Filhos de Gandhy voltam ao azul e branco e enfrentam crise financeira: 'Retorno à tradição'

Com temática que homenageia orixás, afoxé pretende combater uso de colares rosas e assédio

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  • Alexandre Lyrio

Publicado em 29 de janeiro de 2020 às 06:00

- Atualizado há um ano

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Em 2020, o tapete branco com detalhes azuis estará de volta (Foto: Claudionor Júnior/Arquivo CORREIO) O Carnaval que marcou o aniversário de 70 anos dos Filhos de Gandhy foi cercado de polêmicas. A fantasia quase toda dourada no desfile de 2019 desagradou boa parte dos associados, que acusaram a diretoria de promover a descaracterização do afoxé. Em 2020, porém, o Gandhy promete não só retornar ao original azul e branco como também vai tomar medidas que reforçam as tradições.

Apesar de lamentar as críticas, a direção não se arrepende do dourado, que homenageou Oxum e o bloco Badauê, fundado por Moa do Katendê, assassinado em 2018. “Infelizmente a escolha causou desconforto momentâneo entre os associados”, lembra João Paulo Gomes, secretário do Gandhy e coordenador do núcleo de produção. Mas, esse ano, os diretores entraram em consenso de que o afoxé deveria voltar às origens, inclusive religiosas. Fantasia do ano passado quebrou a tradição (Foto: Evandro Veiga/Arquivo CORREIO) Além do turbante e da fantasia com predomínio da cor branca (referência a Oxalá) e dos detalhes em azul (referência a Ogum), em 2020 o tema do Carnaval do Gandhy homenageia Obaluaiê e Omolu, orixás da cura e da doença. “Este tema abrange a saúde humana a partir dos orixás, um dos elos fortes da nossa fantasia com os seus padrões tradicionais. Preservaremos o azul e branco”, avisa João Paulo.“Esse ano garantimos o retorno à tradição na indumentária, mas era necessário fazer o que fizemos no ano passado. Era preciso esse impacto”, confirma o presidente da entidade, Gilsoney de Oliveira, referindo-se não só às homenagens aos 70 anos, mas também ao combate à falsificação da fantasia do Gandhy.“Com o dourado conseguimos dar um respiro nas falsificações. Evitamos que esse ano se falsifique a indumentária e que algumas pessoas saiam com a fantasia do ano anterior”, acredita Gilsoney.

Distorções Além da volta integral do tapete branco, a diretoria do bloco diz que também estará atenta à manutenção de algumas tradições e combaterá distorções na avenida. O Departamento de Ética do afoxé pretende ser contundente em orientar os associados a não usar, por exemplo, colares que não têm qualquer referência à entidade. Nos últimos anos, muitos foliões têm usado colares na cor rosa. “Esse negócio de colar rosa não existe!”, afirma Gilsoney.

A luta contra o uso indevido dos próprios colares azuis e brancos também é uma das bandeiras. Para o presidente, além de desrespeito às tradições religiosas, a troca do colar pelo beijo, por exemplo, pode, em alguns casos, incentivar o assédio. “Repudiamos a violência contra as mulheres. A mulher tem que ser conquistada e não trocada por colar. Ainda mais se for de forma violenta”, afirma Gilsoney.Dentro do conceito da paz, um dos fundamentos do afoxé Filhos de Gandhy, a diretoria também promete combater a homofobia e exaltar a figura do líder espiritual indiano Mahatma Gandhi.

Crise A aposta na tradição é também uma das tentativas de driblar a crise financeira pela qual o bloco passa. A diretoria do Gandhy admite que enfrenta problemas graves para colocar o bloco na rua. A pouco mais de 20 dias do Carnaval, as vendas de fantasias teriam reduzido entre 20% e 30% em relação ao ano passado. Mesmo que essas vendas tivessem em alta, a diretoria afirma que não seria suficiente para bancar a infraestrutura.  

“Esse ano ainda não temos uma empresa privada nos apoiando. A essa altura do campeonato estamos contando com o governo e a prefeitura. Vamos sair com grande dificuldade, mas vamos sair”, afirma Gilsoney, que não descarta o cancelamento do tradicional Festival da Paz, marcado para o dia 9 de fevereiro. Em 2020, uma fantasia dos Filhos de Gandhy será vendida por R$600 para antigos sócios e R$700 para novos sócios.