Fundamentos Futebolísticos da Educação

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  • Paulo Leandro

Publicado em 20 de julho de 2022 às 06:05

- Atualizado há um ano

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Uma das ferramentas de didatismo mais eficientes, no convívio entre os brasileiros, não resta dúvida, é o nosso amado e fútil ball, ou o futebol, como nós, os “normais”, costumamos referir no cotidiano bolístico.

Ao nos dispormos a vestir a camisa de nosso time a fim de participar do jogo, na condição de torcedores, estamos admitindo tacitamente o livro de 17 regras, às quais devemos seguir sem dar golpe.

Desde o tiro de meta à combinação de marcar o gol, quando a bola passa a linha fatal, entre uma pilastra e outra, na moldura chamada trave, concordamos em conferir lealdade ao regulamento.

A bola passa, assim, da condição de mecanismo eficiente de dominação de classes ou grupos sociais, à de senha libertadora, uma vez ensinar a todas e a todos a importância moral de cumprir o acordo.

Tal contexto ocorre nos Estados Democráticos de Direito, como o do Brasil, repudiando-se, desta forma, implicitamente ao ato de torcer ou jogar, qualquer manobra de desvio, pois inviabilizaria a competição.

Já pensou, se no meio do jogo, descesse para o gramado um grupo armado de fuzis e metralhadoras, ou uma coleção de motos barulhentas com homens truculentos em cima e mandasse inverter o escanteio?

Ou, por outra, imagine se um time dotado de aparatos bélicos, sob comando de um contumaz mentiroso qualquer, colocasse a bola na marca do pênalti para favorecer a si mesmo por ter menores chances de vencer?

Toda a importância do desporto, esquecida por nós, professores, reside no ensino subjacente de práticas virtuosas, permitindo às torcidas e aos times o estatuto de potenciais modelos de convívio.

Seria reduzido o jogo à “alienação”, ou tática de ilusão visando causa irrelevante, para uns; ou “anomia”, inclinação de evitar a ordem social, para outros; ambas as crenças plenamente equivocadas.

É o futebol, leitoras e leitores, a nossa melhor escola, onde aprendemos a cair e a subir, respeitando as determinações de um árbitro, auxiliado ou não pela tecnologia do VAR, a depender da competição.

E quando uma torcida, como a do Vitória, se comunica tão bem com seus jogadores, a ponto de compartilharem uma coreografia, ao final de um triunfo, em partida de terceira divisão, o futebol passa a ser Éros.

Alcança a dimensão erótica, no sentido original do poder de unir, ligar, tornar unidade o múltiplo: de curso superior onde se aprende a conviver mediante regras, o futebol passa a ser uma cola de puro amor.

Quem preza esta modalidade, como também outras tantas regidas por regulamentos, habita o mundo da ética, onde toda trapaça está expulsa e nenhuma força desrespeita o jogo.

Não há partida alguma se as regras pactuadas são agredidas, assim como é impossível impedir a vitória do voto popular, secreto, direto e eletrônico, regra maior da democracia, como tem dado exemplo ao mundo o Brasil.

Quando os países enfrentam ruptura institucional, o jogo é interrompido; o regulamento, rasgado; furam a bola; o árbitro vai sequestrado e a violência contra as torcidas substitui o drible e o gol.

É um desperdício, tanta energia para se aprender jogando bola, nossos peritos em didática ignorarem o futebol, pois daria uma disciplina linda, algo como Fundamentos Futebolísticos de Educação.

Paulo Leandro é jornalista e professor Doutor em Cultura e Sociedade.