Flordelis é denunciada como mandante da morte do marido e filhos são presos

Segundo a polícia, deputada federal tentou matar o marido envenenado por quatro vezes

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  • Da Redação

Publicado em 24 de agosto de 2020 às 07:06

- Atualizado há um ano

. Crédito: Reprodução

A deputada federal Flordelis foi denunciada como mandante da morte do pastor Anderson do Carmo, em junho de 2019, morto com mais de 30 tiros. Flordelis não pôde ser presa por causa da sua imunidade parlamentar, mas seis filhos dela foram presos nesta segunda-feira (24). 

Uma operação da Polícia Civil do RJ e do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) foi deflagrada hoje para cumprir nove mandados de prisão e 17 mandados de busca e apreensão nas cidades do Rio de Janeiro, Niterói e São Gonçalo. Entre os presos, estão seis filhos do casal, uma neta e um ex-PM.

Segundo a investigação, antes do assassinato a tiros, Flordelis tentou envenenar o marido pelo menos quatro vezes. O crime teria sido motivado por questões financeiras, visto que o pastor Anderson controlava todo o dinheiro do Ministério Flordelis.

Um dos mandados foi cumprido na casa da deputada, local do crime, no bairro de Pendotiba, em Niterói, na Região Metropolitana do RJ. O apartamento funcional da deputada, em Brasília, também foi alvo de buscas.  (Foto: Reprodução/TV Globo) Imunidade parlamentar Em nota, o MP do Rio afirmou que a denúncia "aponta que Flávio dos Santos Rodrigues, em conluio com Lucas Cézar dos Santos de Souza, Flordelis e os demais denunciados, atirou diversas vezes contra Anderson do Carmo de Souza, na madrugada do dia 16 de junho de 2019, em sua casa no bairro Badu, Pendotiba, Niterói".

"Flordelis é responsabilizada por arquitetar o homicídio, arregimentar e convencer o executor direto e demais acusados a participarem do crime sob a simulação de ter ocorrido um latrocínio. A deputada também financiou a compra da arma e avisou da chegada da vítima no local em que foi executada, segundo a denúncia", afirmaram os promotores.

De acordo com o delegado Allan Duarte, titular da Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo, Itaboraí e Maricá, as investigações apontaram Flávio dos Santos Rodrigues, filho biológico da deputada, como executor do crime e Lucas César dos Santos, filho adotivo do casal, como a pessoa que comprou a arma utilizada no assassinato. Ambos já haviam sido denunciados em agosto do ano passado.

O MP também imputa à deputada e outros denunciados o crime de uso de documento falso, em razão da tentativa de, "através de carta redigida por Lucas, atribuir a pessoas diversas a autoria e ordem para a prática do homicídio".

"Segundo a denúncia, o executor Flávio tinha o objetivo de livrar ele próprio e Flordelis da responsabilização do crime. Flordelis também tinha o objetivo de vingar-se de dois de seus filhos "afetivos" que não teriam aceitado as ordens de calar ou faltar a verdade durante os depoimentos. Os réus responderão também por associação criminosa", registrou ainda a Promotoria.

O motivo do crime "seria o fato de a vítima manter rigoroso controle das finanças familiares e administrar os conflitos de forma rígida, não permitindo tratamento privilegiado das pessoas mais próximas a Flordelis, em detrimento de outros membros da numerosa família", diz ainda o Ministério Público do Rio.

A peça enviada pelo MP fluminense à Justiça indica ainda que as ações dos outros dez denunciados se deram em diferentes etapas "como no planejamento, incentivo e convencimento para a execução do crime" e ainda em tentativas de homicídio anteriores à morte do pastor, "pela administração de veneno na comida e bebida da vítima, ao menos seis vezes, sem sucesso".

Em nota, a Polícia Civil pontuou os crimes imputados a Flordelis: homicídio triplamente qualificado, tentativa de homicídio, falsidade ideológica, uso de documento falso e organização criminosa majorada.

A Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo, Itaboraí e Maricá informou ainda que vai encaminhar à Câmara dos Deputados Federal cópia do inquérito com resultado da investigação "para adoção de medidas administrativas cabíveis". "O procedimento poderá levar ao afastamento da parlamentar para que ela responda pelo crime na prisão", indicou a Polícia em nota.

Foram denunciados:

- Flordelis dos Santos de Souza: por homicídio triplamente qualificado; tentativa de homicídio duplamente qualificado; associação criminosa majorada; uso de documento ideologicamente falso e falsidade ideológica.

