Historiadores falam sobre preservação do Dois de Julho; assista

Programa transmitido ao vivo pelo Instagram do CORREIO teve as participações dos historiadores Rafael Dantas e Marianna Farias

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  • Da Redação

Publicado em 2 de julho de 2021 às 11:51

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

Não teve desfile, mais uma vez, mas a história do Dois de Julho, o feriado que celebra a Independência do Brasil na Bahia, foi o tema de um programa especial transmitido ao vivo pelo CORREIO nesta sexta-feira (2), através do Instagram. O programa contou com a participação dos historiadores Rafael Dantas e Marianna Farias e abordou questões como a história da guerra de Independência em pontos de Salvador, como Pirajá e a hoje Avenida Joana Angélica, as memórias afetivas dos baianos sobre a festa e a importância dos personagens marcantes da resistência baiana, a exemplo de Maria Quitéria de Jesus. De casa, Jorge Gauthier ancorou o programa ao vivo que ficou no ar por mais de duas horas  (Foto: Acervo Pessoal) A apresentação foi feita pelos jornalistas Clarissa Pacheco e Jorge Gauthier e a transmissão também teve a participação dos repórteres Gil Santos e Wendel de Novais, que estiveram no Largo da Lapinha e no Panteão da Liberdade, em Pirajá, respectivamente, além de internautas, com perguntas e participações em vídeo. Clarissa Pacheco, que é jornalista e mestranda em História, também apresentou o programa de casa (Foto: Acervo Pessoal) Em toda a história do Dois de Julho, este é segundo ano em que o cortejo não segue pelas ruas do Centro de Salvador, da Lapinha até o Campo Grande, por conta das restrições de circulação e aglomeração de pessoas impostas pela pandemia no Sars-CoV-2, o coronavírus. Também pelo segundo ano consecutivo, o CORREIO promove conversas com historiadores para discutir as memórias e a história da Independência.

Nesta sexta-feira, o bate-papo começou por volta das 8h com o historiador e professor Rafael Dantas, que pesquisa a iconografia de Salvador nos séculos XIX e XX. Rafael falou sobre pontos importantes de Salvador para a guerra, como a região de Pirajá, que ficava nos arredores, e as imediações do Forte de São Pedro e o antigo Convento da Lapa, onde foi morta a freira Joana Angélica ao tentar impedir a entrada de soldados portugueses no local. Rafael Dantas estuda a iconografia de Salvador nos séculos XIX e XX e fala sobre as transformações da cidade (Foto: Acervo Pessoal) “Quando a gente pensa na cidade do Salvador nesse período, nós temos uma cidade muito restrita ao que a gente tem hoje como Centro da cidade e redondezas. Não é que as áreas além desse limite não eram ocupadas. Tinham vários engenhos espalhados e Cid Teixeira fala que as ruínas desses engenhos foram usados nas batalhas de 1822 e 1823. Pirajá era relativamente distante desse núcleo central de Salvador, mas era uma zona importante no trânsito de mercadorias, de pessoas. Então, as campinas de Pirajá estavam bem-posicionadas e as ruínas desses engenhos foram abrigo para as tropas brasileiras que combateram contra os portugueses em novembro e 1822”, disse Rafael, ao responder à pergunta de uma moradora do bairro.O pesquisador também destacou a participação popular na festa e lembrou que, com o passar das décadas, as comemorações sofreram transformações, mas nunca deixaram de existir – mesmo nestes dois últimos anos, que não registraram desfiles, mas tiveram as celebrações cívicas e contam com programação online diversificada. Para Rafael, contudo, é preciso estimular os mais jovens a frequentarem a festa, assim que for possível, para que não se perca essa relação mais próxima e até afetiva dos baianos com o Dois de Julho.

