Família acusa PMs de terem matado flanelinha em Itapuã

A vítima havia sido ameaçada por mulher que negou pagar R$ 20 de estacionamento

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  • Bruno Wendel

Publicado em 23 de dezembro de 2019 às 13:06

- Atualizado há um ano

Alini Santos, ex-companheira do  flanelinha: "Destruíram minha família por R4 20" (Foto: Bruno Wendel/CORREIO) Quando escutou “Você vai ver, não se mexe com mulher de PM”, o flanelinha Lucas Barbosa da Silva, 27 anos, provavelmente, não pensou que a ameaça seria concretizada. Pois, pouco depois de travar uma discussão com uma mulher que negou a pagar R$ 20 de estacionamento, ele foi sequestrado no sábado (21), em Stella Mares, por dois homens, que seriam policiais militares, e encontrado morto a tiros no dia seguinte em Itapuã. 

“A gente tem uma filha de três anos. Destruíram minha família. Fizeram isso por causa de R$ 20. Essa mulher chamou e o marido veio e fez o que fez com o meu amor, homem que trabalhava para levar o leite para casa. Ela não tem amor no coração. Minha filha, que é muito apegada a ele, só pergunta pelo pai”, lamentou a mulher de Lucas, Aline Yasmin Alves Santos, 22, enquanto aguardava a liberação do corpo no Instituto Médico Legal (IML) na manhã desta segunda-feira (23).  

Dois flanelinhas, que testemunharam o sumiço de Lucas,  relataram à família dele que os sequestradores se apresentaram como policiais do Esquadrão de Motociclistas Águia, unidade da Polícia Militar. Eles estariam à paisana e colocaram a vítima numa picape Ranger branca. O flanelinha foi sepultado às 12h no cemitério municipal em Portão, bairro de Lauro de Freitas, Região Metropolitana de Salvador (RMS). 

Em nota, a Polícia Militar informou que “policiais da 15ª CIPM foram acionados pelo Cicom, com informações de que havia o corpo de um homem vítima de disparos de arma de fogo, na Avenida Beira mar”.

A Polícia Civil disse que o assassinato de Lucas é investigado pela 1ª Delegacia de Homicídios / Atlântico. Ainda de acordo com a PC, “a vítima possuía passagens por roubo, uso e porte ilegal de arma de fogo e tráfico de drogas. Autoria e motivação estão sendo apuradas”. Lucas foi sequetrado em Stella Mares e o seu corpo foi encontrado no dia seguinte em Itapuã (Foto: Reprodução) Sequestro Lucas era flanelinha há cerca de um ano e trabalhava na Praia do Flamengo e no Wet’n Wild, na Avenida Paralela, sempre em dia de eventos. Só que no sábado, ele foi trabalhar no entorno do Grand Hotel Stella Mares, onde havia um evento. Lucas estava na companhia de outros dois flanelinhas quando a mulher parou numa vaga, por volta das 20h. Eles relataram a Aline o que aconteceu. “Lucas disse que ela tinha que pagar R$ 20. Ela negou, então ele pediu para que ela tirasse o carro, por que estava trabalhando ali. Foi aí que ela disse: ‘Você vai ver, não se mexe com mulher de PM’. Só que ele nem deu atenção e foi cuidar de estacionar outros carros’”, contou Aline.   

Instantes depois, dois homens chegaram e, inicialmente, abordaram os dois flanelinhas que trabalhavam no local onde Lucas estaria trabalhando – nessa hora, a vítima estava distante, estacionado carros. “Eles viram que nenhum dos dois era Lucas e os deixaram livres. Mas eles viram quando os dois homens pegaram meu marido. Um deles disse que era do Águia e falou: ‘vou lhe ensinar a não mexer com mulher de PM’ e sumiram com o meu marido na Ranger”, contou Aline emocionada. 

Corpo Como Lucas não havia chegado em casa, em KM-17, localidade de Itapuã, Aline e a tia da vítima, Neide Alves, foram à 12ª Delegacia (Itapuã) na tentativa de registrar um boletim de ocorrência sobre o desaparecimento do flanelinha. Neide perguntou a um policial do plantão se havia alguma ocorrência policial envolvendo o nome de Lucas. “Foi quando ele disse apenas que um corpo em Itapuã e me mostrou a foto. Fiquei sem chão, pálida. Era Lucas com a nuca toda perfurada de tiro”, contou Neide. 

O corpo de Lucas foi encontrado num areal na Avenida Beira Mar, trecho de Itapuã. “Ele estava de bruços, com as mãos para cima, mas próxima à cabeça, como se antes dos disparos estivesse em posição de rendição. Foi muita crueldade”, lamentou Neide.