Festa com dendê em Roma: baianos celebram Santa Dulce com hino carnavalesco

Baianidade Nagô animou comemoração de baianos após a cerimônia, na Praça de São Pedro

Publicado em 14 de outubro de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Jorge Gauthier/CORREIO

“Eu queria que essa fantasia fosse eterna, quem sabe um dia paz vence a guerra e viver será só festejar, eô, eô...”. Não, você não está no Carnaval de Salvador. Os versos da canção Baianidade Nagô, composta por Evandro Rodrigues na década de 1990, foram entoados neste domingo (13) por dezenas de baianos em plena Praça de São Pedro, no Vaticano,  em clima de festa após a canonização da Santa Dulce dos Pobres. Acredite: virou Carnaval!“Aqui é a Bahia, pai! Nossa santa é barril dobrado”, disparou, em bom baianês, o comerciante de Jequié Norberto Andrade, um dos mais animados do grupo.Além do hino carnavalesco, o grupo cantou canções religiosas, a exemplo do Hino ao Senhor do Bonfim. 

De acordo com informações do Vaticano, 50 mil pessoas assistiram à canonização de cinco santos, incluindo Dulce. Desses, 15 mil eram brasileiros. Não há o número específico de baianos, mas o que se viu pela Praça de São Pedro foram bandeiras em azul, vermelho e branco. 

Margareth Menezes, cantora nascida na Cidade Baixa, era a aniversariante do dia. De presente, ganhou a honra de cantar junto com o cearense Waldonys um trecho da canção Doce Luz na janela da Basílica de São Pedro, o mais importante templo católico do mundo. A apresentação da dupla fez parte da programação oficial do Vaticano para Dulce - os outros santos tiveram a atuação de corais. “Foi uma emoção sem tamanho. Irmã Dulce merece todas as honras possíveis”, disse Margareth.Falhas técnicas no som do Vaticano não permitiram que todos ouvissem sua voz. Além disso, o tempo de canto foi reduzido.  

Talvez por isso, o povo tenha ficado ainda mais empolgado quando, após a missa, Margareth e Waldonys cantaram na parte de baixo da praça durante entrevistas para a imprensa brasileira. Até parabéns, Margareth ganhou. “A Bahia é alegria por onde passa”, resumiu a cantora. 

Orgulho A alegria por ter uma conterrânea santa estava no rosto de todos. Laura Queirós, Roseneide Calazans e Ana Dantas têm suas trajetórias marcadas por Irmã Dulce. Laura e Roseneide ainda são funcionárias das obras e Ana o foi por 23 anos. Elas mantém vivo o legado de amar e servir deixado por Dulce no Centro de Assistência a Pessoa com Deficiência (CAPD). 

Laura é líder do CAPD, que era conhecido por Dulce como ‘a pupila dos olhos’, pelo trabalho de acolhimento com jovens com deficiência. “A sensação de estar continuando a obra dela é uma alegria muito grande. Perpetuar isso é muito bom. Todos os funcionários ajudaram a essa canonização acontecer”, disse.

A terapeuta ocupacional Roseneide orgulha-se de ter a carteira de trabalho assinada por Dulce. Ela conheceu a freira e sua forma de trabalhar a inspira até hoje:“Vim para cá por tudo que aprendi com ela. Eu estou muito emocionada por ter conhecido uma santa”, declarou. Já o contato de Ana com as obras de Dulce tem uma história de mais de duas décadas. Ela foi fisioterapeuta nas Osid por 23 anos. “Comecei trabalhar nas obras em 1994, dois anos após a morte de Dulce. Foi justamente no setor dos moradores do CAPD. As pessoas que trabalham lá são dedicadas, e vão trabalhar para se doar”, afirmou.

*Jorge Gauthier é chefe de reportagem do CORREIO e está em Roma para fazer a cobertura da canonização de Irmã Dulce

*O projeto Pelos Olhos de Dulce tem o oferecimento do Jornal CORREIO e patrocínio do Hapvida.