Farmácias adotam medidas de distanciamento entre funcionários e clientes

Faixas e sinalizações de distanciamento são espalhadas pelas lojas; funcionários orientam clientes nas filas

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  • Eduardo Dias

Publicado em 10 de abril de 2020 às 07:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: (Foto: Eduardo Dias/CORREIO)

O mundo atravessa uma de suas piores crises de saúde: a pandemia da covid-19, que vem impactando a vida de pessoas por todo o mundo. Para evitar aglomerações e diminuir o risco de contágio do coronavírus, administrações municipais e estaduais adotaram medidas restritivas de funcionamento do comércio, fazendo com que somente locais que prestam serviços essenciais à população nesse período continuem abertos, como farmácias.

Com seu funcionamento mantido, esses estabelecimentos resolveram adotar medidas restritivas, obedecendo as orientações do Conselho Federal de Farmácia (CFF), para evitar o contato direto entre funcionários e clientes durante as compras.

Nos últimos decretos publicados pela prefeitura, não há determinações relacionada às filas nas farmácias da cidade. Apesar disso, o Conselho Regional de Farmácia (CRF) fez recomendações, como o uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPI’s), uso de máscaras e álcool em gel, além da manutenção do controle do fluxo de pessoas dentro dos estabelecimentos, com espaçamento de 2 metros do balcão de atendimento e o cliente.

“A medida partiu do CFF para evitar esse contato direto entre os clientes com os funcionários, que ficavam muito próximos durante as compras, o que gera sério risco de contágio. A farmácia é a porta de entrada de qualquer doença, pois é o primeiro lugar que as pessoas procuram, muitas vezes antes mesmo de irem ao médico. Mas, devido à norma, os estabelecimentos agora estão respaldados e podem garantir a segurança dos pacientes, dos trabalhadores da saúde e da população em geral, mantendo, sempre a prestação de serviços e acesso aos medicamentos”, explicou o diretor do CRF, Mário Martinelli. (Foto: Eduardo Dias/CORREIO) O CORREIO visitou algumas redes farmacêuticas da cidade para verificar o que tem sido colocado em prática nesses estabelecimentos e identificar se os clientes têm respeitado as orientações. Na Extrafarma localizada no bairro do Costa Azul, uma atendente que não quis se identificar informou que todas as lojas da rede na cidade adotaram a mesma medida de distanciamento há cerca de 20 dias.

Nos corredores que dão acesso ao balcão de remédios foram instaladas faixas de distanciamento para separar os clientes e deixá-los longe do balcão, fazendo com que tenham o mínimo de contato possível com o atendente. “Começamos tem uns 20 dias, logo após os primeiros casos serem confirmados na cidade. Até o momento, a medida tem sido respeitada e compreendida pelos nossos clientes. Não há reclamações por conta disso, pelo contrário, há agradecimentos e elogios por parte deles”, contou a atendente, que explicou como o processo funciona.

“Há uma separação por pessoa, a cada um metro entre eles, e do balcão, fazendo com que, após pedido, o atendente entregue o produto ao cliente ainda na fila. A partir daí, ele é direcionado ao caixa para pagamento, com o mínimo de contato com os funcionários”, completou.

Ao CORREIO, a assessoria da Extrafarma informou que a empresa tem adotado medidas para auxiliar na prevenção de clientes e funcionários durante a pandemia do novo coronavírus, como o afastamento temporário de funcionários pertencentes aos grupos de risco, divulgação de orientações de prevenção por meio da radio Extrafarma e cartazes espalhados pelas lojas, bem como disponibilização de EPIs como máscaras, luvas e álcool gel para toda equipe de loja. A rede informou ainda que houve um aumento da frequência de higienização de balcões de atendimento com álcool 70%.

Ainda conforme a empresa, entre as medidas ainda estão inclusas: sinalização nas lojas, marcações no chão que delimitam a distância de um metro entre pessoas – a mesma orientação também é dada através de cartazes espalhados nas lojas –; atendimento para pessoas a partir de 60 anos nas duas primeiras horas de funcionamento de cada farmácia; novo protocolo de atendimento no balcão e no caixa para proteção das equipes de loja e dos clientes, além de incentivo ao uso do aplicativo Rappi para entregas. 

O taxista João Lopes, de 67 anos, foi à farmácia da rede Drogasil, na Avenida Cardeal da Silva, para levar um ciente que pretendia fazer compras. Lá, ele notou as mudanças na parte interna da loja e disse que apoia a medida, pois os funcionários que trabalham no local, assim como os clientes, precisam se proteger do vírus.

