Fiscalização apreende equipamentos de som e flagra desrespeito a decreto

CORREIO acompanha operação da Semop, com apoio das polícias Civil e Militar, que buscava combater 'paredões'

  • Foto do(a) author(a) Bruno Wendel
  • Bruno Wendel

Publicado em 24 de agosto de 2020 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Tiago Caldas/CORREIO

Problema crônico nessa pandemia, as aglomerações ganham força no cair da noite. O som dos carros e as bebidas disponibilizadas pelos bares são os combustíveis que alimentam as farras de jovens – e até crianças – em bairros periféricos de Salvador. Na madrugada de somingo (23), a Operação Silere – designada ao combate à poluição sonora – recolheu seis caixas de som de três carros e fechou três bares. Um posto de combustível foi notificado por permitir reuniões. Muitas pessoas estavam sem máscaras.   

Os equipamentos de som recolhidos estavam com o volume acima do permitido entre 22h e 7h, que é 60 decibéis. Os donos foram notificados. Mas o objetivo maior da operação eram as festas de paredão – carros com sons potentes –, que foram duramente criticadas pelo prefeito ACM Neto, pelo governador Rui Costa e pelo secretário da Segurança Pública Maurício Barbosa.

No bairro do Alto do Coqueirinho, os agentes da Secretaria Municipal de Ordem Pública (Semop) e os policiais civis e militares quase flagram um paredão, mas os carros com os aparelhos de som conseguiram escapar minutos antes do cerco.  

Ainda assim, uma multidão permanecia no local em meio a muitos copos plásticos, latas de cervejas e maços de cigarro deixados para trás com a chegada da operação. “Não temos dúvida de que aqui havia uma festa de paredão, mas os donos dos carros saíram antes da gente chegar. A gente vê claramente pela quantidade de pessoas no local e quantidade de lixo deixado”, declarou a subcoordenadora de combate à poluição sonora da Semop, Márcia Cardim, ao CORREIO, que acompanhou a operação.  

A Operação Silere vem combatendo a poluição sonora há oito anos, sob coordenação da Semop, que conta com o apoio de diversos órgãos, como Polícia Civil, Polícia Militar, Guarda Municipal e a Transalvador. Na noite de sábado (22), três grupos saíram do Batalhão Especializado em Policiamento de Eventos (Bepe), em Pituaçu, rumo aos bairros e regiões de maior denúncia na prefeitura. 

No topo das denúncias está Fazenda Grande do Retiro, seguido por Pernambués e Pirajá. Liberdade e Itapuã completam a lista. Mas existem bairros onde há um índice grande de aglomerações, mas as denúncias não chegam à prefeitura.    “Em algumas regiões, as pessoas temem a denúncia por conta de represália. Por isso que a gente leva em consideração o levantamento de ocorrências que é feito pelas polícias Civil e Militar e incluímos esses bairros no nosso roteiro da operação”, disse Márcia, pouco antes de passar as instruções para as equipes da Silere. 

Operação Era por volta das 2h quando o comboio da operação, cerca de 10 carros e um caminhão baú da Semop – usado para transportar as apreensões –, chegou à Rua Doutor Artur Couto, em Mussurunga I. Lá, o som de um carro foi apreendido. “Eu já estava indo para casa quando vocês chegaram”, justificava o rapaz aos policiais, enquanto os agentes recolhiam o aparelho – duas caixas de som. Ele não quis falar com o CORREIO.   A poucos metros, um bar, que estava aberto, foi obrigado a fechar. Os bares, restaurantes, pizzarias, sorveterias, hamburguerias e similares podem funcionar de segunda a domingo, das 12h às 23h, conforme decreto de reabertura da prefeitura.  No KM-17, a pizzaria e lanchonete Doce Sabor permanecia funcionando quando a operação chegou. A agonia fui tanta, que uma cliente deixou a bolsa no local – ela voltou em seguida para buscar. Usando um gesto com a mão direita, o dono do estabelecimento disse um “não” à equipe do CORREIO.  Policiais orientam fechamento de bar que funcionava fora de horário permitido em decreto em Mussurunga (foto: Tiago Caldas/CORREIO) Paredão Mas foi às 3h o ponto alto da operação. Quando as primeiras sirenes das viaturas foram avistadas, o formigueiro no final de linha do Alto do Coqueirinho se dissipou. Na hora da ocupação no largo, as equipes só encontraram o casal dono do bar recolhendo as mesas, cadeiras e os engradados de cervejas deixados pelos clientes na correria, além de grupos formados entre ruas e becos que pareciam não se intimidar com a presença dos fiscais e policiais.  Tudo dava a entender que aguardavam apenas a saída das viaturas para a retomada da festa. “Eles estão esperando a gente sair, mas vamos manter a circulação de viaturas nessa área, passando aqui de uma em uma hora”, garantiu o subtenente Damião Miguel, do Bepe.  No penúltimo roteiro da madrugada, a operação chegou em Itapuã, por volta das 4h. Um homem teve o som do carro – duas caixas de som – recolhidas na Praça Dorival Caymmi. Uma barraca de cachorro-quente despachava um grupo de pessoas sem máscaras quando os funcionários foram surpreendidos pela fiscalização. “A gente estava fechando”, disse uma das funcionárias. Em seguida, a última abordagem: o posto de combustível Menor Preço da Avenida Paralela, próximo ao Alphaville. O local já havia sido alvo de abordagem da Semop na tarde de sábado, por permitir aglomerações, e no domingo não foi diferente. Um grupo de jovens estava reunido no entorno de um carro com a mala aberta e som ligado – as duas caixas de som foram apreendidas. Como na primeira vez houve só uma recomendação, o posto foi notificado por permitir a aglomeração de pessoas.