Geninho detalha programação do Vitória para voltar aos treinos

Técnico rubro-negro concedeu entrevista exclusiva ao CORREIO

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  • Daniela Leone

Publicado em 6 de maio de 2020 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Mauro Akin Nassor/ Arquivo CORREIO

Após dois meses, a Toca do Leão tenta reabrir. As atividades do centro de treinamento do Vitória foram suspensas em 17 de março para evitar o contágio da covid-19 e o clube planeja reiniciá-las no dia 18 de maio. A ideia é que a partir desta data os jogadores voltem a fazer atividades nos campos do CT. Antes, na próxima segunda-feira (11), o Leão irá começar a preparar os atletas através de um plano de exercícios físicos em vídeo.  As informações foram confirmadas por Geninho, em entrevista exclusiva ao CORREIO.

O técnico rubro-negro segue na casa que mantém em Santos, no litoral de São Paulo, mas tem se reunido por videoconferência com diretoria e comissão técnica do Vitória para traçar as estratégias do recomeço das atividades durante a pandemia de coronavírus. Ele deu detalhes do protocolo que o clube pretende adotar, apesar de ter deixado claro que as ações dependem do aval das autoridades governamentais.

Na noite de terça-feira (5), após a realização da entrevista do CORREIO com o treinador, o governador da Bahia, Rui Costa, através das redes sociais, negou a possibilidade de retorno dos treinos de clubes de futebol no estado nas próximas semanas. “A posição sobre o assunto é que no final de maio estamos esgotados. A previsão é de esgotamento dos leitos de UTI na Bahia. Serve pra responder? Acredito que seja auto-resposta. Seja didática essa resposta”, afirmou.

Confira o bate-papo com Geninho:

Você acha que nesse momento é viável retornar os treinos de futebol no Brasil?

Acho que há uma pressão muito grande para que tudo volte, principalmente futebol. Os próprios clubes estão passando por dificuldade. Essa pressão pelo retorno é uma coisa até natural. Os protocolos que tenho lido são muito semelhantes. O do Vitória é muito semelhante ao do Grêmio, Internacional, Palmeiras. São protocolos de uma volta muito gradativa. Não é nem praticamente treino. Você vai dar um espaço ao seu jogador para que ele comece uma preparação física.

Quando o Vitória irá reiniciar os treinamentos?

Os vídeos no dia 11 (de maio) de maneira oficial e o campo no dia 18.

Como será a retomada das atividades?

Antes do trabalho de campo, você passa alguns treinamentos de vídeo para que o jogador execute do seu local de moradia, onde ele está. Seria um início de uma preparação. Por uma semana. Aí você entraria no trabalho individualizado dentro de campo, para trabalhar em grupos de três ou quatro (jogadores). Tudo passa por autorizações das autoridades, tanto sanitárias como de estado e município. Você não pode ir contra uma lei estadual ou municipal que proíbe atividades. Tem que ter autorização para isso e protocolo médico para ser cumprido. Mas se tudo correr bem, e acho que vai correr, na próxima semana você completaria esse quadro e, a partir daí, começaria o trabalho de campo individualizado.

Como será esse trabalho de campo na Toca do Leão?

Dentro dos protocolos de distanciamento que são exigidos pelas entidades de saúde, você tem que trabalhar em grupos de três ou quatro jogadores num espaço grande. Seria tipo quatro jogadores usando meio campo. No caso do Vitória, que tem um CT muito bom, você usaria quatro campos e poderia trabalhar com 32 jogadores espaçados. Nós temos quatro campos, dois de treinamento, o de grama sintética e o estádio. Você pega esses campos, divide por dois e você tem oito pedaços. Se você vai trabalhar com quatro (jogadores em cada), você tem 32. Então, você não pode trabalhar com mais de 32 (atletas). Você vai usar de quatro a oito profissionais para fazer esse trabalho. Pode ser que um profissional controle os dois grupos de um campo.

Quando será possível treinar o elenco como time e não apenas com atividades individuais?

