Festival de Saveiros valoriza cultura que luta para sobreviver na Bahia

Evento dura três dias e inclui shows, despoluição de rio Paraguaçu e homenagem à ceramista Dona Cadu

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  • Vinicius Nascimento

Publicado em 27 de maio de 2022 às 07:09

. Crédito: Foto: Divulgação

Começou com o avô, que passou para o pai, que passou para o filho, que tenta passar para o neto. Vários são os motivos para que o povo do Recôncavo, principalmente a comunidade ribeirinha, lute para manter a cultura dos saveiros viva. Os veleiros artesanais, de arquitetura própria e característica, foram uma das principais fonte de renda de municípios como Cachoeira, São Félix e Cabaceiras do Paraguaçu, durante o século passado. 

Autor do projeto Içar e pesquisador da área, Marcelo Bastos estima que já existiram mais de 1,5 mil saveiros. Eles eram importantes para escoar produções de açúcar, farinha e diversos outros produtos que saíam do Recôncavo em direção a Salvador. Esse número em 2022 não chega a 20.

A chamada cultura de saveiros é parte importante do patrimônio cultural e do imaginário de populações ribeirinhas na região e é pensando em valorizar tudo isso que nasceu o Festival de Saveiros (@festivaldesaveirosoficial), que agita as águas do Rio Paraguaçu este final de semana, começando nesta sexta (27), até o próximo domingo (29), com programação diversa que vai além das águas da Baía de Todos-os-Santos.

Produtora-geral do evento, Carine Araújo conta que ficou assustada quando sua filha viu um saveiro navegando pelo Rio Paraguaçu e associou aos barquinhos de Moana, animação infantil . Antes disso, recebeu a ideia do projeto das mãos de Wandick Silveira, um dos remanescentes a ainda navegar em saveiros."Isso mexe muito com a memória afetiva de uma população, que é  mais velha e mexe com a tradição de um povo do recôncavo e Baía de Todos -Os- Santos. A gente hoje tem uma realidade de pessoas que não conhecem o que é o Saveiro, são apenas algumas dezenas porque perderam espaços para ferrovias e caminhões", conta.Durante os três dias de festa, o evento terá programação cultural, educativa e de cunho social, com shows de samba e reggae, homenagem a Dona Cadu, a mais famosa ceramista da Bahia, Feira de Economia Criativa e Agricultura Familiar, concurso de desenhos e redação nas escolas de São Félix e ação de limpeza das margens do Rio Paraguaçu.

A chegada dos saveiros a São Félix acontece na tarde da sexta-feira (27) e junto com eles estarão os oleiros de Maragojipinho, que participarão da Feira de Artesanato, já considerada a maior do Recôncavo, reunindo mais de 50 expositores de toda a Bahia. 

No sábado (28) haverá o encontro de jetskis, e as águas serão tomadas por canoas, caiaques e hobie cats, dentre outras embarcações. Passeios de saveiro serão oferecidos pelos mestres saveiristas a preços populares - é a oportunidade de conhecer melhor as belezas da região.

No dia domingo (29), a partir das 13h, em São Félix, será dada a largada para o Bordejo pelas Águas do Paraguaçu, que vai circundar a Pedra da Baleia e retornar para o píer de São Félix. Este é o ponto alto do  Festival de Saveiros. Participarão saveiros com navegação a popa (vela de içar). A competição se transformou num desfile que homenageia os saveiros participantes"Fomos além e nossa programação já circula há cerca de um mês. Estivemos nas escolas mostrando documentários sobre saveiros, pinturas e produções culturais para que as crianças entendam aquilo como parte de suas próprias histórias", explicou Carine.

Enquanto isso toda a cidade também estará mobilizada participando da Feira de Economia Criativa e Agricultura Familiar, das exposições de carros antigos e miniaturas de saveiros do artesão Ubiracy Portugal, enquanto as crianças disputam o concurso de desenhos e redação promovido em parceria com as escolas de São Félix.

