História, estórias e gentileza

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  • Da Redação

Publicado em 22 de dezembro de 2021 às 05:00

- Atualizado há um ano

Ainda quando estudante de arquitetura, fui apresentado ao professor Cid Teixeira, a ocasião presidindo a Fundação Gregório de Matos. Eu pesquisava sobre a Ladeira da Misericórdia, uma de nossas primeiras ladeiras.

Ele olhou para mim, me perguntou o que achava sobre um determinado artigo.  Respondi, e ele apenas sorriu me deu o endereço de seu arquivo e se colocou a disposição para o que eu precisasse. Das primeiras consultas a visitas ocasionais a seu escritório, foi um passo.

Cid era assim, disposto e aberto, agregador e gentil com todos os que procuravam. Não via a história como algo fechado, ao contrário, estava firmemente disposto a compartilhá-la. Hoje, vejo o quanto isso foi uma referência para mim como pesquisador de história da cidade.

Nada nessas consultas era dissociado do elemento social; da boa conversa e das maravilhosas estórias que ele nos narrava como espectador de uma história tão diversa quanto a nossa história da Bahia. Sua memória e proficiência notáveis, permitiam que entremeasse história com estórias fascinantes, hora como testemunha viva, hora como excelente pesquisador, e dessa forma nos fazia entender o que a história estava muito mais próxima de nós do que imaginávamos. 

Outra coisa chamava a atenção – A diversidade de pessoas que o procuravam para uma diversidade ainda maior de assuntos que ou dominava ou sabia a quem recomendar. 

De alguma forma, me parece que todos nós, baianos fomos alunos do professor Cid, ou por convivência, ou em razão de uma palestra, uma locução de um fato histórico ou mesmo em uma pequena conversa de minutos, pois ele sempre estava disponível a dividir conhecimento, algo novo sempre surgia e era sempre aberto, fazendo com nosso interesse crescesse e assim criássemos laços ou conexões com outros pesquisadores, que sempre se sobrepunham nas visitas.  

Cid José Teixeira Cavalcante (1924-2021) era formado em direito pela Universidade Federal da Bahia, já foi radialista e jornalista, e desde cedo se embrenhou nos caminhos da docência e da pesquisa histórica, sendo inclusive funcionário do IGH-Ba. Foi presidente da Fundação gregório de Matos e desde 1993, ocupava a cadeira de número 19. Foi condecorado com a medalha Tomé de Sousa, em 1992 e com a comenda 2 de julho. Publicou inúmeros artigos, diversos livros e incentivou incontáveis outros.

Para além disso, sempre centrou a sua atenção nas pessoas, despertou e iluminou tantos nos caminhos da história, no exemplo de que a erudição não prescinde da gentiliza e da cordialidade. Ao contrário dos ídolos distantes, se manteve próximo e agregador e assim multiplicou diversas vezes o seu exemplo nos fazendo melhores conhecedores de nosso passado. 

A ele, o nosso agradecimento pela alegria e o privilégio de conhecê-lo.

*Ernesto Carvalho (@ernestodecarvalho45) é Arquiteto e Urbanista, Mestre em conservação e restauração e Doutor em Urbanismo pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Bahia.