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Paulo Leandro
Publicado em 22 de dezembro de 2021 às 05:05
- Atualizado há um ano
Noite feliz, noite feliz, ó senhor, deus do amor! Pobrezinho nasceu em Belém... dorme em paz, ó Jesus! Composta por um alemão, Franz Xaver Gruber, esta bela canção, mundialmente conhecida, poderia tocar os corações dos torcedores, mas não, nem tentem...
Basta verificar no cotidiano, como a vida imita o futebol, ao avaliar o convívio com as pessoas: em situação de queda, por perder emprego, adoecer ou sofrer assédio judicial, os amigos acodem, ajudam, acolhem, ou o efeito é indiferença, gozação e ligam o “foda-se”?
E você, como age com os outros? A alegria por ver o Vitória na terceirona seria condição ontológica para os tricolores existirem, embora a volta do Bahia para Série B bote pimentinha no churra do Barradão em festa com tantos erros de juiz ladrão, parecendo a Lava-Jato.
Responda honestamente: é possível ser feliz sem o outro na fossa? Vale a pena ter ordenado gordinho, prosperidade na empresa, rendimentos, imóveis e bela carreira, se o tal “próximo” não estiver endividado, acometido de covid-19, amputado e cego devido ao diabetes?
O atual título de campeão do Nordeste parece perder parte do significado quando se compara à caveirona do felino de Canabrava, tomando por premissa a inata inclinação para lapidarmos o coirmão, velho costume de mutilar e causar dor, desde as primeiras festinhas da espécie.
Para enfezadas, a abominável alienação parental capaz de afastar o pai e o filho querido, ou a contratação do escritório luxuoso da sócia, visando difamação, injúria, extorsão e calúnia seriam provas da falência do projeto humanista do Iluminismo: o ódio é campeão invicto!
Nesta arte de sapatear na dor alheia, o tricolor dá é risada porque o Vitória sequer está na Copa do Nordeste, descendo a ladeira para disputar o novo Torneio Bernardo Spector em 2022, junto com Leônico, Galícia, Ypiranga, Redenção, Botafogo, Estrela de Março...
Para quem é descrente em melhorar a humanidade, por constatar serem as pessoas animais raciocinantes prontos para atacar, sem piedade, este será o melhor Natal de todos os tempos, com os caidinhos Ba-Vi nas manjedouras! Pobrezinhos! Dorme em paz, ó Jesus!
Papai Noel descerá com vontade, depois de estacionar suas renas lá pelas nuvens, mas os presentes ele já entregou: aos tricolores, a queda do Nego para a ‘Cérei’ C, e aos rubro-negros, o desabamento do Ex-quadrão, com o requinte das garfadas à luz do VAR, na cara-dura.
Como nada é tão ruim a ponto de não poder piorar, se a mecânica de mercado virar moda, e outros ronaldos fenômenos começarem a comprar os clubes, como ocorreu com o Cruzeiro, o Natal para o ano pode ser ainda mais divertido. Já pensaram a dupla Ba-Vi em liquidação?
Verdade e memória são uma só: o Vitória é pioneiro neste formato de Sociedade Anônima, tendo entregue o controle acionário do clube ao fundo de pensão argentino Exxel, enquanto o Bahia criou o Basa, ambos tendo enfrentado dificuldades para recuperar a autonomia.
Divertir-se com a tristeza do outro, como a condição necessária para uma vida plena, será mais fácil, quando os investidores roerem todo o capital dos clubes, não só o patrimônio, também o simbólico, restando ao arisco Papai Noel a risadinha perturbada: ho, ho, ho!
Paulo Leandro é jornalista e professor Doutor em Cultura e Sociedade.