Fila do refeitório? Público da vacina transforma a espera em piquenique

Pão com manteiga, pastel, empanada e suco, tem de tudo nas sacolas

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  • Gil Santos

Publicado em 24 de maio de 2021 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Nara Gentil/CORREIO

Quem vai tomar a vacina contra o novo coronavírus consegue identificar a fila à distância. Ela começa na porta do posto e vai serpenteando pelas ruas em um emaranhado de sombrinhas e guarda-chuvas que tentam proteger do sol. Mas quando vai chegando meio-dia, a fome aperta, e eis que alguém saca da bolsa uma tapawer com empadas. Outro leva pão com manteiga e uma garrafa de suco. E o piquenique está formado.

Na espera pela tão sonhada vacina os baianos estão transformando as filas em refeitórios a céu aberto. E haja criatividade. No 5º Centro de Saúde Clementino Fraga, nos Barris, a aposentada Maria Inês Braga, 59 anos, preparou empanadas com recheio de ervilha e fez suco de goiaba. Ela levou a sério o ditado de que saco vazio não para em pé.

“Eu saí cedo, passei na casa de minha irmã e depois vir para cá. Minha vizinha veio ontem e contou que as filas estavam enormes, então, vim preparada. Nem que eu passe o dia todo aqui, mas eu só saio vacinada”, disse, provocando gargalhadas.

Já a cozinheira Nilzete Oliveira, 57, trouxe num saquinho plástico com duas bananas e dois iogurtes para amenizar a fome. “Antes de sair de casa, tomei só um café e vim logo porque as filas estão grandes e não quero perder o meu sábado todo aqui. Estou preparada para aguentar essa provação (risos), mas espero sair daqui antes do meio dia, com fé em Deus”, disse, que é religiosa.  Nilzete levou duas bananas e dois iogurtes para amenizar a fome (Foto: Bruno Wendel / CORREIO) Por volta das 11h, a fila para pedestres estava alcançando as imediações da tenda dos Barris. Já a de carros, seguia no sentido contrário, avançava pela Avenida Centenário até perder de vista. Dona Maria José, 57, foi mais light. Ela levou banana, biscoitos, água, e um chazinho de camomila para ficar tranquila. “Só não trouxe um banco porque quero aproveitar para me alongar”, brincou.

Para a cuidadora de idosos Romilda Maria jesus Conceição, 57, nada de fartura. Ela tirou de um saquinho rosa apenas uma maça. “Porque ante sair de casa, tomei um café reforçado com pão, ovo, cuscuz. Saí de casa bem abastecida e com a esperança de voltar vacina”, declarou.  Ao contrário das demias na fila do 5º Centro, Romilda levou só uma maça (Foto: Bruno Wendel / CORREIO) No posto da Universidade Católica do Salvador (Ucsal), em Pituaçu, o sol castigou. Muita gente levou sombrinha e álcool em gel, outros tentaram se abrigar na sombra dos carros estacionados ao lado, e havia diversas sacolas. Na fila estava Sueli Jesus, 58 anos. Ela contou que a experiência, primeiro, como fiscal da antiga Cesta do Povo, e depois, na área de contabilidade, ensinou a ser prevenida.

“Eu trouxe água, suco de acerola, que eu coloquei em uma garrafa vazia de iogurte, e guardei tudo na sacola térmica. Na outra sacola eu trouxe pão”, contou. Porém, na correria para sair de casa ela acabou pegando doce para rechear o pão, esqueceu que é diabética.

Mas a servidora pública Silviane Lemos, 58, que também estava na fila se prontificou a ajudar. Ela levou bananas e maças, além de água. “Eu divido com ela, não tem problema”, disse, e lamentou não ter carregado um banquinho, como fizeram outras pessoas que estavam aguardando pela vacina.

Na Unidade de Saúde da Família (UFS) do Engenho Velho de Brotas, a auxiliar de vendas Edna Lacerda, 47, levou uma banana, caso a fome aperte. “A gente nunca se sabe, né. Um sol desse, uma demora danada e ainda com fome não dá. Mais cedo fu ao 5º Centro e a fila estava imensa. Aí vim pra cá”, disse ela. Edna mostra timidamente a banana que levou para se manter na fila (Foto: Bruno Wendel/CORREIO) Quem não quiser levar comida de casa, mas precisar fazer uma boquinha na fila, o que não faltam são vendedores ambulantes oferecendo salgadinhos, pastel, coxinha, e outras iguarias, além de água.

A vacinação por idade é oferecida apenas para quem tem 57 anos ou mais. Para isso, precisam estar com o nome cadastrado no site da Secretaria Municipal da Saúde (SMS) e no ato da vacina apresentar cartão SUS e documento oficial de identificação com foto.