. Eles ficam pra lá e pra cá e a gente fica com medo de sair de casa”, afirmou.   Procurada, a Polícia Militar (PM) informou que populares denunciaram  um grupo armado traficando drogas na Rua Maderite, na última sexta (16). De acordo com a PM, as equipes se deslocaram para o local depois da denúncia. Ao chegar na casa, os policiais da 19ª Companhia Independente de PM (CIPM/Paripe) foram recebidos a tiros pelos jovens e houve revide. Eles dizem ainda que havia mais gente no local, mas que os outros homens conseguiram fugir. A PM afirma que apreendeu com os jovens três revólveres calibre 38, 25 pinos de cocaína, 51 pedras de crack, um pedaço de maconha prensada, uma trouxinha da mesma droga e R$ 265,75 em espécie. A ocorrência já foi registrada na Corregedoria da PMBA.  Os corpos das vítimas serão sepultados na tarde desta terça-feira, às 14h30, no cemitério de Plataforma.Reivindicações Após o enterros das vítimas, os familiares farão um protesto para pedir por Justiça pela morte dos jovens. De acordo com uma testemunha, uma das famílias entrou em contato com Ministério Público do Estado da Bahia (MP-BA).

A ONG Reaja ou Será Morta, Reaja ou Será Morto publicou uma nota em solidariedade a morte dos jovens. Veja parte da publicação: No dia 16 de fevereiro de 2018, ultima sexta feira, duas guarnições da Polícia Militar do Estado da Bahia, perseguiram três jovens da comunidade de Fazenda Coutos, Subúrbio de Salvador. Os jovens acuados e assustados diante do grande poderio de fogo da polícia (PETO) invadiram uma casa e ali foram rendidos e executados. 

Uma equipe de militantes da Reaja, foi no sábado até o local para falar com vizinhos que ouviram os gritos de socorro e clemência dos meninos, assassinados cruelmente por agentes do Estado, policiais lotados na companhia de polícia de Paripe, Polícia Militar do Estado da Bahia.

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Relatos da comunidade

 - Ouviu-se uma correria e muitos tiros dados  pelos policias que  entraram na casa de uma mulher com seus três filhos ( sendo um bebê recém-nascido), encurralaram 3 jovens negros desarmados nessa casa ao fim de uma rua muito estreita, expulsaram a mulher e os filhos violentamente de sua residência.

- Os jovens  foram levados para uma casa acima da residência da senhora dona da casa, foram tratados  com requintes de tortura e brutalidade.

- Foram questionados sobre a existência de armas e drogas, mesmo sob coação e tortura negaram  o tempo todo e falavam muito alto para todos os vizinhos ouvirem.

 - Assim toda comunidade ouvia esses gritos dos jovens, as mães, tias, uma maioria de mulheres ligadas as vítimas tentaram se aproximar e foram recebidas com xingamentos, truculências e tiros.  Muita correria delas para não se ferirem e serem atingidas com os tiros, algumas se machucaram gravemente.

- Ouviu-se muitos tiros, era o início da execução feita pelos policiais um a um, com covardia e uma série exorbitante de disparos deflagrados contra os garotos, (Alisson Caíque de 21 anos, Tiago Souza de 19 anos e Vitor de Campos 23 anos). Os garotos foram executados cruelmente.

 - Finalizado os assassinatos, os corpos foram levados ao Hospital do Subúrbio por volta de 23 horas, e com a última vítima dando entrada no atendimento às 23:26  horas. Segundo relatos os policiais voltaram a comunidade para, recolher as cápsulas dos disparos e apagar os vestígios dos homicídios.

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"A Reaja vem a público informar os fatos e exigir uma investigação mais criteriosa, que se afaste imediatamente a tese de auto de resistência e se investigue como deve ser: um caso de homicídio. Exigimos atenção nacional e internacional para a integridade física  e à vida  dos militantes da Reaja e dos familiares das vítimas.

Exigimos o afastamento dos policiais envolvidos nesse caso da região da suburbana enquanto durar as investigações."