"Todas as farmácias que fui estão assim. Hoje vim trazer um cliente para fazer suas compras e fiquei aguardando, mas pude observar a mudança. Essa pandemia veio e dificultou as coisas para todo mundo. Acredito que as farmácias tomaram a medida correta. E acho que quanto mais as pessoas se afastarem, melhor elas vão se proteger desse vírus, principalmente dentro de estabelecimentos que geram aglomerações de pessoas. As medidas são bem-vindas”, afirmou João. De máscara, João mostrou que anda protegido até mesmo dentro do carro (Foto: Eduardo Dias/CORREIO) A farmácia onde o taxista deixou o cliente passou adotou alternativas para evitar as aglomerações, como a oferta de serviços de entrega de medicamentos em até 300 metros de distância, nas compras feitas por telefone, e um atendimento drive thru na porta das lojas - basta estacionar e fazer o pedido sem sair do carro. As medidas foram iniciadas no início do mês de março.

Segundo a supervisora da loja, os clientes já costumavam utilizar o serviço de delivery. "Eles já estão acostumados e têm visto isso em quase todas as redes de farmácias. Então, não é algo novo. Estamos fazendo o que podemos para evitar aglomerações e ofertar essas facilidades aos clientes. Ainda assim, alguns ainda preferem vir na loja, então nós orientamos sobre as restrições dentro do espaço e os serviços alternativos que estamos oferecendo", contou a supervisora, que pediu para não ser identificada.

Na loja da mesma rede, só que dessa vez no Costa Azul, o também supervisor informou que, por conta das medidas adotadas pela rede, os serviços de entrega aumentaram. Segundo ele, no último mês, a farmácia bateu a meta de vendas do mês em um único dia.

"Em março, em um único dia batemos a meta de vendas previstas para o mês todo, que é de R$ 20 mil. Nós vendemos R$ 40 mil. Os cientes não têm reclamado das mudanças na loja. Nesse momento tem que ser assim. É uma forma de controle para evitar as aglomerações, a proliferação do vírus e agilizar o atendimento das pessoas”, disse o funcionário, sem se identificar.

Cuidados Na rede de drogarias Globo, também no Costa Azul, a empresa distribuiu para os funcionários kits com álcool em gel e máscaras desde o mês de março, além de colocar um funcionário fixo para a higienização das prateleiras e dos espaços e equipamentos que têm contato com os clientes. A empresa providenciou ainda a instalação de papel filme nos equipamentos de uso dos funcionários, como máquinas de cartão e teclados dos computadores.

Além das medidas de distanciamento e utilização dos Epi’s, a farmácia Pague Menos, no mesmo bairro, inovou em relação às entregas em domicílio: o serviço foi estendido para clientes que moram num raio de 1 quilômetro de distância da loja, com entrega gratuita, feita por um funcionário da empresa. A medida vale para todas as lojas da Bahia. Faixa azul separa clientes de balcão (Foto: Eduardo Dias/CORREIO) Como medida de melhor circulação do ar, as portas da farmácia passaram a ficar sempre abertas. A rede também conta com o serviço de drive-thru - os pedidos são feitos por telefone e o cliente vai lá apenas para buscar e efetuar o pagamento, dentro do veículo. No interior da loja, as filas dos clientes são separadas por faixas coloridas: vermelha para pessoas sem máscaras e amarela para pessoas com máscaras.

No bairro do Imbuí, algumas farmácias ainda não adotaram muitas medidas. Na Drogaria da Gente, por exemplo, havia somente um aviso de afastamento colado no chão, próximo aos balcões de atendimento. Não há separação de filas, apenas orientação dos funcionários. Procurado, o gerente do estabelecimento não estava presente para fornecer explicações.

Já na Poupafarma, da Redemed, havia um aviso de distanciamento entre cliente e o balcão, com orientação para quem ficassem a 2 metros de distância. Não havia separação. O gerente da loja e farmacêutico, João Lucio Cardoso, informou que a empresa aguarda a chega dos materiais para a implantação das barreiras. Enquanto isso, seguem com as orientações dos funcionários aos clientes.

"Estamos aguardando, mas fazemos o máximo para acelerar o atendimento aos idosos e pessoas do grupo de risco que vêm fazer suas compras, para que possam voltar o quanto antes para casa. É uma novidade para todo mundo, mas os clientes estão assimilando bem porque é uma medida de prevenção. O que gera algum desconforto são os horários de pico, porque o volume de pessoa aumenta. Mas temos tomado os cuidados necessários”, disse.

De passagem pelo local, o pedreiro Gilberto Silva, 56, morador do Bairro da Paz, resolveu entrar na farmácia Super Ideal para comprar álcool em gel e elogiou a atitude dos funcionários. Ele entende que as medidas adotadas são necessárias para prevenir a saúde tanto dos clientes quanto dos funcionários.    Gilbeto elogiou atendimento na farmácia (Foto: Eduardo Dias/CORREIO) "Eu particularmente gostei dessa ideia. Facilita a separação das pessoas, né? A gente está se prevenindo com pode, mas quanto mais medidas, melhor ainda. Eu cheguei, parei no local indicado, pedi o medicamento e o funcionário trouxe até mim. Isso é muito bom. Paguei e já vou para casa”, contou.  

* Com supervisão da chefe de reportagem Perla Ribeiro