Fantasma de greve da PM volta a assombrar os baianos

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  • Divo Araújo

Publicado em 13 de outubro de 2019 às 07:00

- Atualizado há um ano

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Os moradores de Salvador e outras cidades baianas voltaram a conviver, essa semana, com o fantasma da greve da Polícia Militar e tudo que ela desencadeia, incluindo aí arrastões, saques a lojas, ataques a ônibus e agências bancárias e, o mais alarmante, o aumento do já elevado número de homicídios. A paralisação foi anunciada pela Associação dos Policiais e Bombeiros e de seus Familiares do Estado da Bahia (Aspra), na terça-feira, e negada categoricamente pela Secretaria de Segurança Pública (SSP-BA), comando-geral da PM e Ministério Público do Estado (MP-BA).  Policiais e viaturas, de fato, continuaram a ser vistos nas ruas, numa situação de aparente normalidade.

Apesar de não se comparar, nem de longe, as greves de 2012 e 2014, quando o número de assassinatos explodiu em Salvador e região metropolitana, o movimento (seja lá ele qual for) liderado pelo coordenador-geral da Aspra, o deputado estadual Soldado Prisco (PSC), também teve como efeito o aumento do violência. Em 24 horas, na quinta-feira, foram registrados 16 homicídios na capital e RMS -  número cinco vezes maior que a média das quintas-feiras do mês passado, que foi de três mortes violentas. Um grupo de encapuzados deixou um ônibus atravessado em Itacaranha, quinta-feira (10) (Foto: Leitor CORREIO) Ainda que, até o momento, esse dia atípico de violência só possa ser atribuído a uma gigantesca coincidência, o governo do estado e o próprio comando da PM já acusaram, reiteradas vezes, a Aspra e o Soldado Prisco de articularem ações para  injetar o pânico na população. “O estado não ficará de joelho para um marginal”,  disse o governador Rui Costa. O comandante-geral da PM, Anselmo Brandão, após garantir que a integralidade da tropa não aderiu ao chamado da Aspra, reforçou as acusações: “É um terror que nós estamos combatendo”.

Apesar das negativas dos representantes do movimento, indícios apontam para a participação de policiais nesses atos violentos. Em pelo menos um caso, a presença de PMs foi devidamente flagrada: o soldado Anselmo Souza dos Prazeres foi baleado em troca de tiros com colegas de corporação após ataque a um ônibus em Itacaranha, no Subúrbio de Salvador.

Anselmo foi atingido nas nádegas  e socorrido para o Hospital do Subúrbio, onde segue internado sem risco de morte. Outros três policiais acusados de participar do crime fugiram. O soldado, que será ouvido após receber alta, foi flagrado com uma pistola 380 e já responde a três processos  na Corregedoria da PM. É filiado a Aspra e terá apoio jurídico da entidade. “Como qualquer cidadão, tem direto à defesa. Até o maior traficante tem. Por que ele não?”, justificou Prisco.

Os quatro, conforme testemunhas, tocaram o terror em Itacaranha. Encapuzados, chegaram de moto e abordaram um ônibus na Suburbana, próximo ao restaurante Cabana do Camarão. Anunciaram o assalto, mas ninguém foi roubado – eles somente atravessaram o ônibus no meio da pista. O pânico, ainda assim, foi generalizado.

Outros casos pipocaram na cidade. Uma agência do banco Bradesco, na Barros Reis, amanheceu com as portas de vidro quebradas. Em Cosme de Farias, um grupo tentou levar produtos de um mercado e uma loja e 31 foram presos em flagrante. Uma das situações mais graves foi registrada na Estrada das Barreiras, onde pelo menos 10 estabelecimentos foram arrombados e algumas lojas atingidas por tiros.