Não sei. Isso é uma coisa meio prematura de falar agora, porque nós vamos depender muito da evolução desse vírus e daquilo que vai ter como programação para fazer. Está todo mundo iniciando o trabalho na perspectiva de que o futebol volte. Também não pode ter uma data e não estar ninguém preparado para voltar. Então, todo mundo está fazendo essa preparação para quando houver uma data prevista. Não acredito que o futebol volte em maio, então você tem que ter uma preparação em maio para, de repente, esse futebol voltar em junho ou julho. Você tem que ter essa preparação. Acho que essa preparação individualizada, com uma semana ou duas, talvez, depois você vai começando a acoplar. Ao invés de trabalhar três (jogadores) começam a trabalhar seis. Ao invés de quatro, começam a trabalhar oito juntos.

Além dos campos, outras dependências do CT serão usadas?

Não vai se usar vestiário. Vai ficar um vestiário com sanitário para caso algum jogador quiser ir, um menor, desinfetado, com todos aqueles cuidados. De resto, vai ser usada só a área aberta. O jogador vem com seu carro, vem sozinho, tem até um protocolo para que não chegue em grupo no carro, como se faz normalmente no treinamento, quando vem dois, três ou quatro num carro. O clube vai ceder material, o jogador vai levar esse material pra casa dele, lavar o material, desinfetar. Ele vai ter duas ou três trocas para que ele possa levar, treinar e usar outro material no dia seguinte. Para que haja o mínimo contato a princípio. Os jogadores ficariam responsáveis por seus uniformes, pela sua bola, viriam de carro sozinhos, treinariam e iriam embora. Não usariam as dependências do clube e há uma exigência que haja um acompanhamento de perto contra a covid-19.

Os atletas farão exames para identificar se estão com a covid-19?

Na chegada, os jogadores serão testados. Pelo menos um teste e, depois, na sequência, você monitora temperatura e alguns sintomas, mas semanalmente, talvez, você tenha que fazer uma checagem não só dele, mas também dos familiares, pra que você vá acompanhando etapas, até que seja liberado, talvez mais na frente, mais uns 15 dias espero, que seja liberado trabalhar o grupo um pouco mais junto, porque não adianta você ter uma retomada só na parte física, isso vai ser só uma preparação em cima desse longo período inativo que nós tivemos.

O custo para essa operacionalização é alto?

É um custo. O clube está tentando fazer com que a CBF ajude, com que alguma entidade ajude, mas está uma correria muito grande por isso, o mundo todo correndo atrás disso, atrás de testes, então tudo demanda tempo, negociação, valores. Imagina os clubes que não têm um grande investidor ou patrocinador. Se Flamengo, Palmeiras, Corinthians, São Paulo estão reclamando... É uma situação complicada para o Brasil todo e não é só para o futebol.

Você retorna para Salvador?

Só vou entrar na hora que o grupo começar a trabalhar ele todo, praticamente. Enquanto houver esse tipo de trabalho espaçado, só vão trabalhar preparadores físicos, fisiologistas e fisioterapeutas. E fisioterapeutas dentro da necessidade, será praticamente preparador físico e fisiologista somente. Quanto menos gente, melhor. Quanto menor o grupo, melhor. A princípio, não vai ter nenhum treino que vá necessitar a presença de um treinador ou auxiliar técnico, seria uma pessoa a mais ali, só para estar ali.

Com 71 anos, você faz parte do grupo de risco da covid-19. Isso pesa?

Tem algumas pessoas no grupo que fazem, mas não seria esse o caso. Se estivesse tudo liberado, eu tenho que levar minha vida, mas é que não há necessidade. Para que você vai se arriscar numa situação que você não vai participar de nada, vai estar só olhando? Para isso, fazem e me mandam vídeos. Eu acompanho e a gente está sempre se falando para ver a evolução das coisas.

Tem feito muitas reuniões com a diretoria e a comissão técnica?

