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Da Redação
Publicado em 21 de março de 2022 às 05:05
- Atualizado há um ano
A notícia mais relevante da semana não foi a definição da chapa governista, nem a migração do vice-governador para a chapa de oposição. Todos os pré-candidatos deveriam prestar muita atenção à informação revelada pela Defensoria Pública, que foi manchete de capa deste jornal na quinta-feira: os furtos famélicos dobraram nos últimos quatro anos. O motivo é óbvio e não é falta de polícia: a pobreza explodiu e a fome dobrou. Não sei o que pode ser mais importante para um governante do que reduzir os déficits acumulativos da pobreza.
A volta tão intensa do monstro da fome não é um fato isolado. Seria reconfortante se pudesse ser imputado apenas à pandemia, mas não pode. A miséria ressurge após alguns anos em que vigora no país, com reflexos evidentes na Bahia, o desprezo à vida das pessoas pobres. A tentativa de punir os famintos com a prisão é irmã das execuções da juventude negra em ações policiais. É prima da reforma que precarizou as relações de trabalho. É filha direta das tentativas de desvalorização dos servidores e do serviço público.
A esfera pública foi dominada por conceitos que menosprezam a experiência real. Nos preocupamos muito com a “opinião” e os “sentimentos” do mercado, com a austeridade fiscal e com as vantagens para os grandes empresários. Em uma inversão narrativa, fala-se como se os mega-empreendedores atuassem abnegadamente pelo bem comum e não pelos seus próprios interesses. Já o Estado, precisaria se comportar tendo como objetivo principal a rentabilidade e não a melhoria das condições de vida. É como se o Bahia fosse rubro-negro e o Vitória tricolor.
A classe empresária, com razão, preocupa-se com o seu retorno financeiro e, portanto, atuará apenas quando puder obter lucro e da forma que potencialize ao máximo os ganhos. Reduzir desigualdades, incluir socialmente, não é seu objetivo principal. O Estado é quem deve garantir saúde, educação, acesso à justiça, auxílios, moradia e condições dignas de vida para toda a população. Isso se faz com serviços e com servidores, não apenas com obras e concreto. Quem cuida de gente é gente.
Em um cenário de fome, desemprego e miséria, que não pode mais ser escondido, cabe aos pré-candidatos ACM Neto (União Brasil), Giovani Damico (PCB) Jerônimo Rodrigues (PT), João Roma (Republicanos) e Kleber Rosa (PSOL) pensarem bem nos seus programas. A Bahia precisa de preocupação com o bem-estar e a dignidade das pessoas. Não podem haver cidadãos de segunda categoria ou vidas que valham menos. Voltando aos furtos famélicos, o que explicaria que, na hora do julgamento, a defesa daquelas pessoas receba menos recursos que a acusação e o julgamento? É aí que as opções se escondem.