Grupo que ameaça STF tem referência a massacre de Realengo no nome

Nome de incel condenado por terrorismo também é citado; PF investiga

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  • Da Redação

Publicado em 17 de fevereiro de 2020 às 20:23

- Atualizado há um ano

. Crédito: Tânia Rego/Agência Brasil

A célula terrorista que planeja um ataque a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), segundo investigação da Polícia Federal, é chamada de Unidade Realengo Marcelo do Valle, nome que faz referência ao Massacre de Realengo e a um condenado por terrorismo e outros crimes.

No Massacre de Realengo, em 2011, no Rio de Janeiro, um ex-aluno invadiu uma escola e matou doze estudantes. Já Marcelo Valle Silveira Mello, 34 anos, foi condenado pela Justiça Federal a 41 anos de prisão por vários crimes, incluindo terrorismo.

De acordo com a colunista Mônica Bergamo, da FOlha de S. Paulo, todos os ministros do STF foram alertados por Dias Toffoli, presidente da corte, sobre as ameaças. Eles foram orientados a reforçar a segurança. Segundo a PF, integrantes do grupo terrorista trocam mensagens com detalhes das rotinas dos ministros.

A organização não governamental Safernet, que atua pela defesa dos direitos humanos na internet, diz que o grupo deve ser levado a sério e tem ligação com incels - celibatários involutários. 

Os incels não têm relacionamentos sexuais e culpam mulheres e homens que têm vida sexual ativa pelas suas frustrações na vida. Altamente misóginos, costumam visar mulheres nos seus ataques. Incels foram influências apontadas nos ataques de Realengo e Suzano e têm forte presença on-line, com ameças à professora feminista Llola Aronovich, além de jornalistas.

Segundo reportagem do Uol, a Safernet e seus integrantes também foram ameaçados. A ONG diz que ao mesmo tempo em que os grupos on-line já demonstraram sua violência em vários casos, eles também "se nutrem da visiblidade para criar pânico".

Atentado e prisão Foi a Safernet quem fez o monitoramento que levou à primeira prisão de Marcelo Valle Silveira Mello, em 2012. Ao lado de Emerson Eduardo Rodrigues, ele teve prisão preventiva decretada por planejar atentado para matar alunos de Ciências Sociais na Universidade de Brasília (UnB). Condenados, foram soltos em seguida.

Fóruns comandados por Marcelo eram cheios de conteúdo de ódio contra mulheres, negros, judeus, nordestinos, pessoas LGBTQ+ e outras populações vulneráveis. 

Marcelo e Emerson disseram à polícia, quando foram presso, que foram procurados e orientaram Wellington Menezes de Oliveira, responsável pelo massacra de Realengo.

Emerson hoje vive na Espanha. Marcelo voltou à cadeia em 2018, condenado por terrorismo, associação criminosa, divulgação de imagens de pornografia infantil, racismo, incitação a crimes e coação no curso do processo. Ele continua preso e não fez delação contra comparsas.

Ameaças Para a Safernet, a prisão de Marcelo gerou revolta no grupo de incels brasileiros. As ameaças voltadas ao judiciário aumentaram, incluindo o juiz federal Marcos Josegrei da Silva, responsável pela sendença que condenou Marcelo. 

Para a ONG, o grupo também está por trás de um ataque ao ex-deputado federal baiano Jean Wyllys (PSOL), que renunciou ao mandato e hoje vive fora do país. "Eles mapearam qual o equipamento de raio-x que havia na Câmara dos Deputados para testar se um taco de beisebol passaria dentro de um tubo para carregar um banner", diz uma fonte ao Uol.

Até Marcelo ser preso, seu fórum ficava na internet comum, mas hoje continua funcionando na deep web.