Família suspeita que PMs atiraram em jovem na Santa Cruz

Outro baleado no Retiro teria entrado em confronto com a polícia

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  • Bruno Wendel

Publicado em 24 de dezembro de 2019 às 11:17

- Atualizado há um ano

Sentados em algumas cadeiras no Instituto Médico Legal (IML), uma mulher e um rapaz aguardavam, na manhã desta terça-feira, 24, o retorno do rabecão que havia sido deslocado para o Hospital Geral do Estado (HGE). Eles estavam em um misto de ansiedade e nervosismo. E não era para menos.

 “Temos 90% de certeza que seja ele. A polícia entrou na casa quando ainda estava dormindo e atirou. Só tem o corpo de um homem lá, que deu entrada no hospital vindo do Areal”, contou a mulher, que preferiu não se identificar. Ela estava no IML para fazer o reconhecimento do corpo do parente Bruno de Oliveira Barbosa, 19 anos. 

Bruno está desaparecido após policiais militares invadirem a casa dele, no início da manhã desta terça-feira, na comunidade de Areal, em Santa Cruz, um dos bairros que forma o complexo do Nordeste de Amaralina. 

Segundo a mulher que aguardava no IML, Bruno estava com a esposa quando o casal foi surpreendido pelos policiais por volta das 5 horas. “Não sei o que de fato aconteceu. A mulher dele me ligou muito nervosa, dizendo que foram acordados pelos policiais e que depois atiraram nele ainda dentro de casa”, contou ela. 

Questionado se havia algum motivo específico para que os policiais entrassem no imóvel, ela disse que não sabia explicar. “Até onde eu sei, ele nunca foi preso. Mas era um menino desobediente. A mãe vivia reclamando que ele só chegava tarde em casa, que andava de turma (ela preferiu não entrar em detalhes). Certa vez, um tio dele me disse que a mãe de Bruno ainda ia sofrer muito com as atitudes dele”, disse ela. 

O rapaz que estava na companhia da mulher, disse que Bruno foi aluno do Colégio Estadual Polivalente de Amaralina. “Ele fazia o segundo ano, mas deixou a escola no meio do ano letivo. Não tem muito tempo que fui ao colégio renovar a matrícula dele”, contou o rapaz.

Por volta das 11h15, a família ainda aguardava a chegada do rabecão para fazer o reconhecimento do corpo de Bruno.

Confrontos

O CORREIO esteve no HGE e apurou que entre a segunda-feira, 23, e às 06h desta terça-feira, 24, foram registrados dois casos de baleados pela polícia que deram entrada na emergência. O caso mais recente chegou às 05h11 e foi do Areal. Policiais das Rondas Especiais (Rondesp) Atlântico disseram que trocaram tiros com bandidos quando faziam uma incursão na localidade. Após o revide, encontraram um homem, que aparentava ter 25 anos, com perfurações no abdômen e tórax, e levaram para o HGE. A versão apresentada pelos PMs não faz referência ao fato do baleado ter morrido e o hospital não divulgou o estado de saúde do paciente. 

O segundo caso de baleados em confronto com policiais foi registrado às 15h16 de segunda-feira (23). O paciente, um adolescente de 17, chegou à unidade com uma perfuração de tiro no tórax. Segundo policiais militares da Operação Gêmeos, a guarnição foi acionada por populares devido a uma dupla que cometia assalto em um ponto de ônibus no Retiro. Ao se aproximarem, os policiais relataram que foram recebidos a tiros e balearam um dos criminosos. Com o adolescente, eles afirmam ter encontrado um revólver calibre 32, uma carteira profissional de trabalho e uma bolsa azul com roupas.

O CORREIO solicitou mais informações dos dois casos com a Polícia Militar, mas até agora não obteve resposta.