'Gosto mais de ser auxiliar, mas não tenho medo de ser treinador', afirma Ricardo Silva 

Campeão em 2010, ex-técnico conta, em entrevista, como é estar de volta ao Vitória

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  • Daniela Leone

Publicado em 9 de fevereiro de 2022 às 13:28

- Atualizado há um ano

. Crédito: Pietro Carpi/EC Vitória

Ricardo Silva escreveu o nome na história do Vitória como técnico em 2010. Campeão baiano e da Copa do Nordeste, ele também levou o clube naquele ano à final da Copa do Brasil e perdeu a taça para o Santos de Neymar. Doze anos depois, está de volta à Toca do Leão como auxiliar técnico, função que já exerceu entre 2007 e 2009.  

Após ser demitido do cargo de treinador do Vitória, em agosto de 2010, Ricardo Silva comandou Asa de Arapiraca e enveredou por times pequenos da Bahia: Jacuipense, Galícia, Serrano, Jacobina, Botafogo, Atlântico e Jequié. Aos 62 anos e sem trabalhar desde 2018 até voltar ao rubro-negro este ano, ele bateu um papo exclusivo com o CORREIO.

Na entrevista a seguir, Ricardo conta o motivo de ter passado tanto tempo longe do futebol, como está se sentindo por retornar à Toca e revela quem o convidou para voltar ao clube. 

Como é estar de volta ao Vitória? Estou me sentindo muito bem, voltando a um clube no qual eu fui feliz, ganhei muitos títulos como auxiliar e treinador. Voltei feliz para uma nova etapa. Temos que esquecer o passado. Tenho uma história, mas esse é um recomeço. São novos jogadores e tenho que fazer uma nova história. O Vitória hoje está na Série C, mas é um clube de Série A e nós temos que trabalhar pra fazer um Vitória cada vez mais forte, com dedicação, humildade e competência.

Como está sendo a sua parceria com o técnico Dado Cavalcanti? O primeiro auxiliar é Pedro [Gama], que ele trouxe e fica com ele à beira do campo. Eu fico lá de cima com o radinho. Dado é o treinador e eu tenho que respeitar o treinador. Eu comunico alguma coisa pra ele que estou achando do jogo, uma marcação, mas algumas coisas não. É ele quem faz a substituição. Tem que respeitar o treinador. Eu já fui treinador também e sei que o respeito é importante. Tem que saber separar as coisas. E ele é um cara tranquilo, que dá espaço, é muito trabalhador. A equipe é muito boa e eu fico feliz de estar trabalhando com um treinador com o qual estou aprendendo também. 

Qual é a função que você gosta mais de exercer, auxiliar ou treinador? Eu gosto de ser auxiliar, mas não tenho medo de ser treinador. Como auxiliar, você ajuda muitos jogadores, principalmente da base, no Vitória, a crescerem. Como Elkeson, que subiu comigo, Wallace sempre conversa comigo. Os jogadores me agradecem. Adailton, Nadson, Allan Delon, Fernando, Xavier. Como treinador, a gente foca muito no geral, mas, como auxiliar, pode acabar um treino e trabalhar com aquele jogador, ver os defeitos dele. Como treinador você se preocupa muito com a equipe, forma de jogar, esquema tático. Eu gosto de ser auxiliar, mas nunca teria medo de ser treinador. Voltei ao Vitória para ser auxiliar, muito feliz. Como treinador, você pode fazer uma história no clube, como eu fiz no Vitória. Fui campeão baiano, do Nordeste e perdemos a final da Copa do Brasil para um time como o do Santos, em 2010. A gente fica na história como treinador, mas como auxiliar você fica na história do jogador. Eu gosto mais de ser auxiliar, mas não tenho medo nenhum de ser treinador.  

O ano de 2010 foi o melhor da sua carreira? Foi sim. Foi um ano bom. Os jogadores me ajudaram bastante. Eu lembro que nós perdemos o primeiro jogo da Copa do Brasil, para o Corinthians de Alagoas. A gente fez uma reunião depois do jogo e falamos que iríamos chegar à final da competição e chegamos. Infelizmente, pegamos um time que era muito bom, mas jogamos de igual para igual. Lá é que jogamos mal, mas eu fui sem Viáfara, Nino, Vanderson, Bida não estava num grande momento e teve um problema também com Júnior 'Diabo Loiro'. Esses jogadores fizeram falta lá. Futebol tem dessas coisas. Infelizmente não fomos campeões, mas ficamos na história. Agora é uma nova etapa. O que aconteceu em 2010 foi bom, foi ótimo, mas agora é nova etapa, nova vida em 2022. 