Cerimônia Do Largo da Lapinha, o repórter Gil Santos mostrou a cerimônia de hasteamento das bandeiras do Brasil, Bahia, Salvador e do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB) e o acendimento da pira que, este ano, aconteceu na Lapinha. O ato contou com as presenças do governador do estado, Rui Costa (PT), do prefeito de Salvador, Bruno Reis (DEM), do presidente da Assembleia Legislativa da Bahia (Alba), Adolfo Menezes (PSD), e do presidente do IGHB, Eduardo Morais de Castro. O repórter Gil Santos cobriu a cerimônia cívica oficial no Largo da Lapinha e também participou do programa (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Após o hasteamento das bandeiras, a técnica de enfermagem Arlene dos Santos e o enfermeiro Helder Martins, funcionários de Unidades Básicas de Saúde de (UBS) de Salvador e que estão trabalhando na vacinação contra a covid-19, acenderam o Fogo Simbólico, este ano batizado de Chama da Esperança.

Debaixo de chuva, poucas pessoas compareceram ao local, mas os carros do Caboclo e da Cabocla permaneceram do lado de fora do Pavilhão 2 de Julho, na Lapinha, até a metade da manhã.

Se na Lapinha ainda aconteceu alguma movimentação, o Panteão da Liberdade, onde fica o túmulo do General Pedro Labatut, em Pirajá, permaneceu vazio. O repórter Wendel de Novais acompanhou a transmissão de lá desde o início da manhã e conversou com poucos moradores que passavam por lá a caminho do trabalho – movimentação bastante diferente da vista todos os anos no dia 1º de julho, já que é de lá que partem as comemorações. O repórter Wendel de Novais acompanhou a transmissão do Panteão da Liberdade, em Pirajá (Foto: Acervo Pessoal) Heróis e heroínas Pesquisadora da construção da memória histórica de Maria Quitéria de Jesus ao longo dos séculos XIX, XX e XXI, a historiadora e mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em História da UFBA Marianna Farias foi a segunda convidada do programa e falou sobre a participação das mulheres na guerra de Independência e, é claro, sobre a história de Maria Quitéria no conflito – ela fugiu de casa, se vestiu como homem e entrou na guerra como Soldado Medeiros, até ser de fato aceita como mulher por conta de sua destreza no uso de armas, pontaria e montaria.

“Depois de descoberta pelo pai, ela contraria ele e decide ficar e sabe-se que ela entrou três vezes em combate: primeiro na Ilha de Maré, depois na Batalha do Pirajá e também na Barra do Paraguaçu, no Recôncavo. Ela tem uma atuação política protagonista nessa guerra também”, afirma Marianna.

Ela também respondeu a perguntas de internautas sobre outras mulheres na guerra, como Joana Angélica e Maria Felipa, e destacou que, mesmo que não usando armas de fogo, elas também foram importantes e tinham suas 'armas' em combate. Marianna Farias estuda a construção da memória histórica de Maria Quitéria (Foto: Acervo Pessoal) “É bom que haja cada vez mais engajamento, que as pessoas perguntem por Maria Felipa, pelas outras mulheres. Maria Quitéria entra para a história regional de forma muito mais cara. Quando o Exército Pacificador entra, Maria Quitéria, se conta, também é muito ovacionada pela população em festa, a população já sabia dela, a imprensa também denota elogios muito patrióticos a Maria Quitéria, acho que por isso que ela tem uma importância já consolidada na Bahia, por ter se apresentado com destaque logo após o findar da guerra”, afirma.Participações Além dos dois historiadores, o programa também teve a participação de leitores como Jamile Coelho, desenvolvedora do aplicativo Dois de Julho GO, lançado oficialmente nesta sexta-feira e que usa realidade aumentada para contar a história do Dois Julho com os Caboclos e com Maria Felipa. O app está disponível para download para os sistemas Android e iOS.

Também participou da programa ao vivo o ilustrador Daniel Soto, criador do projeto Cartazes Julhienses, que espalha cartazes com ilustrações de heróis e heroínas do Dois de Julho pelas paredes da cidade. O projeto contou com financiamento coletivo para a produção deste ano por meio do Catarse. Conheça o projeto também no Instagram @julhienses.

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