"Eu acredito que o festival é interessante por celebrar essa cultura e os conhecimentos relacionado às embarcações. A gente está celebrando uma parte significativa da cultura náutica brasileira", afirma Marcelo Bastos.

Para o pesquisador, também é importante que esse evento celebra a memória, trabalho e criatividade de mestres navais que não são reconhecidos formalmente: "Esses mestres navais fazem parte do patrimônio náutico brasileiro e esses eventos são rituais de celebração desse conhecimento, dessa cultura. É importante para mostrar às pessoas, celebrar conhecimentos. É muito significativo tanto para manter vivo quanto atrair pessoas para conhecer e entender um pouco mais desse projeto. O foco do meu trabalho é trazer não apenas a importância cultural mas também a importância técnica. As técnicas de projeto e construção utilizadas nos saveiros são muito mais antigas do que a legislação que regulamenta o projeto construção de embarcações atualmente", detalhou.

Programação cultural

Shows de Samba de Roda e Reggae, marcas musicais do Recôncavo da Bahia, fazem da programação do  Festival de Saveiros – I Festa Náutica do Vale do Paraguaçu, uma verdadeira festa. 

Na sexta-feira, às 20h, está marcado o  Encontro dos Sambas de Roda do Recôncavo, com os grupos Samba de Roda Filhos de Nagô, de São Félix, Gêge Nagô, de Cachoeira e Samba Filhos de Dona Cadu, de Maragojipe. 

No sábado à noite o show é do reggaeman Sine Calmon. No domingo, ao cair da tarde, quem sobe ao palco é Jau, para realizar o seu sarau. E tem mais música com os talentos da terra  Nathan Gomess, Nelma Marks, Juninho Cachoeira, Orquestra Reggae de Cachoeira e Orquestra Jovem do Recôncavo. Os shows acontecem na Avenida Salvador Pinto, no Porto de São Felix.

Homenagem a Dona Cadu

Ceramista mais famosa da Bahia e doutora Honoris Causa da Ufba e UFRB, Dona Cadu recebe uma homenagem na sexta, às 10h, na Câmara de Vereadores de São Félix com uma Sessão Solene pelo seu centenário e contribuição para a cultura do Recôncavo. Clique aqui e conheça mais sobre a história da ceramista e sambadeira.

Confira a programação completa: Dia 27 de maio – sexta-feira07h - Limpeza das margens do Rio Paraguaçu 10h - Sessão Solene pelo Centenário de Dona Cadu Local: Câmara de Vereadores de São Félix 14h - Mesa: "A importância dos saveiros para o Recôncavo Baiano" – com o historiador Walter Fraga, o fotógrafo Nilton Souza, o deputado Bira Coroa e a arquiteta Marília Barreto, uma das proprietárias do Saveiro É da Vida. | Mediação: historiador Fábio Batista | Local: Câmara de Vereadores de São Félix 20h - Encontro dos Sambas de Roda do Recôncavo Samba de Roda Filhos de Nagô – São Félix, Gêge Nagô – Cachoeira, Samba Filhos de Dona Cadu – Maragojipe Dia 28 de maio – sábado Avenida Salvador Pinto (Porto) - Dia inteiro:Feira de Economia Criativa e Agricultura Familiar Exposição de carros antigos Exposição de miniaturas de saveiro do artesão Ubiracy Portugal Exposição dos Trabalhos Escolares Às 13h Encontro de Jet Skis 16h Orquestra Reggae de Cachoeira 18h Nathan Gomess  20h Nelma Marks 22h Sine Calmon 29 de maio – domingo Avenida Salvador Pinto (Porto) - Dia inteiro:Feira de Economia Criativa e Agricultura Familiar Exposição de carros antigos Exposição de miniaturas de saveiro do artesão Ubiracy Portugal Exposição dos Trabalhos Escolares 13:30h Bordejo de Saveiros 14:00h Show Corpos Negros 15:30h Show Orquestra Jovem do Recôncavo 16:00h Premiação 16:30h Saída do Presente para Oxum 17:30h Sarau de Jau 19:30h Juninho Cachoeira