Há muitos anos não de emociono ao ouvir um concerto, mas isso mudou quando ouvi a Neojibá

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  • Da Redação

Publicado em 18 de julho de 2021 às 14:03

- Atualizado há um ano

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Caros amigo/as que me lêem, confesso que com a idade e o passar do tempo, nessa longa relação que travo com a música como amador e como profissional, noto que venho perdendo um pouco do encanto e mesmo o interesse pelo resultado  que ouço nas gravações e vídeos de artistas , virtuoses, regentes consagrados ou não, e orquestras que vão das mitológicas às excelentes ou medíocres. Foi-se também o fascínio pelas obras, das mais às menos famosas, executadas de forma automática ou querendo sobretudo alcançar o maior efeito possível frente a um público ávido de novidades e de eventos espetaculares. Há muitos anos não de emociono ao ouvir um concerto, não termino um vídeo abalado com o que vi e ouvi.

Mas isso mudou neste últimos dias: no youtube pude ouvir uma série de concertos da Orquestra Neojibá da Bahia, sob a direção de Ricardo Castro, um deles tendo Martha Argerich como solista de um incrível Concerto para piano e Orquestra de Schumann, durante um tour que a Orquestra fez pela Europa. Sempre achei que Ricardo Castro fosse um músico privilegiado. O que descobri, no entanto,é que se trata de uma figura única na história do Brasil musical, pelo menos nos mais de 65 anos em que participo ativamente dela. Como pianista, Ricardo é um dos melhores instrumentistas do país. Não só pela técnica fácil e natural, como também pela seriedade evidente conhecimento musical e domínio do texto.

 Como regente, Ricardo é um fenômeno. Gestos contidos, exclusivamente dirigidos ao discurso musical, sem exageros nem histrionismo.  Não é exagero dizer que Ricardo é hoje o regente mais interessante do Brasil. Mereceria uma carreira internacional. Fico tocado ao saber que se trata fundamentalmente de um regente autodidata que aprendeu observando e criando o seu próprio grupo. E que grupo !!!! A Orquestra Neojibá é um fenômeno que, talvez por estar fora do circuito Rio- São Paulo, não recebe a atenção que merece e que seria importante que recebesse. Tanto Ricardo como sua Orquestra têm sido  celebrados mais na Europa do que no Brasil. Isso não é novidade num país com o Ministério da Cultura que tem. Mas aqui temos  um fenômeno único no mundo. A Orquestra Neojibá começa por ser um dos projetos sociais mais bem realizados de que jamais tive notícia. Formada por meninos baianos de todas as proveniências, é de uma beleza fascinante.

Afirmo aqui, sem titubear, que não há no mundo uma orquestra que se compare em beleza e originalidade ao conjunto baiano que Ricardo criou. Criou do zero, do inexistente, com ajuda de administradores sensíveis, num terreno teoricamente inóspito para tais iniciativas e que só deu certo pela inteligência de incorporar a linguagem da Bahia num projeto internacional. Tanto quanto a beleza, me abalou a qualidade da Orquestra principal. Porque há mais de uma Orquestra no Projeto: centenas de jovens   músicos participam de diversas orquestra pelo interior do Estado,  que de outra maneira não teriam ( mesmo ) a oportunidade de participar de um projeto de ponta internacional. Mas a qualidade da Oquestra principal: segundo o que ouvi, inacreditavelmente, a qualidade não fica atrás de nenhuma orquestra brasileira, e é melhor do quase todas elas.

Sobretudo, toca com um entusiasmo e alegria, uma rendição física, uma energia, uma atenção, uma disciplina que nunca encontrei até hoje nas minhas andanças por este país e pelo mundo. E isso se deve certamente e sobretudo à dedicação e ao trabalho de Ricardo Castro, que merece todas as honrarias e reconhecimento possíveis de um país que aparentemente não sabe que aqui mesmo, num dos pontos turísticos mais importantes do Brasil, há um projeto que merece no mínimo o reconhecimento que se dá a um time ou seleção de futebol, se não mais.

É fundamental que vocês ouçam, se encantem, conheçam, divulguem e admirem a Orquestra Neojibá da Bahia. Espantem-se como eu me espantei.

Texto originalmente publicado no Facebook e replicado aqui com autorização do autor.