- Marzy Teixeira da Silva (filha adotiva): homicídio triplamente qualificado; tentativa de homicídio duplamente qualificado e associação criminosa majorada.

- Simone dos Santos Rodrigues (filha biológica): homicídio triplamente qualificado; tentativa de homicídio duplamente qualificado e associação criminosa majorada.

- André Luiz de Oliveira (filho adotivo): homicídio triplamente qualificado; tentativa de homicídio duplamente qualificado e associação criminosa majorada.

- Carlos Ubiraci Francisco Silva (filho adotivo): homicídio triplamente qualificado.

- Adriano dos Santos (filho biológico): associação criminosa e uso de documento falso.

- Flavio dos Santos Rodrigues (filho biológico): Associação criminosa e uso de documento ideologicamente falso. 

- Lucas Cezar dos Santos (filho adotivo): associação criminosa.

- Rayane dos Santos Oliveira (neta): homicídio triplamente qualificado e associação criminosa majorada.

- Marcos Siqueira (ex-policial): associação criminosa e uso de documento falso.

- Andreia Santos Maia (mulher do ex-policial): associação criminosa e uso de documento falso.

Mentora Em agosto do ano passado, Wagner Andrade Pimenta, o Misael, um dos filhos adotivos de Flordelis dos Santos Souza e do pastor Anderson do Carmo disse à polícia que acredita que a mãe foi a "mentora intelectual" da morte do pai. Ele prestou depoimento na Delegacia de Homicídios de Niterói e São Gonçalo dois dias depois do crime, quando fez a afirmação. De acordo com o Extra, Misael e o irmão Daniel dos Santos de Souza foram os primeiros a ligar Flordelis ao crime em depoimento.

Depois disso, outros três filhos adotivos do casal, Luan Santos, Kelly Cristina dos Santos e Roberta Santos, também falaram à polícia comprometendo a mãe. Estão presos Flávio dos Santos Rodrigues, filho biológico de Flordelis, e Lucas Cezar dos Santos, filho adotivo dos dois. Para a polícia, Lucas confessou que atirou e disse ter ajuda do irmão. A polícia investiga participação de outras pessoas no crime.

Misael afirmou que Flordelis "manipulando os filhos, encontrou alguém com coragem para matar Anderson". Ele afirmou que a mãe achava que o pastor estava "dando a volta nela em relação ao dinheiro da família. Contou ainda que em outubro do ano passado Anderson passou cinco dias internado, perdendo quase 20 quilos. Na época, o motivo não foi descoberto, mas hoje ele acredita que o pai estava sendo envenenado a mando da mãe. Outros três filhos confirmaram que o pastor vinha sendo dopado e tomando medicamentos sem saber.

Em novo depoimento, no dia 24 de junho, Misael contou que descobriu que a mãe digitou uma das mensagens que foram enviadas pela irmã, Marzy Teixeira, pedindo que Lucas matasse o pastor. A esposa de Misael, Luana, questionou Marzy e ela teria admitido que a mensagem foi escrita por Flordelis. A mensagem foi escrita em um tablet de Anderson e ele a encontrou depois. O pastor acreditou que a mensagem tinha sido escrita em outro aparelho, furtado no ano passado, e aparecido no novo tablet porque ficou registrada na "nuvem".

O telefone do pastor estava com o motorista da mãe, Marcio da Costa Paulo, e Misael conseguiu o aparelho no dia seguinte ao crime. Ele recuperou a mensagem pelo iCloud, serviço de nuvem da Apple, fotografou com o celular e apresentou à polícia. O motorista disse que ia entregar o celular a Flordelis.

Reconstituição Em novembro do ano passado, a deputada participou da reconstituição do crime. Segundo a Polícia Civil, a reprodução simulada da morte do pastor teve como objetivo "dirimir dúvidas em relação à dinâmica do crime". 

Além de Flordelis, outras 12 pessoas participaram da reconstituição. 

A polícia já tinha realizado uma operação em endereços ligados à deputada. Os agentes foram a quatro endereços da parlamentar: além da casa da família em Niterói, os policiais também estiveram num apartamento funcional em Brasília, no gabinete da deputada no Rio e num imóvel da família em Jacarepaguá, na zona oeste da capital fluminense.

Os agentes procuravam celulares, computadores e documentos que ajudassem nas investigações sobre as motivações para o assassinato de Anderson.