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Gabriel Moura
Publicado em 18 de maio de 2021 às 12:07
- Atualizado há 2 anos
Jucilene de Santana Juriti, de 23 anos, estava vivendo um dos momentos mais felizes da sua vida. Grávida pela terceira vez, ela esperava um menino, Alan Júlio, e já estava no sétimo mês de gestação, mas nesta segunda-feira (17) teve seus planos interrompidos. Ela aproveitava a tarde na porta de casa, ao lado de familiares, quando foi surpreendida por uma ação policial no bairro de São Tomé de Paripe, em Salvador.>
Jucilene nem teve tempo de correr. Por volta das 16h30, ela foi atingida por três tiros, um deles na barriga, que atingiu o útero e matou seu bebê. De acordo com o marido da vítima, Ângelo Oliveira, de 24 anos, a jovem sofreu lesões no rim, estômago e no baço, além de ter quebrado um braço. A jovem está internada em estado grave na UTI do Hospital do Subúrbio. Jucilene estava grávida de 7 meses (Foto: Acervo Pessoal) Jucilene estava na porta de casa ao lado da sogra e de seus outros dois filhos, de 3 e 5 anos. O mais novo estava sentado no colo da mãe quando ocorreram os disparos. Ele não foi atingido por muito pouco, mas ficou sujo com o sangue da mãe.>
Mesmo baleada, Jucilene ainda encontrou forças para pegar os dois filhos no colo e levá-los para dentro de casa. Só depois ela caiu e pediu ajuda. O policial militar, que segundo testemunhas foi o autor de todos os disparos que atingiram a gestante, prestou os primeiros socorros e levou a vítima até o Hospital do Subúrbio.>
"Os policiais estavam perseguindo um homem que estava correndo e foi se esconder no beco onde estava minha esposa, minha mãe e meus filhos. Eles viram que a rua estava cheia e mesmo assim efeturaram os disparos", relata Ângelo. Segundo ele, a rua do bairro estava movimentada na hora da ação.>
"Eu estou sem chão. A gente já tinha preparado tudo para o nosso filho. Compramos fralda, enxoval, berço. Só Deus que está me segurando, pois estou sem força. Ainda não consegui entender direito o que estava acontecendo", conta o marido. Ângelo cobra justiça (Foto: Marina Silva / CORREIO) Caseira O casal Ângelo e Jucilene é evangélico e tinha se casado há oito meses, apesar de já terem outros dois filhos. Essa terceira gravidez era planejada e muito aguardada por todos os familiares.>
Jucilene é conhecida por ser uma mulher tranquila, caseira e muito ligada à família. Durante a pandemia, ela evitava até sair para a casa da mãe por medo do coronavírus.>
"Estou desacreditada de tudo. Isso está se tornando banalidade. Eu entendo que a bandidagem está grande e que eles não recebem a polícia com flores. Mas os policiais precisam ter treinamento. Eles não podem sair atirando à esmo num bairro em plena luz do dia", desabafa a mãe da jovem, Eliene Assis de Santana, de 42 anos.>
Eliene tem problemas de hipertensão e ao chegar no hospital para visitar a filha, precisou ser atendida também pois passou mal.>
Ela chegou a conversar com o policial autor dos disparos e ele contou que também é pai e que está colocando a cara à tapa para tentar salvar a vida de Jucilene.>
Eliene cobrou alguma atitude do governador Rui Costa e o secretário de Segurança Ricardo Mandarino. "Quantas filhas, mães e crianças inocentes vão precisar morrer antes que alguém resolva esse problema? A gente vê acontecendo isso diariamente. Famílias sendo esfaceladas por conta de ações policiais", cobra.>
Protesto Por conta da ação, familiares, amigos e moradores da região realizaram um protesto na manhã desta terça-feira (18) cobrando justiça. O grupo fechou o trânsito da BA-528. Foto: Marina Silva / CORREIO Posicionamento da Polícia Militar Em nota, a Polícia Militar da Bahia informou que uma equipe da 19ª CIPM estava na Rua Adilson Ferreira, em Paripe, na tarde de segunda-feira (17), quando, de acordo com os policiais, se depararam com suspeitos que atiraram contra a guarnição.>
As testemunhas ouvidas pelo CORREIO, no entanto, negam que houve um confronto entre policiais e bandidos e que apenas as autoridades efetuaram disparos.>
A PM ainda informa que uma mulher grávida foi encontrada ferida e, em seguida, levada pelos policias para o Hospital do Subúrbio.>
A nota encerra dizendo que o caso será apurado pela Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), onde a ocorrência foi registrada. "A partir do resultado da perícia técnica, a PM adotará as medidas legais cabíveis", diz a corporação.>