Por que você estava sem trabalhar desde 2018? Porque eu não aceitei convite. Alguns clubes me chamaram, mas somos só eu e minha esposa, pois meus filhos já são casados, e chega um momento da vida que a gente se preocupa com a família. Eu não sou mais aquele garoto. A gente já tem uma idade tranquila, bem vivida, então preferi não sair de Salvador. Apareceram propostas de Recife, Natal, até Manaus, mas, conversando com minha esposa, ela achou melhor não. Nossa vida não está estabilizada, mas está tranquila, e a gente sempre espera o melhor pra família. Tem clubes em que os diretores prometem muita coisa e não acontecem. Veja no Campeonato Baiano quantos treinadores já caíram. Pra se desgastar, é preferível ficar em casa, quanto mais tendo uma vida equilibrada. Eu aprendi uma vez com um médico judeu no Botafogo [na época em que era jogador] a guardar alguma coisa num momento em que eu estivesse ganhando um pouco mais. É por isso que eu não saio hoje para qualquer lugar e estou muito feliz por ter voltado ao Vitória. 

Quem te fez o convite para voltar ao Vitória? Quem me fez o convite foi Alexi Portela. Na época dele eu fui treinador, fui auxiliar. A gente teve boas passagens. Fui campeão da Copa do Nordeste com ele presidente. Tenho uma história bonita no Vitória. No Barradão eu só perdi seis jogos. Perdi para Fluminense, Bahia, Botafogo, Grêmio, Boa Esporte e do São Caetano. Fico feliz em ajudar a fazer um Vitória mais forte, sempre de degrau em degrau para chegar ao topo. 

O que os anos longe do clube te ensinaram? Me ensinaram a ter amor pela família, principalmente. Longe do Vitória eu vi que quem me acolheu muito mais foi minha família. Me ensinaram a gostar mais do Vitória, que foi o clube com o qual eu tive uma identidade maior. Já joguei no Bahia, não tenho nada contra o Bahia, mas tenho um carinho muito grande pelo Vitória e hoje eu sou torcedor do Vitória. Me ensinaram também que tudo passa na vida. Você tem que viver o momento, o dia a dia, não querer ser melhor que ninguém. Quem mais me adorava no Vitória eram os porteiros, o pessoal da cozinha. Um dia você pode estar no topo e outro dia não estar. Lutar sempre pelos objetivos, ter sempre esperança e fé em Deus. Eu sou devoto de Nossa Senhora Aparecida. 

Você participou da montagem do atual elenco? Eu não tive participação. O Vitória tem analista de mercado e de desempenho, além do Alex Brasil [diretor de futebol]. O clube agiu certo, porque se eu mando contratar um jogador e ele não resolve... O clube contratando por pessoas que já estavam lá, é melhor. 

Por que o Vitória não está fazendo uma boa campanha no Baiano? Eu acho que os times do interior que já tinham uma base, como Jacuipense e Bahia de Feira, estão um pouco na frente, começaram a treinar antes também. Pra pegar uma identidade leva um tempo. A gente sabe que ali é o nosso santuário [o Barradão]. A identidade vai pegando aos poucos. Os jogadores novos que chegaram têm que saber a história do clube. Nesse momento, não estamos bem, temos que ser realistas. Temos que melhorar, mas os jogadores estão se empenhando bastante para melhorar a performance. 

Qual o caminho para conseguir a classificação às semifinais do estadual? Sabemos que o Vitória no momento não está bem no campeonato, estamos em 6º lugar, não é o lugar que gostaríamos de estar nunca, mas temos ainda cinco jogos e temos que pensar primeiro em classificar. Queremos ser campeões? Queremos, claro, mas primeiro temos que pensar na classificação, porque em 2019, 2020 e 2021 o Vitória não classificou. Então, primeiro temos que pensar nessa classificação e depois em ser campeão. Temos cinco jogos, são 15 pontos, e a gente sabe que, nos últimos campeonatos, a média de classificação foi com 15 pontos. Temos que pensar sempre mais, mas subir de degrau em degrau, para depois lutar pelo título.