Família diz que taxista morto não devia a suspeito: 'Queria que pagasse multas'

Primo da vítima garantiu que taxista não dirigia mais táxi do permissionário; vítima e suspeito marcaram encontro

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  • Tailane Muniz

Publicado em 21 de agosto de 2019 às 16:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Acervo Pessoal

Taxista há 20 anos, o auxiliar Alexandro Rocha Souza, 40, já havia se queixado à família sobre as dificuldades que enfrentava com a 'queda da praça'. Independentemente do que conseguisse de renda diária, o aluguel semanal precisava ser honrado: R$ 350, pagos sempre às segundas-feiras. Apesar do hábito, ao chegar na fila do Campo Grande, nesta terça-feira (20), Alexandro foi assassinado a tiros.

A Polícia Civil informou que o autor do crime, identificado apenas como Washington, era permissionário da vítima, mas que os dois não possuíam mais um contrato de trabalho. A versão da família do taxista morto concorda com o que é apontado pela polícia. Os familiares afirmam que ele não devia nada ao suspeito - para quem trabalhou por cerca de três meses.

Em contato com o CORREIO, um primo de Alexandro, que preferiu não se identificar, disse que o taxista foi até o Campo Grande no final da noite de terça-feira porque tinha um encontro marcado com o suspeito de cometer o crime. De acordo com o familiar, no entanto, eles não tinham mais vínculo algum. "Ele não devia nada. Só que o cara começou a ameaçar ele e a família, queria que ele pagasse multas e aluguéis referentes à apreensão do veículo, que já nem estava mais sob a responsabilidade de Alexandro", revelou o familiar, ao informar que o carro em questão, um Volkswagen Voyage, que foi utilizado na fuga de Washington. O primo da vítima afirmou que, atualmente, Alexandro trabalhava com um Chevrolet Corsa, de propriedade de um outro homem.  Alexandro era taxista há 20 anos (Foto: Acervo Pessoal/CORREIO) "A confusão começou cedo, por telefone, por isso ele preferiu encontrar pessoalmente. Mas aí acabou nisso. Várias pessoas devem ter visto como tudo aconteceu, viram ele atirar, ele está foragido". Procurada, a Polícia Civil não confirmou a autoria do crime e disse que não tem informações além das que já foram divulgadas. 

O CORREIO esteve no local do crime na manhã desta quarta-feira (21), onde taxistas ainda repercutiam o assunto. Alexandro não costumava rodar na fila do Campo Grande, mas Washington, de acordo com os motoristas da fila, é conhecido por todos."A gente ficou chocado, principalmente porque ele [o suspeito] é um cara gente boa, muito tranquilo. Deve ter sido o momento", disse um deles, que não soube explicar, no entanto, se andar armado era um hábito de Washington.Desentendimento A família da vítima explicou à reportagem que Alexandro, que era pai de uma jovem de 23 anos, chegou a assinar um documento de quitação total dos aluguéis e que, inclusive, cortou o negócio com Washington depois que o carro foi apreendido, há cerca de um mês, durante vistoria anual da Secretaria Municipal de Mobilidade (Semob). 

Sem os documentos necessários atualizados, como o Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), o Voyage ficou inapto a rodar na cidade e acabou levado para o pátio do Departamento de Trânsito (Detran), onde há diárias estabelecidas que variam de acordo com o veículo, pelo tempo que dure a apreensão.  "Essa dívida nunca existiu, porque quem assume as dívidas é o proprietário, afinal, a documentação não estava em dia por causa dele", reforçou o familiar.O CORREIO não conseguiu calcular o valor que corresponderia ao total de multas, já que não há a confirmação, pela Polícia Civil, do suspeito e proprietário do veículo. Crime aconteceu em frente ao Teatro Castro Alves (Foto: Marina Hortélio/CORREIO) Por meio de nota, a Polícia Militar informou que militares do 18 º Batalhão da Polícia Militar (BPM/Centro Histórico) foram informados que um homem havia sido vítima de disparos. No local, ainda conforme a corporação, testemunhas afirmaram que “após uma discussão, um indivíduo sacou uma arma e disparou contra a vítima, que não resistiu aos ferimentos”.

“Em seguida, a guarnição da PM isolou a área e solicitou os agentes do Departamento de Polícia Técnica (DPT) para remoção. Em apoio à ocorrência, outra guarnição da unidade realizou rondas na região no intuito de prender o autor dos disparos, que fugiu em um veículo não identificado”, completou a PM.

Conforme o CORREIO apurou junto à perícia do DPT, Alexandro foi vítima de três tiros. Morador de Brotas, o taxista deixa, além da filha, uma namorada. O corpo do auxiliar será enterrado nesta quinta-feira (22), às 10h, no Cemitério Campo Santo, na Federação.