Fiéis vibram com a volta do toque dos sinos em igreja da Barra

Sons voltaram a ecoar após 30 anos: ‘Tradição importante’

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  • Tailane Muniz

Publicado em 10 de novembro de 2019 às 11:23

- Atualizado há um ano

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Um minuto de alento espiritual para a professora Vanda Bonfim, 67 anos. O ecoar dos três sinos da Igreja de Santo Antônio da Barra, na manhã deste domingo (10), após 30 anos desde o último toque, assegura Vanda, transcende à tradição. 

Criado na China há cerca de quatro mil anos, o elemento foi integrado à Igreja Católica no século V e, entre suas funções, está o convite para ”se aproximar de Deus”, defendem os religiosos. “Nos aproxima do Pai, mas também acalma a alma e nos faz refletir e ter fé na natureza”, diz Vanda, em tom de encantamento.

A professora faz votos de que os três sinos, posicionados na extremidade superior da igreja, “toque corações”. E quem idealizou o resgate diz que se inspirou nas igrejas mundo afora. 

Secretário de Turismo do estado, Fausto Franco destaca que, neste domingo, também ecoaram simultaneamente os sinos das igrejas da Graça e da Vitória, que formam o eixo Sul de Salvador. 

“Eu ficava inconformado porque a tradição acabou se perdendo, via em alguns outros países e me encantava. Os sinos têm essa importante simbologia, já foi referência para sinalizar tempo, mortes, e boas notícias”, comenta, sobre o papel que o elemento desempenhou em períodos diferentes da história. Fausto Franco, secretário de Turismo (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) O toque Alerta de horário, avisos sobre missas e mortes, além de acontecimentos sagrados, como a escolha de um novo papa. A intensidade e o ritmo das badaladas, contudo, tem variações. 

Anfitrião da Igreja da Barra há dois anos, o padre Ivan Dias explica que, no caso do templo, o toque é o mesmo. Por um minuto, e duas vezes por dia, às 8h e às 18h, quem mora nas imediações serão norteados sobre o início das missas. 

“O que varia é o repique, ou seja, a velocidade. Mas não temos aqui uma distinção porque eles vão soar apenas nessa condição das celebrações”, adianta. 

A diferença está na motivação, explica. Alegria, tristeza, comemoração, reverência. Neste domingo, em ritmo linear e singelo, os sinos trouxeram alegria aos fiéis que assistiram à missa das 8h.

Católico, o economista Jorge Antunes, 58, se diz satisfeito. “É muito importante, sem dúvidas, especialmente para nós, católicos. Creio que um resgate essencial”, defende ele, que é vizinho da Igreja da Graça.

Quanto à possibilidade do som incomodar pessoas que moram próximo às igrejas, Jorge diz que “é preciso ter tolerância. “Uma coisa que acontece duas vezes por dia, tão pontualmente, não pode ser encarada assim. Eu nunca me incomodei e espero que as pessoas sejam mais pacientes”.

Toque eletrônico  Seja lá a quem incomode, os sinos soam em alto e bom som. Mas não como nos primórdios, quando era alavancado, em geral, por uma única pessoa -  mais leve do que as toneladas que os equipamentos costumam pesar.

Juntos, os da Barra pesam meia tonelada, afirma o engenheiro Artur Barros, responsável pela restauração. De acordo com ele, além da readequação do sistema de apoio, ou seja, da base de sustentação, foi realizada a automatização dos sinos. Artur Barros, engenheiro responsável pela ativação dos sinos (Foto: Mauro Akin Nassor) Agora, tudo é previamente planejado e, por meio de um programa no computador, um operador dá o aval para o toque. “É uma engenharia perigosa porque eles são bem pesados e é uma área eletromagnética. O sistema eletrônico é uma tecnologia da Itália e que já está implantada em outras cidades do país”, afirma, ao citar que toda intervenção durou 40 dias.

Agora, com os sinos que já sinalizaram tempo, agora funcionam de modo eletrônico para a garantia de quem nenhuma missa passe despercebida, afirma o historiador da Setur, Rafael Dantas. ”No Renascimento, a Igreja integrou os sinos aos costumes e, desde então, são uma importante ferramenta e tradição”. 

Tradição que não incomoda o analista Mário Lima, 43. No dia do batismo da filha, na Igreja de Santo Antônio, ele conta que em Feira de Santana, onde mora, é vizinho de um templo que faz a utilização dos sinos. “Pelo contrário, sempre gostei”. Lá, onde as pessoas são avisadas sobre os falecimentos por eles, até quando o som ecoa em ritmo mais acelerado, assegura Mário, a sensação é de paz.