Grupo realiza saques e ocupações em 13 fazendas vizinhas às de Geddel

Em uma das propriedades, invasores obrigaram esposa de caseiro a preparar comida

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  • Mario Bitencourt

Publicado em 2 de outubro de 2017 às 12:59

- Atualizado há um ano

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Um grupo cerca de 100 pessoas realizou neste domingo (1) novas ocupações e saques a fazendas vizinhas a do ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB), em Itapetinga, sudoeste da Bahia, e em Itaju do Colônia, cidade do sul do estado a 97 km de Itapetinga.

A região está sob tensão desde o dia 23 de setembro, quando a Fazenda Esmeralda, de propriedade de Geddel e familiares, localizada em Itapetinga, foi ocupada por índios que afirmam que a área é sagrada por haver nela cemitérios indígenas - argumento negado pela defesa dos Vieira Lima, que já pediu a reintegração de posse na Justiça.

De acordo com o Sindicato Rural das duas cidades, o grupo estava armado e levou diversos objetos de valor das propriedades, como TVs, rádios, celas, arreios, facas e facões, e fizeram de reféns os funcionários das propriedades. 

Em Itapetinga, foram oito fazendas ocupadas e cinco em Itaju do Colônia, onde em 2012 o Supremo Tribunal Federal (STF) julgou como de habitação tradicional de índios da etnia Pataxó Hã-hã-hãe uma área de 54 mil hectares. 

Para dificultar o acesso às fazendas, o grupo colocou no meio da estrada um caminhão quebrado. Em Itapetinga, a ação ocorreu no povoado de Palmares, para onde a Polícia Militar informou que enviou viaturas nesta segunda (2).  Tiros Funcionários das fazendas foram mantidos sob o poder dos invasores durante todo o domingo – a ação ocorreu durante o dia. Em uma das propriedades, eles obrigaram a esposa do caseiro a preparar comida.

Em outra, por volta das 23h, foram ouvidos diversos disparos de tiros, não se sabe ainda se foram disparados para o alto, como forma de intimidação, ou se houve algum confronto.

Ainda não há a confirmação se o grupo que invadiu as propriedades é de indígenas ou sem terras. A Polícia Civil informou que já está acompanhando o caso e que até as 9h não tinha informações de pessoas feridas.

“Estamos recebendo os fazendeiros e ouvindo as queixas ainda, só teremos um balanço geral ao final do dia”, afirmou o delegado Antonio Roberto Júnior, da delegacia de Itapetinga.

O presidente do Sindicato Rural de Itapetinga Eder Rezende afirmou que a situação está tensa na região e que há a possibilidade de confronto. Ele e o prefeito de Itapetinga Rodrigo Hagge (PMDB) estarão em audiência no Ministério da Justiça nesta terça-feira (3) para pedir auxílio na resolução do conflito. Eles querem também apoio da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

“Infelizmente, ocorreu o que estávamos prevendo durante a semana passada, quando dissemos que, pelas informações que tivemos, que a invasão da fazenda de Geddel não se tratava de apenas uma ação política. O que ocorreu neste final de semana foi tudo muito bem organizado. O que estamos vivendo é um estado de terror”, comentou Eder Rezende.  Fora da área Um dos fazendeiros que teve a propriedade ocupada neste final de semana é José Elias Júnior, dono da Fazenda Santo Antonio, de 800 hectares, na zona rural de Itaju do Colônia. Um grupo de 70 índios está nas fazendas, segundo ele.

“Os índios disseram que estão fazendo uma retomada, porém nenhuma dessas fazendas está dentro da área delimitada pelo STF em 2012. Em frente a porta da minha fazenda, por exemplo, tem uma placa indicativa da reserva, informando os limites. Nunca tinha tido problemas com índios”, ele disse.

O fazendeiro relatou que os índios estavam armados com espingardas, porém não fizeram reféns os funcionários, “pediram apenas que saíssem da fazenda”. “Estou prestando uma queixa coletiva na manhã desta segunda-feira em Itabuna, para que possamos dar entrada nos pedidos formais de resolução do problema. Todos achavam que na região não ia ter mais problema com índios depois da demarcação de 2012. É uma situação muito lamentável”, declarou.

Nesta segunda-feira, o deputado estadual Eduardo Salles, do PP, divulgou uma nota, afirmando que, “como presidente da Comissão de Agricultura da Assembleia Legislativa da Bahia, ressalto minha indignação com essa situação e vou batalhar em várias instâncias dos governos federal e estadual para que o estado de direito dos produtores seja preservado”.