Diante dessas ocorrências, mesmo com as garantias de normalidade dadas pelas autoridades de segurança pública, difícil a população não se sentir acuada, sobretudo a mais vulnerável a violência. A última greve da PM durou menos de dois dias, em abril de 2014, mas foi o suficiente para deixar traumas até hoje - em 42 horas de paralisação, 39 pessoas foram mortas em Salvador e RMS.  Em fevereiro de 2012, o período foi ainda mais sangrento: em 12 dias de greve  chegou a quase 150 o número de homicídios. Agora, o maior temor de quem já vive alarmado com a insegurança é o retorno dessa violência desenfreada. Praia do Forte foi atingida por mancha (Foto: Carlos Valerio Oceanauta Consultoria Ambiental) Manchas de óleo ameaçam atingir a Baía de Todos-os-Santos

Berço da civilização brasileira e declarada sede da “Amazônia Azul”, a Baía de Todos-os-Santos, com sua área de  1.233 km² e 56 ilhas, está no caminho das manchas de óleo que já atingiram todos os estados do Nordeste e chegaram às praias de Salvador na noite de quinta-feira. A previsão feita pelo Ibama é que o petróleo de origem venezuelana chegue na maior baía do Brasil nos próximos dias e se estenda até a Baía de Aratu. Por isso, o órgão já decidiu, em caráter de urgência, acionar um plano para minimizar o impacto nas águas mornas da baía.

Se a chegada do óleo na Baía de Todos-os-Santos ainda é uma expectativa, nas praias do litoral norte do estado, ele já provocou uma grande estrago. Outro cartão-postal da Bahia, a Praia do Forte estava  irreconhecível na manhã de sexta-feira. Manchas de óleo borraram de preto a paisagem e obrigaram os moradores a realizar um mutirão para a limpeza. Em Salvador, a mobilização de voluntários para retirar o betume das praias também tem sido intensa. Ontem, eles percorreram 17 praias em busca de fragmentos do óleo. Em meio ao desastre ambiental, um alento: após sobrevoar o litoral, o Ibama descartou a suspeita de que uma mancha de óleo de 21 km² estivesse prestes a atingir a costa baiana.

Até o momento, a hipótese mais aceita  é de que o óleo tenha vazado de embarcações “fantasmas”  que fazem o contrabando de produtos e navegam em áreas brasileiras sem autorização legal. A origem dele, segundo pesquisadores da Ufba, é venezuelano.

Fogo amigo

O PSL, partido do presidente Jair Bolsonaro, segue em pé de guerra depois dele   recomendar a um apoiador que esquecesse o partido. A última cartada de Bolsonaro, que não esconde o desejo de deixar a sigla, foi protocolar, junto com 21 parlamentares, o pedido de uma auditoria independente nas contas do PSL. Dirigentes do partido decidiram contra-atacar e anunciaram que vão pedir outra auditoria, mas nas contas da campanha presidencial do ano passado. O fogo amigo deve expor lideranças da agremiação, tornando ainda mais instável o clima em Brasília.

Abrolhos fora

A pressão de ambientalistas funcionou. Nenhuma petroleira se interessou pelos sete blocos das bacias de Camamu-Almada e Jacuípe, no litoral baiano, no leilão de  exploração de petróleo e gás realizado na quinta-feira. Essas áreas  estão próximas ao Parque Nacional Marinho dos Abrolhos. A Justiça Federal obrigou a Agência Nacional de Petróleo (ANP) a deixar pública para as empresas interessadas a informação de que esse blocos  estão sub judice. O Ministério Público Federal (MPF) sustenta que a oferta destes blocos só deveria ser feita após a conclusão dos devidos estudos ambientais estratégicos.

'Problema real'

O volume acumulado de desmatamento na Amazônia, entre 1º de janeiro e 30 de setembro, chegou a 7.853 km², 93% maior do que o verificado nos primeiros nove meses de 2018, quando a devastação atingiu 4.075 km². Os dados são do Sistema de Detecção do Desmatamento na Amazônia Legal em Tempo Real (Deter), ferramenta do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que serve para orientar ações de fiscalização contra o desmatamento. O Inpe já foi desacreditado pelo presidente Jair Bolsonaro, mas ao ser questionado sobre os novos dados, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, indicou uma mudança de postura:  “Está claro que temos um problema real”, disse ele. Eduardo Viveiros de Castro "Estamos vendo algo que ninguém imaginava, talvez, que é uma maré fascista mundial encabeçada pela principal potência mundial (os Estados Unidos), em breve, segunda potência mundial. A outra (China) sempre foi o que é, há 5.000 anos, sempre foi um regime autocrático, sempre foi um regime imperial, num certo sentido"Eduardo Viveiros de Castro

Um dos mais influentes antropólogos do planeta se diz, em entrevista ao jornal El País, perplexo com tudo o que está acontecendo no Brasil e no mundo