Grupo se reúne com PM baiana pra discutir o fim de abordagens violentas

Movimento AR propõe extinção de técnicas de sufocamentos e disparos com arma de fogo em abordagens policiais

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  • Vinicius Nascimento

Publicado em 27 de janeiro de 2021 às 21:36

- Atualizado há um ano

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Representantes da Universidade Zumbi dos Palmares se reuniram com parte da cúpula da Polícia Militar do Estado da Bahia nesta quarta (27) para discutir e apresentar as propostas do Movimento Ações Concretas por Vidas Negras (Movimento AR), um plano de ações práticas para o combate ao preconceito e à discriminação racial contra negros. 

O Manifesto conta com 10 medidas e uma delas -a de número 2- propõe, justamente, a mudança dos protocolos policiais para impedir técnicas de sufocamento e estrangulamento em abordagens policiais, bem como, disparos letais de arma de fogo em abordagens, ou disparos de arma de fogo em invasões, ocupações, favelas e comunidades. É objetivo do Movimento transformar esse ponto em lei, de forma que sejam proibidas abordagens dessa maneira.

A reunião aconteceu na sede da Universidade Zumbi dos Palmares, em São Paulo e também teve participação da PM de São Paulo, representada pelo Cel.Evanilson Souza, Cel. Mário Filho e o Capitão Ciampone.

A PM baiana foi representada pela Capitão Thaís Ramos Trindade, Cap. PMBA Elma Pimentel do Carmo, Cap. PMBA Silvio Conceição do Rosário, Cap. PMBA Jalba Santiago dos Santos Segundo. A Reunião ainda contou com Elizeu Soares Lopes, ouvidor da polícia de São Paulo e seu assessor, José Alberto Saraiva Fernandes.

Líder do Movimento AR, José Vicente disse que a recepção da PM não poderia ter sido melhor e que esse momento é simbólico porque Universidades e Polícias "são como água e óleo, não costumam se misturar". De acordo com José VIcente, foi importante que essa iniciativa acontecesse porque os dois lados se ouviram e discutiram maneiras de transformar para melhor a vida de pessoas negras.

Ainda de acordo com José Vicente, outros encontros acontecerão para discutir de que maneiras o Movimento pode ajudar a polícia a preservar e respeitar vidas em seus territórios de atuação. O reitor aponta que outras reuniões devem acontecer nas próximas semanas.

Ao CORREIO, a PM afirmou que o encontro na Universidade Zumbi dos Palmares foi uma visita de cortesia que fez parte de uma série de encontros promovidos por representantes do Nafro (Núcleo de Religião de Matriz Africana) da PM da Bahia em São Paulo. De acordo com a PM, o encontro na universidade não constava da programação original da comitiva do Nafro, mas foi incluída a pedido do professor José Vicente. Ainda de acordo com a corporação, o manifesto foi apresentado pelo reitor, mas não houve debate ou concordância por parte dos oficiais das polícias presentes.

Os integrantes do Nafro tiveram reuniões com o comando da Polícia Militar de São Paulo para trocar experiências sobre o trabalho realizado na corporação na Bahia para a promoção da diversidade e também se reuniram com deputados estaduais para tratar do tema.

A série de encontros foi organizada pela Ouvidoria da Polícia como parte do trabalho de promover o combate ao racismo e a todas as formas de preconceito nas forças de segurança de São Paulo. A comitiva do Nafro esteve em São Paulo entre os dias 21 e 28 de janeiro. A programação foi elaborada para que os oficiais da polícia baiana pudessem apresentar seu trabalho a oficiais da polícia paulista que atuam na promoção dos direitos humanos na corporação e também a religiosos ligados a religiões de matriz africana em São Paulo.

O Manifesto - Ações e estratégias: 01. COTAS NAS UNIVERSIDADES E CONCURSOS PÚBLICOS Manter, intensificar, impulsionar e fortalecer as políticas afirmativas de inclusão de negros no ambiente universitário e nos concursos públicos, como forma de combater o racismo estrutural no ambiente público. 

02.MUDANÇAS DOS PROTOCOLOS POLICIAIS Para impedir técnicas de sufocamento e estrangulamento em abordagens policiais, bem como, disparos letais de arma de fogo em abordagens, ou disparos de arma de fogo em invasões, ocupações, favelas e comunidades.

03.MUDANÇAS NOS PROTOCOLOS DE SEGURANÇA PRIVADA Para acabar com a hostilização, perseguição, abordagens e constrangimentos nos ambientes públicos e privados, promovidos por esses agentes, especialmente, shoppings, bancos e supermercados.

04.CRIAÇÃO DE 500 MIL BOLSAS DE ESTUDOS Para qualificação de jovens negros em graduação, pós-graduação, iniciação científica, formação tecnológica, economia criativa, negócios e empreendedorismo.

05. CRIAÇÃO DE 300 MIL VAGAS De estágios, trainees e profissionais negros nas empresas públicas e privadas.

06. PROMOÇÃO DA DIVERSIDADE RACIAL EMPRESARIAL Por meio de metodologia de implantação, gestão, gerenciamento da inclusão, carreira, ações e políticas de diversidade racial em 300 empresas públicas e privadas. Criação de Índice de Igualdade Racial Corporativo, de Premiação das Melhores Empresas da Diversidade, de Market Place e ação de protagonismo comercial para promoção e fortalecimento do empreendedorismo negro. Formação de um milhão de quadros corporativos em Racismo, Discriminação e Diversidade Racial Corporativa.

07.R$300 MILHÕES DE COMPRAS CORPORATIVAS Do ambiente público e privado, de serviços e produtos de empresas e de empresários e profissionais negros.

08.FUNDO VIDAS NEGRAS IMPORTAM DE R$200 MILHÕES Para fomento, apoio e financiamento educacional, empreendedorismo, tecnológico e de economia cultural criativa para jovens negros.

09. LEI DA HISTÓRIA DO NEGRO E MEMÓRIA NEGRA  Implementação integral da Lei da História do Negro em todas escolas públicas e privadas. Instalação de bustos, estátuas e quadros que prestem homenagem a figuras importantes da cultura negra. Instalação da Rua Zumbi dos Palmares e Nacionalização da Virada da Consciência negra.

10. NEGROS NA POLÍTICA, JUSTIÇA E COMUNICAÇÃO. Como maneira de combater o racismo estrutural e garantir presença igualitária nesses ambientes estatais, bem como, incluir e fortalecer o discurso da igualdade racial, além de ampliar a presença de negros na comunicação.