A gente se fala. Dentro da necessidade, a gente se fala no privado e nós temos tido duas reuniões de videoconferência, semanalmente, para que a gente acerte os pontos. Nessa videoconferência, conversa todo mundo, Paulo (Carneiro), Alarcon (Pacheco), Mário Silva, Bruno Pivetti, Ednilson (Sena), Alexandre (Dortas), os médicos, treinador de goleiros. Uma turma grande. É um grupo grande, cada um dentro da sua área, opinando e trocando informações, conhecimento. Claro que, nesse momento, a palavra mais forte é a do presidente, que comanda tudo. Ele vai norteando e quem está tendo uma atividade muito importante nesse momento é o departamento médico e de fisiologia. E a preparação física, dentro daquilo que vai ser executado, que tipo de trabalho vai ser executado dentro da volta, até para confecção desses vídeos, para que se passe aos jogadores.

E com relação a orientações técnicas e táticas?

Estamos tentando fazer alguma coisa, mostrar algumas atividades que nós vínhamos fazendo, alguns vídeos de jogos, correção de posicionamento. Isso é mandado individualmente para os jogadores, com correções.  

Vê uma ansiedade dos jogadores com relação ao retorno dos treinos?

Sim. Todo mundo quer acabar com esse confinamento. Todo mundo quer voltar à normalidade, principalmente a gente que vivia nesse tipo de ambiente muito ativo. Existe de todos, mas há também o temor. Todo mundo tem medo. Às vezes não é medo dele, é medo de ele se infectar, voltar pra casa e infectar a família.

Em vídeo divulgado pela Federação Nacional de Atletas Profissionais (FENAPAF), alguns jogadores de clubes da Série A se manifestaram sobre o respeito das condições de trabalho. O que acha disso?

É o que os clubes têm tentado fazer nos protocolos. Por isso que esses protocolos também estão sendo passados para os jogadores. Acho que todo mundo quer segurança. Há uma ansiedade de volta, mas o jogador quer voltar com segurança, quer ter a garantia que quando chegar ele vai ser testado, que o local onde ele vai trabalhar vai estar desinfetado, que ele vai trabalhar num lugar arejado e fazer um trabalho que não o coloque em risco. É isso que nós estamos tentando fazer. Por isso que ninguém soltou a volta de maneira maluca. Está se tentando todos os cuidados para se minimizar ao máximo o risco de contágio. Acho que é isso que os jogadores querem, uma garantia. Querem voltar, mas protegidos. Agora, essa proteção vai depender da atitude de todos. Não adianta você passar um protocolo e o jogador não seguir. Nós estamos vivendo um momento em que a preocupação é geral.

O recomeço dos estaduais já foi discutido pelas federações e CBF. Dá pra voltar a ter futebol no Brasil?

Está tudo um pouco nebuloso ainda, porque nós não estamos num país em que as coisas estão correndo normais em todas as regiões. Uma região está com menos incidência que a outra. A gente está ouvindo sobre esse retorno na Bahia, mas você não ouve esse retorno em Pernambuco, Ceará, Maranhão, porque são estados onde a pandemia está com número elevado de casos. Está se falando muito por cima, mas é inviável um retorno no momento em São Paulo ou Rio de Janeiro, porque os números são muito altos. Então, é uma coisa um pouco nebulosa falar quando é que o futebol vai voltar, porque ele engloba tudo. Você pode voltar num ou outro estado e terminar o regional, mas e o resto? Não sei se é viável no momento a volta de um campeonato nacional, porque o Brasil ainda não está equilibrado dentro da pandemia. Vejo com pé atrás a volta por uma questão de saúde mesmo. Você pode se cuidar, mas você não sabe se quem está do seu lado vai ter os mesmos cuidados que você. A partir do momento que você vai executar uma atividade de grupos, você tem que ter cuidados, porque você está jogando é com a sua vida, você não está jogando com valor monetário, é com sua vida. Se der o azar de uma infecção, de repente corre um risco muito grande de morrer. Temos que te muito cuidado mesmo, não é pouca coisa. E acho que nós estamos numa situação indefinida. Não se tem um remédio, uma vacina, nada.