Genocídio brasileiro: roteiro

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  • Elieser Cesar

Publicado em 22 de junho de 2021 às 05:37

- Atualizado há um ano

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Mais de 500 mil mortos e quase 18 milhões de infectados pela covid – 19 no país. Medo, aflição, desespero, impotência, omissão, irresponsabilidade e negligência. Famílias enlutadas. O desespero por vagas nos leitos lotados das UTIs. A economia em frangalhos. A primeira, a segunda e o receio da terceira onda da voraz doença. O luto dos que perderam parentes e amigos. O alívio de quem conseguiu se curar. A negligência criminosa diante da falta de oxigênio em hospitais de Manaus. A estupidez obscurantista dos negacionistas. Ivermectina. Cloroquina. Tratamento precoce. A esperança científica das vacinas. O isolamento doméstico. Aglomerações nas ruas. A insensibilidade deletéria das baladas e paredões. Motociatas a favor de um governo que desdenhou a dimensão catastrófica da pandemia. Passeatas contra. A CPI da Covid.   Enfim, o triunfo da morte como no impactante quadro do pintor holandês renascentista Pieter Brueguel.

A pandemia do novo coronavírus oferece um roteiro diário ao cineasta que se dispuser a filmar um documentário sobre a atual tragédia brasileira. Ao invés de um único diretor, melhor seria que um grupo de diretores de cinema se unisse para fazer um filme coletivo, com equipes em cada estado brasileiro, mais o Distrito Federal, na preparação de um documentário que, sem dúvida, teria uma grande repercussão mundial e potencial para conquistar uma plateia indignada e perplexa em festivais internacionais de cinema. Mas isso não é o mais importante. O essencial é o registro dos fatos.

Um filme que passe para a história e ajude a compreender como tantas mortes foram possíveis, um réquiem para um Brasil paralisado pelo sofrimento e pela dor. Uma peça que sirva para demonstrar o que se fez e, sobretudo, o que se deixou de fazer para enfrentar a terrível pandemia. E que seja ao mesmo tempo a denúncia das milhares de mortes que poderiam ter sido evitadas e a celebração da vida que resiste, da resiliência em meio ao caos.

Sim, um documentário catártico como um choro longamente represado ou um sorriso que demorou a aflorar nos lábios. Depoimentos de políticos, governadores, cientistas e também dos heroicos profissionais da saúde que trabalham na linha de frente do combate à covid – 19. Reescrito a cada dia, o roteiro desse documentário está à procura de diretores, de um “pool” de cineastas que se juntem para mostrar como chegamos a tantas mortes e tanto sofrimento. Todo esse quadro dantesco diante da insensibilidade e da falta de compaixão de muitos que ainda tripudiam com a dor alheia e, ao negar a real dimensão da tragédia, se tornam cúmplice desse autêntico Genocídio Brasileiro. Para aqueles que se dedicaram a esta tarefa, urgente e humanitária, podem até faltar palavras, mas sobrarão imagens, de dor e sofrimento e também de superação e esperança. Mãos à obra.

Elieser Cesar é escritor e jornalista